Álvaro Rossi: A fuga de cérebros no cenário carioca

Como não perder nossos melhores talentos?

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Vista aérea dos bairros de Copacabana, Leme e Urca, todos na Zona Sul do Rio de Janeiro - Foto: Rafa Pereira/Diário do Rio

O clima despojado e descontraído da capital carioca pode até não revelar num primeiro momento, mas o Rio de Janeiro é uma das capitais mais intelectuais do Brasil. Se engana quem pensa que a cidade é só samba, praia e boteco. Berço da cultura e da criatividade, em 2021, o Rio foi o segundo município com mais pós-graduados no país, ficando bem próximo de São Paulo, que tem uma densidade geográfica e populacional bem maior.

A oferta de instituições de pesquisa atualmente no Rio é abundante e – mais do que numerosa – é de altíssimo nível. Para citar algumas, temos a UFRJ, UERJ, Fiocruz, IBGE, FGV, PUC-Rio, IMPA, IME, entre outras. Podemos dizer, sem falsa modéstia, que formamos as mentes mais brilhantes do país.

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É frustrante, no entanto, constatar que não conseguimos transformar esse brilhantismo em desenvolvimento econômico, perdendo parte significativa dos nossos talentos para outras cidades e estados (não raro, para outros países). Esse fenômeno tem nome: é a “fuga de cérebros”.

A fuga de cérebros é um processo bastante comum (e que já vem acontecendo há um bom tempo e cada vez mais frequente) de migração de profissionais altamente qualificados de um país e/ou uma região em busca de melhores oportunidades.

Para se ter uma ideia, entre os anos de 2010 e 2022, ou seja, num intervalo de pouco mais de uma década, a população carioca diminuiu em 1,72%. É uma queda atípica e alarmante para uma grande metrópole.

Mas eu, particularmente, acredito que é possível reverter esse cenário. Existe um ditado popular que diz: “nunca desperdice uma boa crise”. Pois bem. Podemos usar o tempo que perdemos nos lamentando para transformar essa crise em uma oportunidade de renovar o potencial econômico da nossa cidade, afinal, somos a segunda maior “fábrica de intelectuais” do país. O grande desafio é descobrir como mantê-los aqui.

Para que os nossos ilustres cérebros parem de encontrar rotas de fuga da cidade maravilhosa, precisamos encontrar respostas para duas perguntas básicas: 1) como aumentar a qualidade de vida no Rio? 2) como melhorar as oportunidades de emprego dos nossos jovens talentos aqui? Ou seja, precisamos tornar a nossa cidade de fato maravilhosa, profissionalmente falando.

Embora a Prefeitura esteja sempre trabalhando em novos projetos para o aumento da qualidade de vida da população, ainda falta uma estratégia efetiva voltada para os jovens recém-graduados e para aqueles profissionais que possuem currículos promissores.

Pensando em uma estratégia dividida em uma jornada de três passos, o primeiro é estabelecer um diálogo com os jovens e as instituições de ensino para identificar os fatores que estão causando a migração. Isso pode ser feito tanto através de fóruns qualitativos, como por meio de enquetes anuais nos principais cursos do município.

O segundo é mapear nossas indústrias com maior potencial de inovação, já que serão essas as que terão a maior demanda por capital humano qualificado. As indústrias-chave com essa característica, em geral, são as farmacêuticas, petroquímicas, energéticas, audiovisuais e, em especial, as que pertencem à economia digital.

Uma vez mapeadas, será necessário criar programas que conectem empresas, universidades e sociedade civil para facilitar a empregabilidade desses talentos.

Em terceiro lugar, mas não menos importante, é necessário sair da defensiva e partir para a ofensiva, atraindo os cérebros pensantes de outras cidades. Nesse quesito, a Prefeitura tem feito um belo trabalho. Um bom exemplo é o programa “Nômades Digitais”, que visa atrair e facilitar a vida de trabalhadores remotos da economia digital na cidade. Além disso, a cidade agora conta também com a atração de novas unidades de ensino, como o novo IMPA no Porto Maravilha. Outras políticas mais direcionadas – como um FIES Fluminense focado em atrair talentos para o Rio com uma contrapartida de residência a médio prazo – podem fazer do Rio o destino mais procurado das mentes mais brilhantes do nosso país.

Se o Rio é uma fábrica de craques no futebol e nas artes, por que não pode ser também na pesquisa? Com planejamento e investimento, é possível reter esse capital intelectual e aproveitá-lo para gerar mais emprego e, consequentemente, maior renda na cidade.

O melhor do Rio, afinal, sempre foi, é e sempre será o carioca.

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Álvaro Rossi é um gestor público. Formado em Economia pela Columbia University e Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford. Foi consultor de multinacionais e governos pela Boston Consulting Group e atualmente é Assessor Especial ao Secretário na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

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