O início de novos ciclos geralmente são momentos marcados por ansiedade, alegrias e incertezas. Um mix entre medo e coragem que nos impulsionam para navegar mares desconhecidos da epopeia de nossas vidas. E, quando se trata de política – afinal, tudo é sobre ela – a cada quatro anos os novos governos induzem na sociedade esse estado de espírito.
Para os operadores da política profissional, a bem da verdade, é um momento de muita correria, estresse e, sobretudo, fadiga. Somos constantemente bombardeados com novas informações e, em pouco tempo, temos o desafio de estarmos bem informados para compreender os cenários e peças do novo tabuleiro que se avizinha.
Sob este zeitgeist – para usar um termo do meu alemão empoeirado – foram os primeiros dias do governo Lula III. A ansiedade que rondou a frente ampla nesta primeira semana foi precursora de diversas confusões na Esplanada, principalmente no caso de ministros e líderes governistas se contradizendo publicamente. Para isso, entrou em cena a primeira reunião ministerial para afinar a comunicação e, finalmente, combinar a jogada com os russos – citando uma expressão cunhada por Garrincha, um dos maiores botafoguenses da história.
Ato contínuo, com tudo aparentemente afinado e pacificado, todos os olhos se voltam à Brasília para assistir às cenas lamentáveis dos atos do 8 de janeiro. Após a devastação por completo das sedes dos três poderes, com consequências que bagunçaram as peças do tabuleiro, temos como resultado novos inquéritos, políticos na berlinda, e uma grande pergunta: houve ou não houve omissão por parte do governo federal e distrital? Pergunta que deverá ser respondida pelo judiciário nos próximos meses.
Apesar de tudo, o desdobramento mais notável é um governo Lula que sai fortalecido, pois soube responder à altura e agora passa a dar as cartas surfando a onda da aprovação pela sociedade. Fato que pode ser positivo para consolidar a adesão na eleição para a mesa diretora que se aproxima. Além disso, aproveita o momento para dar investidas no seu maior rival com o levantamento do sigilo de 100 anos dos gastos no cartão corporativo – rapidamente colocando seu rival na berlinda que antes ocupava.
Por fim, a expressão utilizada por Frank Underwood da série House of Cards sintetiza perfeitamente os fatos, e prende a atenção dos espectadores para os próximos capítulos: “Se não gosta de como a mesa está posta, vire a mesa”. Assim começa mais uma temporada da nossa política brasileira.