Alvaro Tallarico: CCXP, os tempos da Comicmania, Gibimania e a Virada Nerd

Quando a magia acontece

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CCXP
Roberta Cirne e as Sombras do Recife na CCXP (foto: Alvaro Tallarico)

Desde criança adorava ler. Especialmente, e, a princípio, quadrinhos. Como muitos sortudos, tive a companhia da Turma da Mônica na minha infância que me ajudou a ler melhor e iniciar um amor por essa arte sequencial. Posteriormente, conheci as histórias dos super-heróis. Homem-Aranha e X-men eram meus preferidos. Ainda por cima, vi “Batman, O Retorno” em um cinema de Madureira e fiquei vidrado. Tinha ainda o Robocop, As Tartarugas Ninja. Todos originários dos quadrinhos. Veja só a importância das HQs.

Eu tinha uma revista que nem lembrava de ter comprado, sem a capa, de um encontro do Homem-Aranha com um vilão chamado Chacal. Adorava comprar gibis nas bancas. Era um lazer barato e enriquecedor. Meu pai sempre estimulou. Naqueles anos 90, um desenho animado dos X-men conquistava multidões. Passava por volta de 12h na TV Globo. Época da TV Colosso, um programa cheio de bonecos de cachorros com várias esquetes e muitas animações marcantes.

Nossa, como amava os X-men. Diferentes perante uma sociedade preconceituosa (semelhanças com a realidade?), os mutantes lutavam para sobreviver. Dali em diante passei a comprar mais e mais gibis. Conheci um personagem chamado Cable, comecei a encher minhas paredes de pôsteres. Ali pela adolescência, saí de Madureira e me mudei para a Tijuca. Comecei então a jogar RPG, um tipo de jogo, com alguns manuais como Gurps e Dungeons & Dragons.

Gibimania

Morava perto do Sesc Tijuca e tive o privilégio de viver momentos inesquecíveis na Comicmania, Convenção Internacional de Quadrinhos do Rio de Janeiro. Lembro de ver um filme de Dragon Ball Z todo em japonês, nem legendado era. A gente via para curtir as lutas, sabendo que não era fácil ter acesso àquilo tudo. Conheci naquele tempo três lojas emblemáticas da cidade maravilhosa. A Gibimania (Rua Jurupari) e a Gotham, na Tijuca, e a Metrópolis, no Méier. Nelas adquiri gibis importados, muitas Wizards com cards brilhantes que me hipnotizavam, e vários bonecos, action figures. Sim, eu era um famoso nerd. Algo que não ajudava muito na escola. Era tipo coisa de otário, sabe? Gostar dessas coisas, querer usar blusas de super-heróis. Comprava algumas na loja Hexaedron, focada em Rock, que ficava no terceiro andar do Shopping Tijuca. Lembro bem o quanto era olhado estranho quando usava uma camisa que imitava o uniforme do Homem-Aranha. Hoje em dia, moda nas lojas de departamento.

A Gibimania era minha preferida. Ia andando para lá com alguns amigos e ficava caçando HQs antigas. Em 2001, lembro de ir com minha primeira namorada, Verônica, que eu chamada de MJ (referenciando a companheira do Homem-Aranha). Ela gostava do RPG “Vampiro, a Máscara”. Um sonho naquela época era comprar um anel igual ao do Lanterna Verde. Não consegui (até hoje), mas tinha um com a cabeça do Darth Vader.

Pelo inícios dos anos 2000 a internet começou a crescer. Conheci então os sites Omelete e UniversoHQ. Minhas maiores fontes de informação sobre a cultura pop. A gente sonhava em conhecer a San Diego Comic-Con, maior convenção de quadrinhos do mundo. Não deu. Até hoje nunca pisei nos Estados Unidos. Contudo, em 2014, nasceu em São Paulo a Comic Con brasileira. Evoluiu e virou um dos maiores eventos do Brasil, e do mundo. Fez 10 anos agora em 2023. Ela segue o modelo da San Diego Comic-Con, e traz um monte de coisa relacionada a videogames, quadrinhos, filmes e séries. É a vitória nos nerds (quase que coloco a vingança dos nerds, lembrando de um filme clássico, mas um Jedi não se conecta com a vingança).

Roy Thomas encontra John Romita Jr Alvaro Tallarico: CCXP, os tempos da Comicmania, Gibimania e a Virada Nerd

Conto tudo isso, tentando escrever pouco dentro dos limites da minha coluna, para dizer que pela primeira vez fui na Comic-Con brasileira, a CCXP. E fui tão sortudo que minha estreia já aconteceu trabalhando. Durante 5 dias fui apoio à produção do evento e trabalhei exatamente na Artists Valley, onde ficam os quadrinistas. Fiquei do lado de desenhistas que marcaram esses tempos que citei como John Romita Jr. e Mike Deodato. Procurando manter o profissionalismo, não tirei fotos com eles, nem pedi autógrafos. Só de estar ali, ajudando outros nerds a encontrarem seus ídolos já foi muito gratificante. Tirei foto somente com o Sidney Gusman, idealizador do Universo HQ e atual editor da Maurício de Sousa Produções.

Pobrefobia

Fiquei ao lado de grandes nomes dos quadrinhos como Ju Loyola, RB Silva, Bilquis Evely. Para Mike Deodato e Bilquis falei exatamente a mesma coisa: “gratidão por levar o nome do Brasil para o mundo”. Conheci também Roberta Cirne, cujo trabalho é lindo e relevante. Ela adentra o universo das lendas, mitos e folclores nordestinos.

Por fim, na CCXP, encontrei gente do Brasil e do mundo, todos amantes dessa cultura. Conversei com muitos, parabenizava pelos autógrafos que lutavam para conseguir em filas. Saí de lá com um exemplar de “Pobrefobia“, autografado pelo roteirista Rogério Faria, que conta as experiências do Padre Júlio Lancellotti com pessoas em situação de rua. Li no ônibus, voltando de SP para o RJ. Gostei tanto que falei sobre no programa Madrugada Amiga Shalom, na Rádio Catedral FM 106,7, que participo de segunda para terça no horário da meia-noite.

Fico aqui na saudade da Gibimania e da Comicmania, mas feliz com a existência da CCXP e de novos guerreiros que chegam como o evento Virada Nerd, que acontece nos dias 16 e 17 de dezembro, na Rua Teodoro da Silva, 240, no Centro Cultural Instituição Nosso Lar.

virada nerd no rj Alvaro Tallarico: CCXP, os tempos da Comicmania, Gibimania e a Virada Nerd

Ah, aliás, a CCXP24 já tem data para acontecer também. A realização do maior festival de cultura pop do mundo está marcada para ocorrer de 5 a 8 de dezembro de 2024.

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