‘Centro de reciclagem’ em rua de Copacabana inferniza a vida de moradores

Rua República do Peru, nas proximidades da Av. Atlântica, virou um centro clandestino de reciclagem, com toda a desordem da atividade, mendigos e muito cheiro de maconha. Imóveis locais já registram desvalorização

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Centro de Reciclagem - Arquivo Pessoal

Assim como algumas regiões do Centro da cidade e quase toda a Zona Norte, Copacabana, na Zona Sul carioca, tem padecido com o abandono e a informalidade. Moradores do bairro reclamam há tempos da balbúrdia que domina as ruas da Princesinha do Mar. A população de rua é inclemente em suas ações de desordem e desrespeito às pessoas, inclusive às autoridades. Ruas e mais ruas servem de dormitório, banheiro, ringue de luta e ponto de encontro para bate-papos regados a álcool e, muitas vezes, a drogas das mais variadas. Não é de hoje que o DIÁRIO DO RIO é acionado por pessoas desesperadas com o barulho, a sujeira, a desordem e as ações violentas dessa população descontrolada, que se acha dona das ruas da cidade.

Esta semana, o jornal recebeu mais uma reclamação de uma moradora atordoada pelas inúmeras noites de insônia pelas quais tem sido obrigada a passar. Desta vez, o caso está relacionado à outrora nobre Rua República do Peru, nas proximidades da Avenida Atlântica, endereço da praia mais famosa do mundo. No local, segundo fotos obtidas pela mulher que não quis se identificar por medo de represálias, os moradores de rua montaram um verdadeiro “centro de reciclagem” de lixo e materiais de procedência duvidosa e desconhecida. Tudo clandestinamente.

Segundo a mulher, o barulho à noite é insuportável, inviabilizando o descanso das pessoas após um dia exaustivo de trabalho. Ela relatou que, além de bate-bate da separação do material que é vendido à quilo em ferros-velhos, ou caminhões estrategicamente estacionados para a compra das montureiras de bagulhos, os “trabalhadores” fazem uma arruaça sempre precedentes durante os “turnos” de serviço, especialmente à noite. Eles falam alto, brigam e xingam uns aos outros, enfim, promovem uma verdadeira balbúrdia, que, inevitavelmente, incomoda a vizinhança, que, ao reclamar, é agredida verbalmente, e se insistir, corre o risco de ser agredida fisicamente. Todas as manhãs as Kombis de ferro velho itinerante que circulam impunemente – caindo sempre aos pedaços – pelas ruas da região compram a ´xepa´, enquanto gritam o mantra a altos volumes em seu microfone fanho: “compro ferro velho, compro geladeira velha, compro panela velha, compro fogão velho” .

Muito próximo ao “centro de reciclagem” funcionam duas unidades educacionais, o Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, e a Escola Municipal Dr. Cícero Penna. Todos os dias estudantes de todas as idades têm que passar perto de sacos de garrafas pet e de latas de alumínio, além das caixas destinadas ao “depósito” dos materiais diversos catados pelas ruas do bairro.

Por conta da quantidade do lixo, os ratos fazem a festa na região, assustando transeuntes, especialmente mulheres com crianças, pessoas com problemas de mobilidade e idosos, que ao se assustarem com a aparição dos animais tentam correr, passando por claro risco de quedas.

A denunciante mostrou ao DIÁRIO DO RIO que, para ser torturada pelos trabalhadores do “centro de reciclagem”, ela paga um Imposto Sobre Propriedade a Predial e Territorial Urbana (IPTU) de R$ 9.000,00, afora todas as outras despesas relacionadas à manutenção do seu apartamento, que é invadido pelo barulho do amassar de latas, de garras pet, do desmonte de peças de alumínio, entre os ruídos próprios da atividade de um “centro reciclagem”. Tudo isso durante à noite. Sem contar o cheiro de maconha que é queimada pelos “trabalhadores” como se fosse incenso, fazendo que os moradores, ou quem passa pelo local, se torne um viciado passivo do entorpecente.  

Sobre as consequências imobiliárias do caos instalado na via, que fica próxima ao Hotel Copacabana Palace, outros hotéis, casa de show, e restaurantes frequentados por turistas nacionais e internacionais, o corretor Adriano Nascimento, que trabalha na região há décadas, comentou: “A Rua República do Peru era uma das mais valorizadas de Copacabana. Desde que se instalou esse caos, os apartamentos já caíram quase 30% de preço”.

Essa é uma das consequências desastrosas da desordem instalada na República do Peru, sem falar no desassossego, medo e impotência das pessoas que moram nos edifícios locais. Independentemente do valor do IPTU, do aluguel, ou do imóvel, as pessoas têm o direito de entrar nas suas residências e dormir depois de um dia de trabalho na cidade, que, apesar de linda, não dá trégua quanto à desordem e a violência urbana.

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1 COMENTÁRIO

  1. O que eu não consigo entender o papel da Guarda Municipal ou da Polícia Militar. Que na hora que o morador paga o seu IPTU por sinal caríssimo, não vê um agente de segurança público. Agora, o que se vê é segurança particular para tomar conta dos restaurantes. A Prefeitura coloca agentes públicos sem noção da preservação do ambiente e do patrimônio urbano e de suas peculiaridades. Quanto o da PM é um trabalho de Inteligência para averiguar se há entrega de material do lixo por drogas. Alguém já escutou na parte da manhã um megafone de uma Kombi passando em diversas ruas pedindo material como ferro e cobre para reciclagem? O problema está aí. Geralmente é o horário, assim como a noite e pela manhã que não existe a presença de um GM. A mendicância além de pegar os sacos de lixos dos prédios antes da passagem do caminhão de lixo, separam de madrugada o material que é de interesse dessa Kombi e pela manhã o material recolhido é repassado por essa Kombi. É por isso que se vê tanto mendigo dormindo na rua. Se prepara para o Réveillon.

    Já desci a rua para ver o itinerário e acompanhei o seu recebimento dos materiais recolhidos do lixo. O disfarce das pessoas da Kombi é de anunciar a recolha de eletrodomésticos velhos e quebrados, que não é, pois já ofereci um liquidificador que foi recusado.

    O que tem que fazer primeiro é procurar uma Associação de Moradores do bairro, se é que existe, e depois é provocar o Ministério Público dos núcleos de Cidadania, Meio Ambiente e Saúde e entrar com o processo contra a Prefeitura que tem responsabilidade sobre o uso comercial do espaço público e do transtorno que esse tipo de comércio traz a comunidade, principalmente, na madrugada. Entra também a questão da Lei do Silêncio, também. É mandar fotos, gravar a recusa do dono da Kombi que diz recolher materiais reciclados e solicitar a Prefeitura que tome medidas cabíveis quanto ao número de pessoas que vivem desse comércio, seja para comprar drogas ou outra coisa. Fácil, não?

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