No Rio, cidade que reúne algumas das universidades mais importantes do país, o lema “Pátria Educadora” nunca passou nem perto de ser uma realidade – na verdade, torna-se cada vez mais distante. Mesmo com a vitória de Dilma por aqui na campanha passada, o PT na base do governo municipal e estadual e um Senador supostamente interessado na causa estudantil, Lindbergh Farias (PT), os recursos não chegam – e, quando chegam, são muito mal aplicados.
A gigante UFRJ continua em greve, sem previsão de retorno. As matrículas do SiSu, por ex., serão feitas apenas após a greve, gerando insegurança aos que buscam ingressar na universidade. Matéria recente do G1 mostrou a situação precária em que se encontra o alojamento universitário – em vez de conforto e espaço, encontraram animais, entulho, obras inacabadas e alunos em depressão. Ontem (19/08), uma notícia circulou bastante e resume a situação de outra importante Federal do Rio de Janeiro: “UFF tem energia cortada por falta de pagamento”. A universidade está em greve desde Maio, completamente rendida: sem verba e sem perspectiva.
Ainda este mês, os professores da Associação de Docentes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (AdUnirio) paralisaram oficialmente suas atividades, tornando-se mais uma instituição federal em greve. A UERJ, que beirou a paralisação por contas dos terceirizados, é uma das poucas ainda em atividade.
Um fator novo comum a todas elas – e que tem dificultado as negociações – é a greve estudantil, promovida pelos Diretórios Centrais (DCEs) e Centros Acadêmicos (CAs) e abraçada por segmentos do dito movimento estudantil, que deliberam essas questões em assembleias usualmente esvaziadas. Completamente distantes da realidade, muitas das pautas parecem ter a menor preocupação com a sua viabilidade (por ex., 10% do PIB para a educação, em momento de crise econômica) ou com a universidade em si, como A queda de Eduardo Cunha ou Não à redução da maioridade penal – curiosamente, em momento algum se manifestam criticando o Governo Federal, maior responsável pelos cortes orçamentários da educação.
Hoje (20/08/15), por ex., há um ato nacional convocado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e reproduzido pelas Uniões Estaduais (UEEs) e amplamente abraçado pelas correntes supracitadas do movimento estudantil. As pautas?
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Contra o ajuste fiscal: que os ricos paguem pela crise!
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Fora Cunha: não às pautas conservadoras e ao ataque de direitos!
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A saída é pela Esquerda, com o povo na rua, por Reformas Populares!
São igualmente idealizadores deste ato a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Sem Terra (MST), que dizem estar reunidos “pela democracia e contra o golpe”, em evidente resposta às manifestações recentes que clamam pelo impeachment. Independentemente da opinião de cada um quanto a este, fica claro a todos que este Ato se propõe a ser uma resposta, um movimento em defesa do Governo Federal.
Dada a situação apresentada, pergunto-me porque a UNE o promove e abraça com tanto entusiasmo. Alguns a acusariam de governismo cego ou de estar cooptada, já que suas lideranças são filiadas ao PCdoB, partido da base governista e que controla a entidade há mais de 25 anos. Particularmente, a minha dúvida é saber o que é pior: a diretoria da UNE, que deixa de representar os estudantes por causa de interesses pessoais partidários, ou o PT e seu esforço contínuo – e nada republicano – de mantê-la sob controle. Deixo ao leitor que forme sua própria opinião.