São muitas as peças históricas e artísticas oriundas das Fundições do Val D’Osne. Aqui, no Rio de Janeiro, o número de fontes, esculturas e outras obras feitas desta forma está na casa das centenas. Memórias firmes que resistem ao tempo.
A história das Fundições do Val D’Osne se inicia por volta de 1830, época em que o ferro fundido era a grande novidade da construção civil. Da construção foi para a indústria e da indústria para as artes.
“Em 1833, Jean Pierre Victor André, administrador de forjas, decide lançar-se nesta aventura e, em 28 de outubro de 1834, solicita ao rei Luís-Felipe autorização para construir um alto-forno. Sua escolha recai curiosamente num local antigamente ocupado por um mosteiro, afastado da cidade e escondido no fundo de um vale: Val d’Osne. Naquela época, todas as usinas eram instaladas sobre cursos d’água de vazão regular e suficiente para provocar o giro das rodas d’água. O Osne é um riacho. Em compensação, minério de excelente qualidade abunda nas florestas próximas, bem como areia.
Autorizado por ordem real de 5 de abril de 1836 para construir sua usina, Jean Pierre Victor André começa pela edificação do alto-forno, ainda existente até hoje, e inicia rapidamente uma produção voltada para a fundição decorativa: ‘a fundição ornamental era desconhecida antes do senhor Victor André. Limitava-se à produção de tubos, placas e potes.
O senhor André montou de ponta a ponta a indústria da fundição ornamental do ferro fundido’, escrevera em 1912 o cronista de Val d’Osne, abade Hubert Maréchal. André, no entanto, vivia em Paris e frequentava os escultores numa época em que a nasciturna revolução industrial atraía os criadores. Dentre os quais, Mathurin Moreau, autor de uma quantidade impressionante de modelos para Val d’Osne e que se tornaria um dos dirigentes dessa companhia.
Em 1844, as Fundições do Val D’Osne contavam com 220 operários. O auge de sua produção foi entre 1870 e 1892, com o nome Societé Anonyme de Fonderies d’art du Val d’Osne.
A fábrica do Val D’Osne era chamada de Wallace. Por isso, também, a nomenclatura “Fontes Wallace”. O nome “Walace” vem de Richard Wallace, que doou 100 exemplares das Fontes à cidade de Paris em 1872 e, posteriormente, o fez para outras grandes cidades do mundo.
O tempo foi passando, mudanças acontecendo, mas as Fundições do Val D’Osne seguiam fortes. Passaram a se espalhar por todo o mundo, sobretudo as produções artríticas.
“Em 1851 é realizada a primeira “Exposição Universal”, em Londres, e a fundição artística começa a atrair muitos admiradores. As peças do Val D’Osne, a partir de então, passaram a ser vendidas em catálogos (com cerca de 700 estampas), onde desenhos dos modelos mostravam as dimensões das peças, em uma extraordinária variedade de produções, a maioria de artistas acadêmicos, neoclássicos, com excelente conhecimento em temas mitológicos, além de influências românticas, orientalistas, sensualistas e naturalistas. A possibilidade da produção industrial do mobiliário urbano fez surgir diversos candelabros, bancos, grades e quiosques, que se espalharam pelo mundo inteiro. A fundição artística em série possibilitou a criação de obras de grandes artistas por um preço inferior”, conta Vera Dias.
D. Pedro II, na Feira Internacional de Viena em 1878, comprou a primeira obra Val D’Osne do Brasil. À época, considerado um dos mais bonitos do mundo, o Chafariz do Monroe chegou no mesmo ano ao nosso país.
Ele foi instalado, inicialmente, no Largo do Paço, atual Praça XV, Rio de Janeiro. Ficou lá até início dos anos 1960, quando foi construída a Perimetral e teve de ser retirado. De lá foi transferido para a Praça da Bandeira, até que, em 1978, foi levado para sua atual localização, quando ganhou a denominação atual, por ocupar o lugar do antigo prédio do Monroe, o Senado Brasileiro.
“Trata-se de uma obra com 12 metros de altura, o maior chafariz do Brasil e o único do gênero no Mundo”, diz Vera Dias.
Após isso, muitas peças Val D’Osne chegaram ao Rio de Janeiro. Nossa cidade, no Brasil, se tornou o maior mercado dessas obras. Perto de 200 obras artísticas francesas de ferro fundido decoram o Rio, localizadas em prédios, parques e praças. Uma fonte Val D’Osne, inclusive, vai decorar a futura redação do Diário do Rio, na Praça XV, Arco do Teles.
Essas peças deste grandioso acervo só foram identificadas e catalogadas a partir de 1992, devido a um levantamento mundial iniciado pela Association pour la Sauvegard et la Promotion du Patrimoine Metallurgique Haut-Marnais, com objetivo de localizar as obras produzidas pelas Fundições Francesas do Val D’Osne entre os séculos XVIII e XIX.
Oito anos mais tarde, em 2000, o então prefeito Luiz Paulo Conde promoveu o tombamento de parte das peças desta coleção, que é a maior existente fora da França. As obras, hoje em dia, são protegidas pelo Decreto Nº 19011 de 5 de outubro de 2000.
As atividades Fundições do Val D’Osne foram encerradas em 1986. No entanto, seus trabalhos seguem pelo mundo firmes e fortes, forjados para a eternidade.