Capela histórica em São Gonçalo está em péssimo estado de conservação

A igreja, que foi erguida no século XVII, foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), órgão estadual inoperante e que na prática, não exerce qualquer função, exceto a de afirmar que não possui recursos para coisa alguma. A Capelinha de Nossa Senhora da Luz foi construída em 1647.

Foto: Claudio Prado de Mello

O DIÁRIO DO RIO recebeu mais uma denúncia sobre o estado lastimável de bens culturais do Estado do Rio de Janeiro. Fotografias recebidas pela redação dão contas de que a Capela Nossa Senhora da Luz, localizada à beira da Baía de Guanabara, em Itaóca, que é um bairro da Zona Oeste do município de São Gonçalo, está em péssimo estado de conservação. São inúmeros os bens culturais fluminenses em situação de ruína e semi-ruína, como retratamos outro dia na matéria sobre o Palacete de Mandiqueira, e, pouco tempo antes, sobre a Fazenda Colubandê.

A igreja, que foi erguida no século XVII, teria sido tombada pelo município de São Gonçalo e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), órgão estadual inoperante e que na prática, não exerce qualquer função, exceto a de afirmar que não possui recursos para coisa alguma. Recentemente, comentou-se que o Instituto não possui recursos sequer para recolocar uma pequena placa de bronze que foi roubada no Largo do Boticário, na parede de uma casa, comemorando o pintor Augusto Rodrigues. O órgão virou uma espécie de anedota entre os servidores públicos do estado e arquitetos especializados em bens tombados, e é mais conhecido por ser sempre despejado de espaços que ocupa sempre por muito pouco tempo e pelos seus arquivos e mapotecas, deixados para apodrecer na sede abandonada de uma escola de dança, a Maria Olenewa. Entra governo e sai governo, e nada muda.

Tanto é o descaso com o patrimônio que a imagem da Santa que dá nome ao belo templo, que ficava no altar da capela setecentista, foi roubada no dia em que o arqueólogo Claudio Prado de Mello esteve no local. Ele contou que ao chegar lá, foi parado por “meninos da área” e que em uma segunda aproximação, criminosos quase levaram a câmera fotográfica que estava com ele.

Umas 5 ou 6 motos me cercaram e ficaram me rodeando por vários minutos, até que uma deu uma freada brusca em cima de mim, mas depois deu uma guinada lateral e seguiu adiante e todos os outros seguiram”, relatou o profissional sobre o momento de apreensão.

Ao saber do roubo da imagem, ele contatou a polícia e relatou o ocorrido. A estátua foi encontrada em um saco preto em uma estrada deserta de Maricá.

Depois de um tempo, conversando com um especialista sobre o caso, ele disse que desconfiava que a estátua não era original e pegou o livro do Monsenhor Pizarro ou Santuário Mariano. Realmente tinha a confirmação que a estátua original já tinha sido levada nos anos 1970”, contou.

A igreja de Nossa Senhora da Luz foi construída em 1647 pelo capitão Francisco Dias da Luz como forma de agradecimento por ter sobrevivido a um naufrágio próximo à região. Considerada uma das mais antigas de todo o país, a capela fazia parte da antiga Fazenda da Luz, que hoje encontra-se em ruínas. Com fachada em estilo barroco, a capela ainda tem as imagens originais de Santana, São Gonçalo do Amarante e do Cristo Crucificado, essa com um metro de altura.

Incorporada ao município em 1985, passou por obras de restauração no ano de 2001, há 21 anos. A sala de sacristia tem piso original em pedra e as telhas coloniais são do tempo de fundação. Só a porta da igreja tem cerca de 362 anos, e é um marco na arqueologia fluminense. Segundo relatos de moradores do entorno, a prefeitura de São Gonçalo não realiza qualquer tipo de manutenção no local há anos, e sequer mantém a sinalização que indica sua localização visível: ela está coberta por matagal. A linda e histórica capela católica fica na Av. Ivan dos Santos, 84-156, em Itaóca.

Atualização / Opinião:

Apesar de todo o noticiário sobre a Capela em várias fontes (G1, Extra, O São Gonçalo, etc) dizer que é tombada pelo Inepac, recebemos informação oficial de que seu tombamento seria só municipal, e que o bem não é tutelado pelo Inepac. Deve ser por isso que ainda está de pé, e não corre o risco de desabar amanhã como o Palacete da Mandiqueira, este sim, tombado pelo órgão.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Obrigado mais uma vez Diário do Rio e Quintino Gomes Freire por compartilhar nossos apelos e nossas preocupaçoes com o Patrimonio Fluminense.
    Essa tem sido uma verdadeira LUTA , enfrentando o descaso e preterimento das autoridades ao longo de DÉCADAS de abandono. Falta de estrutura, inoperância, falta de comprometimento e tambem a inércia do orgao em muitas gestoes muito contribuiu para esse estado calamitoso que se encontra o Patrimonio Fluminense nos dias de hoje . De qualquer forma, a LUTA continua sempre e estamos atentos e recebendo pelo BRIGADA DO PATRIMONIO ( 21) 98913 1561 denúncias de incêndios, atentados, colapsos e descaso com a nossa mais importante herança do passado – o patrimonioHistórico .
    Obrigado sempre pela repercussao dessas pautas tao importantes e entender a urgencia e gravidade desses assuntos.
    Todavia, cabe esclarecer que a Capela da Luz nao é tombada pelo INEPAC , e apesar de eu ter conhecimento que era tombada pelo IPHAN, acabo de verificar que o Processo de numero 864, iniciado em 1972 que pedia o tombamento federal do Conjunto Rural incluindo a Casa de Fazenda da Luz e a Capela da Luz foi INDEFERIDO. Portanto ela esta tombada somente a nível MUNICIPAL . Ou seja, a Capela Nossa Senhora da Luz foi registrada como patrimônio histórico municipal no ano de 1985.
    Seguimos a disposiçao e para maiores detalhes e outras fotos faça contato diretamente .
    Abraço do Claudio Prado

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