Ampliação do Santos Dumont prevê aterramento da Baía de Guanabara; ambientalistas protestam

Movimento Baía Viva ingressou com representação junto aos Ministérios Públicos Federal e Estadual. Nesta sexta, o pedido foi aceito pelos dois MPs e uma investigação para apurar o suposto crime ambiental será instaurada

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Foto Cleomir Tavares / Diario do Rio

O projeto de reforma do Aeroporto Santos Dumont, localizado na Região Central do Rio de Janeiro, está sendo duramente criticado por ambientalistas. Os protestos são porque a ampliação do terminal de aviões implicaria em um aterramento de parte do espelho d’água da Baía de Guanabara. Por conta disso, nesta quinta-feira, 18/11, o Movimento Baía Viva ingressou com representação junto ao Ministério Público Federal, através dos Procuradores da República Sergio Gardenghi Suiama e Jaime Mitropoulos e ao Ministério Público Estadual, por meio do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural, coordenado pela Promotora de Justiça Patrícia Gabai Venancio, visando impedir a iniciativa. Nesta sexta, 19/11, o pedido foi aceito pelos dois MPs e uma investigação para apurar o suposto crime ambiental será instaurada.

De acordo com Sérgio Ricardo Potiguara, cofundador do Baía Viva: “A Representação do Baía Viva requer a apuração de responsabilidades cíveis e criminais por Crime Ambiental a ser provocado por grande aterramento do ecossistema e do espelho d´água da Baía de Guanabara, que goza de proteção por parte da Constituição Estadual-RJ e é um bem tombado em 2012 como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, conforme previsto no Edital de privatização do Aeroporto Santos Dumont, denominado “LEILÃO DE CONCESSÃO PARA AMPLIAÇÃO, MANUTENÇÃO E EXPLORAÇÃO DOS AEROPORTOS INTEGRANTES DOS BLOCOS RJ/MG, NORTE II E SP/MS/PA”, elaborado pelo Ministério da Infraestrutura e a Diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e de autoridades ambientais estaduais (SEAS, CECA e INEA-RJ) e do órgão ambiental federal (IBAMA), assim como dos Empreendedores privados responsáveis atuais e/ou futuro da concessão do Aeroporto Santos Dumont, em função do flagrante desrespeito à Constituição do Estado do Rio de Janeiro e em especial à Lei Estadual no. 1700/1990 (conhecida como Lei Elmo Amador) que “estabelece medidas de proteção ambiental da Baía de Guanabara” e proíbe terminantemente “a execução de qualquer obra que signifique aterro na Baía de Guanabara, independente do volume do mesmo”.

Os ecologistas também reivindicam “a revogação e/ou anulação do processo licitatório oriundo do Edital de concessão do Aeroporto Santos Dumont, denominado “LEILÃO DE CONCESSÃO PARA AMPLIAÇÃO, MANUTENÇÃO E EXPLORAÇÃO DOS AEROPORTOS INTEGRANTES DOS BLOCOS RJ/MG, NORTE II E SP/MS/PA”.

De acordo com os ambientalistas, há “a existência de vício de legalidade (vício de origem) no procedimento e por outros motivos previstos na legislação, tais como a inexistência de dados técnicos e legais que provocam uma evidente inconsistência,  incoerência e insuficiência das informações que deveriam subsidiar a realização dos projetos, levantamentos, investigações e estudos técnicos tais como os relativos aos Estudos Ambientais e sobre a avaliação da compatibilidade deste empreendimento com a legislação ambiental vigente; assim como a falta de transparência dos dados sobre a obrigatória “demonstração comparativa de custo e benefício do empreendimento em relação a opções funcionalmente equivalentes” existentes; e quanto à inexistência e/ou mero sub-dimensionamento do efetivo “impacto socioeconômico da proposta”; além de outras diversas irregularidades insanáveis tais como a ausência ou omissão de estudos que comprovem a “adoção das melhores técnicas de elaboração, segundo normas e procedimentos científicos pertinentes”; incompatibilidade “com a legislação aplicável ao setor e com as normas técnicas emitidas pelos órgãos e entidades competentes”; falta de transparência dos dados sobre a “demonstração comparativa de custo e benefício do empreendimento em relação a opções funcionalmente equivalentes” e a precariedade dos projetos, levantamentos, investigações e estudos técnicos que encontram-se em flagrante desacordo e em conflito com as normas ambientais nacionais e internacionais, tais como os princípios da Precaução e da Prevenção, o que torna este ato praticado por autoridades públicas eivado de insanáveis ilegalidades e irregularidades.”

A denúncia, ainda, requer “a atuação conjunta do MPF-RJ e do MP-RJ por meio da via administrativa e/ou judicial, para determinar a NULIDADE de quaisquer pedidos de licenciamentos ambientais que visem promover o ilegal aterramento do espelho d´água da Baía de Guanabara pela atual ou futura concessionária privada do Aeroporto Santos Dumont, tendo em vista que trata-se de um injustificável crime ambiental e de crime de improbidade administrativa amplamente tipificado na legislação vigente, intimando os órgãos ambientais SEAS, INEA e CECA e ao IBAMA que se abstenham de dar andamento a eventuais pedidos de licenciamentos ambientais com este fim.”

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) emitiu uma licença, autorizando o aterramento, o que contrariou ainda mais os ambientalistas.

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O documento

“Além do mais seria um vexame internacional para o Rio de Janeiro e o Brasil se autorizar ao arrepio das leis um grande aterramento do ecossistema e espelho d´água da Baía de Guanabara na véspera da realização da Conferência Internacional Rio+30 e em plena Década do Oceano e da Restauração dos Ecossistemas (ONU, 2021-2030)!”, enfatiza Sérgio Ricardo.

A Concessionária responsável pelo Aeroporto Santos Dumont ainda não se manifestou sobre o caso.

O novo modelo de concessão do Aeroporto Santos Dumont é cercado de polêmicas. Recentemente, o prefeito Eduardo Paes disse que “estão vendendo o Santos Dumont para algo que ele não pode cumprir”. Paes ainda afirmou que essa venda acabará com o Aeroporto Internacional Tom Jobim (RIOgaleão), na Ilha do Governador, Zona Norte, considerado o principal da cidade.

No início deste mês, a Alerj solicitou à Anac que concessão do Aeroporto Santos Dumont seja conduzida pelo Governo Estadual. Com isso, o Santos Dumont terá tratamento equivalente ao adotado em relação ao Aeroporto de Pampulha, em Minas Gerais. A iniciativa pretende evitar o esvaziamento do Aeroporto Internacional Tom Jobim (RIOgaleão), que poderá perder voos se houver concorrência entre os 2 principais terminais do Rio de Janeiro, especialmente em relação aos destinos internacionais.

Em meio às polêmicas, o edital de privatização do Santos Dumont pode sofrer alterações. A afirmação foi dada pelo senador Carlos Portinho (PL/RJ), após conversas com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Portinho está em linha com Eduardo Paes e o governador Cláudio Castro, que são contrários a que o Aeroporto possa ter seu número de voos expandidos, como era a intenção o ministro Tarcísio e do Governo Federal.

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6 COMENTÁRIOS

  1. A hipocrisia é grande. Quem não prefere embarcar desde o Santos Dumont?
    A desculpa agora é ambiental.
    Pode ter aeroporto mas não pode ampliar.
    O aeroporto concorrente é uma porcaria.
    Quem já viajou para o exterior sabe a porcaria que é.
    Vc tem que andar quilômetros dentro do aeroporto. Tudo mal planejado.
    Aí vem político que só anda de motorista e viaja de primeira classe criticar o Santos Dumont.
    Latrina a céu aberto mas não pode ampliar o aeroporto.
    Falta do que fazer.
    Aí depois vem falar em revitalizar o centro, mas é contra ampliar o aeroporto que está no centro.
    Hipocrisia.
    Se querem o Galeão que façam um transporte público decente para acessar o mesmo. Isso nunca vai existir.

  2. O SDU as vezes não dá conta do seu fluxo normal em horários de pico, imagine aumentando as movimentações? Dias de chuva já é um caos total, imagine com o aumento de acft’s no espaço aéreo local?

  3. Havendo o aeroporto do Galeão/Tom Jobim, que razão tem ampliar o Santos Dumont (???) considerando ainda que existem aeroportos que pode ser ampliados e melhor distribuídos os vôos no território fluminense, como o de Jacarepaguá, e nas Regiões dos Lagos (???)

  4. Que as salvaguardas ambientais sejam feitas. Mas se levarmos em conta tudo que ativistas ambientais falam, NADA mais se constrói, porque tudo causa impacto. Lembremo-nos: Roraima permanece desconectada do Sistema Elétrico Brasileiro interligado até hoje porque não conseguimos, desde 2014, autorização para construir postes elétricos para ligar ao estado do Amazonas. E por isso, Roraima queima gás e óleo diesel. Olha que contrassenso!

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