Em anúncio feito ao Jornal “O Globo“, o dono do tradicional restaurante Aquamar, hoje batizado Ancomar, disse que deve encerrar suas atividades até o final do ano. Segundo o proprietário, José Eustáquio, o eminente fechamento do estabelecimento se deve a vertiginosa queda de faturamento.
Esse é o segundo caso de um estabelecimento tradicional da cidade que anuncia o fechamento nos últimos dias. O icônico Bar Luiz anunciou o fechamento já para o próximo dia 14/09 , após 132 anos de operação no Centro do Rio. Diante da notícia, clientes, não clientes e até concorrentes se mobilizaram com doações de funcionários e produtos na tentativa de salvar o bar.
Localizado na Zona Portuária, o imóvel de 1908 (o restaurante começou em 1933), que pertence à União, tombado pelo Iphan, e administrado pelo Rio Previdência, está cedido ao empresário, através de contrato de concessão, até 2027. Mas, se nenhuma reviravolta acontecer, o restaurante provavelmente fechará em dezembro.
De acordo com Eustáquio, a média de clientela é de apenas 15 pessoas por dia, num espaço que comporta até 360 divididos em três salões (120 em cada andar, sendo dois andares usados para eventos). A estrutura do estabelecimento também reduziu drasticamente: os 42 funcionários hoje são apenas 11.
O cardápio teve preços reduzidos em quatro oportunidades. O gasto médio por cliente que em 2014, quando iniciou a concessão, era de R$250 hoje é de R$120. O restaurante agora tem um menu executivo a R$ 55, com entrada e sobremesa. Eustáquio diz que consegue pagar o valor atual de aluguel, e os salários dos funcionários, mas não os impostos, e que essa dívida gira em torno de R$100 mil.
Pelo contrato de concessão, o aluguel deveria custar R$25 mil mensais, mas, como o dono investiu cerca de R$1,3 milhão em obras de reforma, o custo hoje é de R$ 2,6 mil por mês, como compensação. A parte interna foi totalmente modificada, mas a fachada não foi completamente restaurada. A reforma da cúpula será concluída em até duas semanas, mas Eustáquio diz que ainda faltariam cerca de R$500 mil para o restante.
“Se houvesse viabilidade até valeria investir. Mas hoje meu plano é fechar. Eu não lucro mais nada, consigo sobreviver apenas com os eventos. A intenção é continuar até a semana do Natal, até para fazer festas de fim do ano e pagar a rescisão dos funcionários com essa arrecadação“, diz o empresário, que já enviou laudos ao Rio Previdência alertando para o risco de queda da varanda. — “Eu não uso mais esse espaço, pois não é seguro“.
O primeiro problema que Eustáquio enfrentou foi burocrático. O nome Albamar não pôde ser utilizado, explica, porque um parente, chamado Fernando, de um antigo funcionário se apresentou logo após a licitação lhe informando que o nome fora patenteado por ele. Pela utilização, cobrou R$ 800 mil. Eustáquio chegou a oferecer R$120 mil, mas, sem o negócio, decidiu mudar o título para Ancoramar.
“Isso foi um prejuízo inicial de 40% no faturamento. O trip advisor e o site Albamar diziam que o restaurante estava fechado. Muitos clientes ficaram desinformados. Como um bem tombado, deveria ter sido respeitado“, diz Eustáquio, que, em resposta, patenteou a logo original, com o nome diferente.
“Depois, entrei na justiça obrigando eles a mudarem o endereço do Albamar. Porque continua aparecendo nosso endereço, só que não somos mais Albamar. Vencemos a ação e hoje eles pagam R$200 diários de multa. No acumulado, já devem R$70 mil. Como não vão conseguir pagar, pode ser que eu recupere a marca. Mas vai ficar para o Iphan“, desabafou.
O Albamar foi inaugurado em 1933, num complexo que ficou conhecido como o mercado do Largo de Moura. Nos anos 1950, o complexo foi demolido para a construção da Perimetral, e o mercado transferido para a Cadeg. O imóvel do Albamar foi tombado pelo Iphan em 1962. Desde então, o local ficou famoso por receber figuras políticas importantes, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek. Nos últimos anos, deputados da Alerj viraram figurinha carimbada no local. Inclusive, a Lava-Jato representou queda no faturamento, pela prisão de vários dos antigos assíduos clientes.