Rodrigo Faour, carioca, tem 48 anos, morador do Leblon, é jornalista, crítico musical e pesquisador, que tem em seu acervo particular o impressionante número de 85 mil músicas catalogada, além de um vasto clipping de matérias jornalísticas sobre o tema, coletado desde a adolescência, quando já tinha sido despertado o seu interesse por esse universo artístico.
Com passagens em diversos veículos de comunicação, Rodrigo Faour acabou por imprimir como uma das suas marcas registradas de profissional do meio musical a busca por resgatar nomes e assuntos que por inúmeros motivos acabam ficando sem a devida projeção e merecem ter suas histórias reintroduzidas na sociedade, ativando a memória coletiva.
O seu mais novo projeto, no qual é diretor e apresentador, versa sobre a história do LGBTQI+ na cidade do Rio de Janeiro. Batizado de Arquivos da Cena LGBTQI+ que tem inicialmente o foco em reunir dez programas de entrevistas com o intuito, de iniciar assim, a construção de um arquivo contemporâneo da história LGBTQI+ carioca.
“O projeto nasceu de uma postagem de publicações, fotos e flyers LGBTs que havia feito no Facebook em junho do ano passado. A afluência das pessoas ávidas por esta memória me atiçou a querer escrever e pesquisar mais sobre isso, para além do tempo que eu mesmo presenciei, ou seja, dos anos 1990 para cá. Daí comecei a fazer uma série de Lives com Ícones LGBTQI+ no Instagram, a seguir postados no meu canal Rodrigo Faour Oficial do YouTube. Foi um sucesso incrível. As pessoas começaram a me procurar para querer colaborar com esta memória que até então nunca havia sido contada e valorizada. E é preciso lembrar que tudo de mais relevante nesta cena começou no Rio e só depois foi se espalhando pelo resto do país. Os primeiros shows de travestis, e a militância LGBT, por exemplo, nasceram no Rio.” declara Rodrigo Faour.
Usando a plataforma das suas mídias sociais, Rodrigo Faour, com ênfase no YouTube, disponibilizou no mês de março, o primeiro episódio desse trabalho, cuja personagem protagonista é Divina Valéria, um verdadeiro ícone artístico brasileiro.
O projeto Arquivos da Cena LGBTQI+ foi contemplado pela Lei Aldir Blanc – Edital Retomada Cultural RJ, promovido pelo Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro.
Rodrigo Faour é mestre e atualmente cursa doutorado em Literatura, cultura e contemporaneidade, no programa do Dept. de Letras da PUC-Rio, demonstrando que sempre será possível aprender, desvendar novos conceitos que por ventura ainda não tenham sido profundamente estudadas. Para o próximo ano, há a intenção de publicar três livros sobre a MPB que já estão prontos e irão ser acrescidos a outras seis obras já publicadas por ele, com destaque para as biografias de Angela Maria (“A Eterna Cantora do Brasil”), Dolores Duran (“A Noite e as Canções de uma Mulher Fascinante”), Cauby Peixoto (“Bastidores – 50 Anos da Voz e do Mito”) e Claudette Soares (“A Bossa Sexy e Romântica de Claudette Soares).
Entre seus trabalhos de muito reconhecimento no mercado, há as produções de coletâneas de dezenas de grandes artistas da MPB, incluindo as séries “Maxximum” (SonyBMG), “Grandes Vozes” (Som Livre) e “Super Divas” (EMI Music) e reedições de álbuns importantes que já somam cerca de 550 títulos, incluindo as caixas de Elis Regina, Simone, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Bezerra da Silva, Os Mutantes, Inezita Barroso, Nara Leão. Nana Caymmi, Baby do Brasil, Frenéticas e a série de reedições “As Divas” (Warner Music).
Rodrigo Faour tem um pensamento bem crítico com relação aos rumos da MPB e demonstra um ceticismo pós pandemia.
“O cenário brasileiro para a música criativa vai de mal a pior. Afora algumas bolhas de público que dão prestígio a alguns grupos menos midiáticos, somos massacrados por uma indústria perversa e que privilegia modismos massificados de baixo entretenimento com foco nos pré-adolescentes. E o mercado lucrativo da música se mede por esses indicativos. Desde o início do século XXI já estava bem ruim, na segunda década piorou, e agora com a pandemia, sinceramente, não consigo prever o que pode acontecer. Enquanto não houver uma política pública para elevar o nível da cultura e da educação geral, e ter planos divulgar a nossa cultura às nossas crianças, nas escolas, desde cedo, seremos apenas escravos de um mercado capitalista inescrupuloso que tolhe qualquer música vá além do baixo entretenimento e da imitação do pop globalizado contemporâneo, uma música que sensibilize, menos descartável, ficará cada vez mais restrita a guetos”, desabafa Rodrigo Faour.
O que nos alenta é justamente ter pessoas, como Rodrigo Faour, cuja sensibilidade e espírito de guardião do que não é efêmero, esculpido por sua veia jornalística e impulsionado por sua latente curiosidade de pesquisador e historiador, nos possibilita ter acesso à nossa própria memória musical, realçando sua riqueza e importância para a cultura brasileira. O que é vital para compreendermos o presente e quiçá alterar o futuro que se manifesta e que certamente não condiz com a fascinante cronologia que temos. Vamos acompanhar!
Excelente matéria sobre Rodrigo Faour, cujo acervo de 85 mil músicas realmente impressiona. Ótimo trabalho inclusivo e, por isso dou os parabéns em tempos tão tenebrosos de tanta intolerância extrema. Assim como ele também acho que atualmente a música criativa vai de mal a pior. Parabéns Andréa Nakane por mais essa ótima matéria.