Não há como falar sobre a história de resistência das crenças afro-brasileiras no Brasil sem citar nomes como Mãe Menininha do Gantois e Mãe Stella de Oxóssi. Dois grandes nomes do axé da Bahia que contribuíram para o empoderamento do matriarcado na religião com a disseminação do conhecimento, defesa e valorização das tradições do axé.
O sagrado do Candomblé e da Umbanda conta com uma forte representação feminina. Iansã, Orixá que controla os ventos, também é conhecida por ser uma guerreira valente. Diz uma das suas lendas mais famosas que Oyá, como também é chamada, lutou para que as mulheres também pudessem reinar. Ela ao lado de Oxum, Iemanjá e Nanã, por exemplo, são mães e chefes de egrégoras espirituais de terreiros e médiuns, incluindo médiuns homens.
Outra figura histórica que se destaca na tradição é a Preta-Velha Maria Conga. Filha de um rei africano, foi trazida ao Brasil através de um navio negreiro, desembarcando na Bahia. Maria foi vendida para um senhor de engenho de Magé-RJ aos 18 anos e seis anos depois a um conde. Ao conquistar sua alforria com 35 anos de idade, fundou o Quilombo Maria Conga em Magé, que acolhia os negros fugidos das senzalas.
Faça uma agenda e visite os terreiros da sua cidade. É bem provável que notará o número expressivo de Mães de Santo. Diferente de outras religiões, a mulher assume o protagonismo das religiões afro-brasileiras. São elas líderes da casa ou parte da liderança com cargos de confiança como de mãe pequena e responsabilidade sobre a cozinha e a criação dos filhos iniciados. Todas chamadas de mães.
No último domingo, 09, foi realizada a terceira edição do Axé Mulher na Zona Oeste do Rio. O movimento busca valorizar artistas e vozes femininas que destacam seus trabalhos e ações com a cultura do sagrado das tradições de terreiro. Lá estiveram presentes dois exemplos de cantoras que escolheram louvar a resistência da sua fé, Pris Mariano da dupla Rosa Amarela e Juliana D Passos, que veio direto de Santa Catarina.
Para a idealizadora do projeto, Mãe Manu da Oxum, as mulheres sofrem discriminação pela religião e por serem mulheres no comando de uma religião. ‘’Nós mulheres e nós mulheres de axé precisamos nos unir cada vez mais para nos protegermos do machismo e da violência. Por sermos muitas mulheres na direção de casas de santo somos discriminadas, o que acontece também no mercado de trabalho. Acham que não somos capazes, mas somos e a resistência é a prova’’, afirmou a sacerdotisa.
Em janeiro, no dia 21, o Brasil reconhece a data de combate à intolerância religiosa, uma homenagem à Mãe Gilda de Ogum, que infartou e faleceu após sucessivos casos de preconceito contra o seu terreiro e a sua imagem. A resistência feminina está na raiz dos terreiros. Entrou, reverenciará uma liderança ou divindade mulher. Seus nomes estão na história, nos fundamentos e na resistência.