André Luiz Pereira Nunes – Vasco e America: a história do Clássico da Paz

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre emblemáticos confrontos entre o Vasco da Gama e América

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Em 1937, o futebol carioca se encontrava inteiramente dividido. De um lado, havia a Liga Carioca de Football (LCF), chamada “Facção das Especializadas” por reunir as agremiações de elite. Eram membros Flamengo, Fluminense, America, Bangu, Bonsucesso e Portuguesa. De outro, a Federação Metropolitana de Desportos (FMD) que agrupava Botafogo, Vasco, São Cristóvão, Madureira, Olaria e Andaraí.

A separação era absoluta e cada entidade vivia para o seu lado sem que houvesse qualquer possibilidade de reunificação. Eis, que de surpresa, no princípio do mês de julho, começaram a surgir rumores de que se trabalhava um movimento pacificador no futebol do Rio.

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Vasco e America foram os grandes artífices da concórdia e da reunificação. Seus presidentes Pedro Novais e Pedro Magalhães Corrêa, de livre e espontânea vontade, se reuniram e traçaram planos para resolver a árdua questão. E, aos 29 de julho, numa memorável sessão levada a efeito no antigo salão nobre da Associação dos Empregados do Comércio, nasceria a Liga de Football do Rio de Janeiro (LFRJ), reunindo em uma só divisão os doze clubes que pertenciam a uma e a outra das entidades que até então se achavam separadas. Pioneiros na pacificação, Vasco e America resolveram, portanto, promover um marco a essa colaboração: a disputa de um troféu em melhor de três. O primeiro jogo ocorreu na noite de 31 de julho, no estádio de São Januário. Foi uma noite de gala. Preliminarmente se exibiram dois times vascaínos de rúgbi, além de motociclistas da Polícia Especial, que fizeram um desfile magnífico com a apresentação de números de arrojo, equilíbrio e beleza. Depois, os times do Vasco e do America entraram juntos em campo com bandeiras entrelaçadas. O primeiro jogo da paz encerrou-se com a vitória do Vasco por 3 a 2 e foi dirigido pelo juiz argentino Sanchez Dias. Nelson e Carola marcaram para o America e Raul e Lindo (2) assinalaram para o Gigante da Colina.

Infelizmente, em 1937, dois acontecimentos desagradáveis se sucederam. Andaraí, Portuguesa e Olaria foram degolados após o certame. O Andaraí, acometido por essa primeira e grave apunhalada, não mais retornaria à primeira divisão, apesar dos enormes esforços de seus dirigentes. A Portuguesa, somente em 1953, conseguiu retomar seu lugar na elite do futebol carioca, mais por conta dos padrinhos na Federação Metropolitana de Futebol (FMF), em especial Lulu Murgel, Zé Alves Morais e Maninho, do que por méritos esportivos. A Lusa, na ocasião, havia abandonado o futebol e vinha se dedicando somente ao ciclismo e ao recreativismo. O Oriente, de Santa Cruz, então bicampeão do Departamento Autônomo (DA), pleiteava a vaga e foi preterido, a exemplo do Andaraí, o qual era também outro postulante e se baseava na tradição para conseguir o seu intento.

O último evento desagradável se deu com o São Cristóvão. O Clube Cadete disputava e liderava, sem poder ser mais alcançado, o campeonato da Federação Metropolitana de Desportos (FMD), o qual acabou interrompido no momento da reunificação das ligas. Antes de ser extinta, a FMD proclamou o São Cristóvão campeão, mas esse título até os dias de hoje ainda não foi reconhecido oficialmente como o de campeão carioca de 1937. Estou, particularmente, trabalhando em conjunto com o clube de Figueira de Melo na tentativa de produzir um dossiê totalmente documentado para ser entregue ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), vinculado à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), para que essa injustiça seja finalmente sanada.

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André Luiz Pereira Nunes é professor e jornalista. Na década de 90 já escrevia no Jornal do Futebol e colaborava com Almir Leite no Jornal dos Sports. Atuou como colunista, repórter e fotógrafo nos portais Papo Esportivo e Supergol. Foi diretor de comunicação do America.

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