Camelôs da Rua Uruguaiana pagam taxa semanal de R$ 100 para ‘trabalhar’

Segundo autoridades, no local há um esquema semelhante ao da milícia, confirmando a informação que havia sido dada pelo DIÁRIO DO RIO em novembro passado; exploradores dos camelôs definiam o local e os produtos a serem vendidos, além de oferecerem segurança

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Comércio ambulante na Rua Uruguaiana, no Centro do Rio de Janeiro - Foto: Diário do Rio

Camelôs clandestinos que atuam no meio da Rua Uruguaiana, no Centro do Rio, pagam uma de taxa semanal no valor de R$ 100 para trabalhar, segundo a Secretaria de Ordem Pública (Seop), em um esquema semelhante ao usado pelas milícias, afirmou secretário Brenno Carnevale. Relatórios da Seop mostram que os responsáveis pelo perímetro entre a Rua Buenos Aires e a Rua Sete de Setembro definiam o local e os produtos a serem vendidos, além de oferecerem segurança aos ambulantes. As autoridades públicas investigam a venda de mercadorias roubadas, especialmente celulares, na região.

O pagamento semanal pela camelotagem ilegal pelos pontos na rua foi revelado pelo DIÁRIO em primeira mão, na matéria sobre o caos na Uruguaiana, em novembro de 2023. Na época, escrevemos: Seguranças de prédios na região – os que ainda tem emprego – disseram em anonimato à reportagem que a “Prefeitura tem medo porque sabe que os camelôs da Uruguaiana tem a proteção da milícia e, em alguns pontos, do Jogo do Bicho”. Um deles explicou que os pontos onde os camelôs clandestinos ficam são antigos pontos de contravenção; mas que como ‘ninguém mais joga no bicho ali‘, o ‘dono dos pontos’ alugaria estes pontos para camelôs, que pagariam semanalmente pela ocupação do espaço público

“Existem pessoas ali que se intitulam donos do chão, verdadeiros milicianos do asfalto, que a gente vai combater com inteligência, estratégia, prevenção e com exercício de autoridade […] Vamos fazer fiscalizações, com reuniões com as polícias Civil, Militar e o MPRJ para o êxito dessa missão. Temos outras irregularidades daquela rua pelo próprio comércio formal e vamos combater, sempre com foco em ordenamento urbano e combate às milícias do asfalto que fazem cobranças indevidas para o uso do espaço público, que tem um único dono, a Prefeitura”, afirmou Carnevale.

Recentemente, o Shopping Paço do Ouvidor, na região, jogou a toalha. Encerrou esta semana as atividades de sua Praça de Alimentação refrigerada e com 1.500m2, com banheiros luxuosos e 2 escadas rolantes, por conta da escalada da camelotagem ilegal que, segundo informa uma funcionária do Shopping, ainda tinha o hábito de usar os banheiros do empreendimento e levar quentinhas para comer nas mesas da Praça, que, segundo anunciada na época, recebeu um investimento de mais de 5 milhões de reais para estar à altura de qualquer empreendimento da Zona Sul. Procurada, a assessoria do Shopping espelhado – prédio mais moderno da região – disse que está “estudando um novo mix”“A região está entregue às baratas e aos camelôs, que mandam e desmandam, inclusive impedindo a passagem de carros, cobrando pedágio, e agora mais recentemente, proíbem as pessoas de passar e atravessar de um lado a outro da rua, sem ser pelas ruas transversais. Fazem cara feia e ameaçam quem tenta penetrar o grande tubo azul”, diz a comerciante Henriqueta Dias, que fechou seu comércio e colocou sua loja pra alugar. Há 4 anos.

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A Feira de Acari, Zona Norte, que foi encerrada em ação de ordenamento urbano da Prefeitura, também está sendo investigada por receptação de produtos roubados, de acordo com Brenno Carnevale.

“Assim como estamos fazendo em Acari, que não está acontecendo feira tem cinco domingos, que era foco de receptação, sem prejuízo da regularização daqueles ambulantes que vendem produtos autorizados. A prefeitura regularizou a feira naquela região e a gente também vem fazendo uma ocupação em Campo Grande desde agosto de 2023, que já impactou no aumento de venda dos ambulantes regulares e naqueles que do mercado formal”, explicou o secretário.

A Feira de Acari, que acontecia no local desde a década de 1970, ficou conhecida pela venda de produtos com preços aquém do comércio legal. Muitas das mercadorias ali comercializas não tinham sequer nota fiscal. Para encerrar as atividades, a Prefeitura argumentou que o comércio popular não era autorizado, além de ter ligação com organizações criminosas.

Em uma ação conjunta entre os governos municipal e estadual, a proibição da camelotagem na Uruguaiana foi anunciada por Eduardo Paes (PSD) na rede social ‘X’, antigo Twitter, para cumprir as regras municipais, que não permitem ambulantes na via.

“Nas próximas semanas não será mais permitida a instalação de qualquer barraca ou ponto de comércio no espaço público. Não custa lembrar que temos fartas provas para mostrar que boa parte dos celulares roubados na cidade são comercializados ali”, comunicou a prefeito do Rio, atribuindo a Brenno Carnevale a responsabilidade de finalmente colocar ordem na região. A restrição vale para os vendedpres clandestinos que vendem produtos nas ruas e nas imediações, não atingindo os ambulantes que possuem boxes no camelódromo, que funciona regularmente.

Representantes do Movimento Unido dos Camelôs (Muca-RJ) – que invadiram criminosamente um edifício inteiro na rua do Riachuelo, recentemente – e e do chamado Fórum Popular de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro protestaram contra a medida, afirmando que ela criminaliza e persegue os camelôs que atuam ilegalmente no local. Supostamente a fim de encontrar uma “solução” para o “problema”, eles alegam querer diálogo com as autoridades.

“É lamentável que a gestão municipal opte por estigmatizar todos os camelôs da região, sem distinção e numa promoção que visa marginalizar a categoria na totalidade. Ao invés de promover a exclusão e marginalização desses trabalhadores, acreditamos que as autoridades deveriam buscar soluções mais inclusivas e que atendam às necessidades de todos os envolvidos. A simples remoção dos camelôs acusados de irregularidades não resolve o problema subjacente e apenas transfere essa situação para outras áreas, sem oferecer alternativas viáveis para esses trabalhadores”, protestou o Muca-RJ via comunicado.

Já o Fórum Popular de Segurança Pública do Rio diz q que a decisão do poder público municipal de eliminar o comércio de produtos falsificados, roubados oi sem controle de qualidade na região demonstraria o que chamam de um “racismo institucional”. “Hoje, o prefeito Eduardo Paes em suas redes sociais destilou todo seu ódio de classe e raça. Recentemente o prefeito também criminalizou os camelôs e o espaço da Feira de Acari, suscitando falas da classe artista de que a Feira é patrimônio desta cidade e de solidariedade à classe trabalhadora”, sublinhou o Fórum.

Em seu comunicado, o Muca-RJ disse que val atuar em parceria com o Fórum Popular de Segurança Pública do Rio na defesa dos supostos direitos e interesses da categoria, que enche as ruas do Rio ilegalmente, falindo o comércio da região, segundo dirigentes do comércio formal. “Não aceitaremos ser tratados com preconceito e negligência por parte das autoridades, e continuaremos nossa luta por uma cidade mais justa e solidária para todos”, finalizou o Movimento Unido dos Camelôs do Rio.

Informações: O DIA

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3 COMENTÁRIOS

  1. Não sei se é de milícia ou de jogo do bicho, não, essa história está muito mal contada e devia ser investigatida mais a fundo e não ficar fazendo ilações.

  2. O camelô tomou a rua. E a semanada de R$ 100 dependendo do que vendem é até pouco. A medida em que relativizamos a desordem ou por que conhecemos os vendedores por estarem alí todo dia ou por que próximo as suas residências tem comercio igual isso jamais terá reparo. Enquanto não meterem o pé na sua porta e se instalarem em sua casa, tudo bem.

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