Alexandre Freitas: o que a Globo não te conta

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No domingo do dia 1º de março, o Fantástico fez uma reportagem sobre a marginalização das mulheres transsexuais presas.



Drauzio Varella, médico que realiza trabalho voluntário em penitenciárias, apresentou a “ala das trans”, onde entrevistou algumas pessoas, entre elas Suzy de Oliveira. Suzy não foi questionada do porquê ter sido presa. Drauzio perguntou à presidiária há quanto tempo não recebia visitas, ela respondeu “entre 7 e 8 anos”. Após ter pintado a figura de abandono da prisioneira, o médico perguntou se poderia abraçá-la. Surpresa, a condenada disse: “nossa, nunca me pediram isso!”. Não era à toa.

O Brasil é um país de notória impunidade. É comum uma pessoa ser condenada a 10 anos de prisão e sair com 3 e meio. Isso me fez estranhar, na hora, o fato da condenada estar presa há, pelo menos, 8 anos. Nesse momento, para mim, a reportagem tinha se tornado aquele tupperware da geladeira, que já manifestava cheiro duvidoso. Era só abrir a tampa para o negócio feder de vez.

O Antagonista confirmou que Suzy de Oliveira, batizada como Rafael Tadeu de Oliveira dos Santos, está presa desde 2010 por ter estuprado, assassinado e ocultado o corpo de uma criança de 9 anos de idade. A assassina e estupradora sabia os horários em que o menino ficava sozinho em casa, pois era sua vizinha. Esperou a mãe sair de casa, invadiu a residência, cometeu todo o seu repertório de crueldades. Suzy ocultou o corpo e, quando já apresentava estágios de decomposição, deixou ele na porta da casa da mãe, que vê hoje com indignação a pessoa que destruiu sua vida receber centenas de cartas de apoio e acalento.

A vileza de Suzy não para por aí: foi acusada de abusar de uma criança de 3 anos, flagrada tentando estuprar o próprio sobrinho de 5 anos e praticava roubo a mão armada. A rejeição da família foi tanta que a própria mãe depôs contra Suzy.

A sociedade exigiu manifestação da Rede Globo, que disse não ter informado tamanha monstruosidade da condenada por “esse não ser o objetivo da reportagem”, e de Drauzio, que não quis se desculpar, dizendo ser “médico e não juiz”. Não sei vocês, mas eu não vou ao médico para ser abraçado.



Para falar a verdade, eu não coloco a mão no fogo pela declaração de Drauzio Varella. Há 2 anos e meio o médico escreveu um artigo para a Folha com o seguinte título: “Estupradores despertam em mim ímpetos de violência, a custo contidos”. No texto em que o doutor expõe toda a monstruosidade dos estupradores, chega a dizer que “O estuprador pratica um crime hediondo que não merece condescendência e exige punição exemplar. Uma sociedade que cala diante de tamanha violência é negligente e covarde.”.

Ainda que Drauzio tenha virado sua opinião do avesso e trocou a “punição exemplar” de estupradores por abraço piedoso, não é questão de julgamento, mas de exercício da empatia, tanto com as trans que são vítimas REAIS de abandono e marginalização quanto às vítimas de agressores e predadores sexuais. Ainda que óbvio, vale lembrar que para exercer a empatia a magistratura não é requisito.

A Rede Globo, por sua vez, foi irresponsável em ter apresentado uma pessoa que foi abandonada por amigos e família por ser pedófila e estupradora, e ignorar as reais vítimas dessa marginalização.

O médico e, principalmente, a emissora falharam de forma grave ao tentar passar uma imagem falsa da condenada. É triste ver que ambos seguem insistindo no erro que cometeram. Errar é humano, reconhecer os desacertos e pedir desculpas é sinal de caráter e humildade.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Meus parabéns pelo artigo. Mas o que aconteceu pode ser explicado. A sociedade mundial se tornou extremamente materialista de 50 anos até o prezado momento. Mas infelizmente a sociedade brasileira foi uma que mais ficou materialista no atual contexto mundial. No Brasil se faz qualquer coisa por dinheiro. Por isto somos umas das sociedades mais corruptas do mundo.

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