Jessé da Silva Dantas, 39 anos, é carioca, morador de Campo Grande e tem uma predileção, que pode ser definida como exemplo de um andarilho da escrita, usando do seu talento para versar e contar histórias tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro. Mas não como mais um reforço do Rio que a gente está acostumado a contemplar nas novelas e filmes. Sua abordagem está vinculada a um Rio nas costas do Cristo.
Ele é autor de obras como Efetivo Variável (Alfaguara), Fiel (Objetiva) e Super Protetores (Itaú Leia para uma Criança) e já tem uma outra no prelo, que provavelmente irá ser lançada até o final do ano, intitulada como Esquema, pela Companhia das Letras.
Jessé Andarilho, como gosta de ser chamado, inclusive já foi protagonista de um livro dedicado a si, com o seu próprio nome como título, que contextualiza seu trabalho de proporcionar espaços e plataformas geradoras de visibilidade daqueles que muitas vezes são esquecidos ou simplesmente marginalizados em territórios nos quais o poder público pouco atua.
“Escrevo sobre pessoas geralmente invisíveis para a maioria da sociedade brasileira. Sinto que precisamos contar a nossa história sem intermediários. Imagina como seria o Brasil se os livros de história tivessem sido escritos pelos índios ou pelas pessoas escravizadas?” reflete Jessé Andarilho
E ele, não só faz da arte da escrita seu ofício, mas também a usa como uma missão de vida, com o objetivo de propiciar maior acesso a leitura e dessa forma contribuir para o desenvolvimento de cidadãos com um pensamento crítico e mais consciente.
Em uma iniciativa pioneira, Jessé Andarilho, conseguiu a autorização de uso de uma antiga base abandonada da Polícia Militar em Antares, comunidade localizada em Santa Cruz, na zona oeste do Rio para criar uma biblioteca comunitária.
Batizada de Marginow, a iniciativa de Jessé Andarilho permite que os moradores tenham acesso a uma gama diversificada de livros, de uma forma descomplicada, sem regras de devolução ou exigências impositivas.
E a colaboração de todos foi, e é, fundamental para a continuidade do projeto. Inclusive, doações são sempre bem-vindas, com exceção de livros didáticos.
“Muita gente acha que biblioteca comunitária é lugar pra se livrar de espaço nas estantes de suas casas e mandam um montão de livros e revistas antigas que não vão ajudar em nada na formação de leitores. A gente quer aqueles livros que as pessoas não gostam nem de emprestar de tão bons que foram para elas. Esses livros sim são os que queremos. E outra coisa, biblioteca comunitária não é feita só com livros. Também precisamos de móveis, computadores, material de construções para reformas…” esclarece Jessé Andarilho.
Com a pandemia, Jessé Andarilho, que tem sua maior renda oriunda de palestras e eventos presenciais, acabou tendo que trabalhar como Uber para manter sua família e a própria biblioteca comunitária. Mas esse fato não o esmoreceu e ele continua com grandes sonhos de fomentar transformações no local onde cresceu.
Entre essas perspectivas, Jessé Andarilho, vibra em intensificar sua intenção em propiciar uma biblioteca viva, com eventos, oficinas e muita agitação, ou seja, tornar o espaço um verdadeiro pólo cultural da região.
Palavras podem ser definidas muito além do seu uso linguístico, já que de forma perene possibilitam um nível de alianças e consciência cidadã de um poder imensurável. Promover acesso a livros, então, incentiva a leitura e amplia sua percepção de mundo, e sobretudo, os papéis que cada indivíduo exerce ou poderá exercer na sociedade que integra.
E essa grandeza, Jessé Andarilho já carrega em sua biografia, colaborando de uma forma excepcional para que a vida de tantos ganhe novos contornos, novas escritas.
Por mais Jessés em nossas comunidades. Quem tiver interesse em colaborar, basta entrar em contato com @jesseandarilho.