Maria Eduarda Aguiar da Silva, 41 anos, nasceu em Blumenau, mas escolheu o Rio de Janeiro para não só levantar suas bandeiras, mas para ser feliz, naturalmente, sem escusas ou repressões, e se tornando já um nome de grande relevância para a comunidade LGBTQIA+. Moradora do bairro de Vila Isabel, ela é advogada, presidente do Grupo Pela VIDDA RJ e coordenadora do Centro de Acolhimento e Promoção da Empregabilidade LGBTQIA+.
Maria Eduarda Aguiar é uma mulher trans, que segundo ela, realizou sua transição de gênero tardiamente, em 2015, em funções de receios e por adversidades que teria, mesmo recebendo todo o apoio familiar e de colegas, fato que não é a realidade de todos. Em 2017, ficou conhecida no estado todo por ter sido a primeira advogada trans a ter seu nome social na carteira da Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB.
“Esse ano foi um ano de grandes realizações, pois, além dessa importante conquista, que não foi só pessoal, foi, também, um forte simbolismo para sedimentar os direitos de todos outros colegas que estavam ou estariam na mesma situação, eu fundei a Rede Travestis e Transexuais Vivendo e Convivendo com HIV, em um evento nacional, o Encontro de ONGs que acolhem pessoas com HIV, no Rio Grande do Norte.”, declara Maria Eduarda Aguiar.
Hoje, Maria Eduarda Aguiar, integra o Instituto dos Advogados do Brasil, IAB, sendo a primeira mulher trans a compor esse quadro e divide seu dia-a-dia na coordenação de dois projetos: um de retificação civil para pessoas trans e o outro de combate à violência e promoção da empregabilidade LGBT.
“Comecei a ser militante trans por entender que a luta precisa de pessoas comprometidas com a causa e porque me senti na obrigação de contribuir com essa causa. O que me fez buscar a advocacia foi a possibilidade de transformação social, através da área jurídica e a função social exercida pelos advogados e advogadas na nossa sociedade.” conta Maria Eduarda Aguiar.
No período de maior temor com relação a pandemia, Maria Eduarda Aguiar conta que as atividades da ONG foram transferidas para o ambiente remoto e, incluíram, também, a distribuição de cestas básicas, mesmo não sendo esse o escopo da entidade, que tem recursos oriundos de emendas parlamentares, editais públicos e doações. Quem quiser colaborar ou conhecer o trabalho pode acessar @pelaviddarj .
Maria Eduarda Aguiar não acredita atualmente no título do Rio ser uma cidade Gay Friendly, já que o município e o estado nos últimos anos acabaram por eleger representantes – de todas as esferas governamentais – com características contrárias a plena inclusão, fato que gerou, ainda mais discriminação.
“Em pleno século XXI vivenciamos o crescimento de discurso extremistas fascistas, nazistas e conservadores que pregam o ódio e a violência contra pessoas LGBTQIA+. É absurdo que eu tenha que lutar para não apanhar na rua por ser uma pessoa trans. Os direitos LGBTQIA+ deveriam ser direitos de toda sociedade, do ser humano e não de uma ideologia partidária, mas hoje o que temos são grupos que querem a morte física, moral e social de grupos vulneráveis, de corpos que eles consideram abjetos e de menos valor.” reflete Maria Eduarda Aguiar.
Essa é uma das razões que levam Maria Eduarda Aguiar a pensar em investir em um mandato público no executivo no futuro, para que possa ter mais força na luta contra todo e qualquer tipo de preconceito ainda muito presente na sociedade como um todo.
Portanto, é indiscutível a importância do Dia do Orgulho LGBTQIA+, mas o mesmo deve ser pauta de ações, reflexões, movimentos, ativismos e políticas públicas todos os demais dias do ano, já que é preciso por meio do diálogo e de muitas informações combater algo que não é alinhado a irmandade social do viver em harmonia, sendo, inclusive, inconstitucional, porque fere a dignidade e igualdade de todos os cidadãos, que não devem ser distinguidos em funções de suas características físicas ou comportamentais.
O empoderamento profissional e o trabalho social da Maria Eduarda Aguiar precisa reverberar e ser multiplicado para que mais pessoas, sem rótulos, possam realmente pertencer a sociedade e colaborar com sua evolução, já que a mesma, só tem significado no coletivo, e não no individual, afinal estamos falando de seres humanos… e isso, por si só, deveria bastar!