Centro Dom Vital: Alceu Amoroso Lima e a ideia de Neocristandade

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Alceu Amoroso Lima (1893-1983)

A ideia de um retorno ao modus de organização da sociedade aos moldes da cristandade será uma discussão intensa no século XX. O ideal de neocristandade gira em torno de uma concepção unívoca entre Estado e Igreja. Esse desejo e concepção encontra respaldo no magistério dos Papas até a segunda metade do século XX.  

A mentalidade e imaginário da intelectualidade católica do final do século XIX foi profundamente marcada pela publicação da Encíclica de Leão XIII, Imortale Dei,que voltava a condenar as democracias modernas e de modo especial a ideia de um estado indiferente à religião e até mesmo que não estivesse submetido a seus valores. No Brasil esse ideal encontrou uma voz e iniciativa mais firmes a partir do projeto de renovação do catolicismo nacional com Dom Sebastião Leme no plano da Igreja hierárquica e Alceu Amoroso Lima no plano do laicato.[1]

Alceu Amoroso Lima, grande líder do laicato brasileiro no século XX teve seu pensamento político fortemente influenciado e até mesmo tutelado por Jacques Maritain. De certo modo a evolução do pensamento político de Alceu acompanhou a de Maritain.  Amoroso Lima atuou no projeto do Cardeal Leme de renovação da hegemonia eclesiástica nacional, que era fortemente imbuída de um ideal de neocristandade muito marcado pela tendência ao regresso a uma Idade Média idealizada. 

A evolução das ideias políticas de Amoroso Lima seguiu um percurso muito parecido com o do filósofo francês Jacques Maritain, que começou a influenciar o pensamento de Alceu a partir dos anos 1920. Nesse período, o mais agudo do tomismo maritaniano e de maior proximidade do autor com a Ação Francesa, trazia em suas linhas um forte apelo ao retorno de uma cristandade hegemônica. Maritain estava profundamente envolvido com os ideais de restauração da hegemonia eclesiástica capitaneada pelo Papa Pio XI. Já em 1922 publica sua obra Antimoderne que é uma chave para a compreensão de como o neotomismo era interpretado como a alma da neocristandade ultramontanista.

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O filósofo francês Jacques Maritain (1882-1973)

A natureza do neotomismo de Maritain não contemplava mediações modernas e tampouco contemporâneas. Tratava-se, pois, de um resgate do modus escolástico de Santo Tomás produzir filosofia.[1] Isso tudo estava contido dentro de um grande projeto de restauração do estado de ideal cristão.    

Neste mesmo período, no Brasil, nascia o Centro Dom Vital, por iniciativa de Dom Sebastião Leme e Jackson de Figueiredo, em uma tentativa de reunir a intelectualidade católica em prol de um projeto de restauração da cristandade brasileira. Destacava-se no campo dos estudos tomistas o jesuíta padre Leonel Franca, de forte caráter escolástico e apologético. Respirava-se no Brasil deste momento, especialmente no Rio de Janeiro, então Capital Federal, o ambiente das ideias movimentadas pela Ação Francesa. Será também neste contexto que ocorrerá, capitaneada por Dom Leme e Jackson de Figueiredo, a conversão de Alceu Amoroso Lima, a se tornar o principal líder do laicato nacional por décadas. 

            Havia também um fator de identificação do conservadorismo católico e o integralismo de Plínio Salgado do qual Amoroso Lima se

            Em 1926, o Papa Pio XI conde a AçãoFrancesa de Charles Maurras. Em 1928 morre no Brasil Jackson de Figueiredo. Amoroso Lima assume a liderança do Centro Dom Vital e da Ação Católica ainda com uma conotação fortemente restauradora. Na verdade, o período do pontificado de Pio XI, de 1922 a 1939, teve como tônica o empenho de a Igreja estabelecer vínculos políticos em prol da reconstrução da cristandade.[2]

            A situação começará a mudar em 1936 com a publicação de Humanismo Integral. É a partir dessa obra que se desenvolverá uma crítica ao antigo modelo e a sistematização de um ideal de neocristandade fundada nas convergências entre a ética cristã e os valores emergentes na sociedade contemporânea, especialmente no que se refere às liberdades individuais, que acabam por incidir na dignidade da pessoa humana e marcam as democracias liberais.


[1] MARITAIN, Jacques. Antimoderne. Paris, 1922. Editions de La Revue des jeunes, p. 175.

[2] A Trajetória da ideias políticas de Alceu Amoroso Lima. Cad. Hist. Educ. Vol.20. Uberlândia 2021. Epub 29-Jan 2022


[1] ATeo, Rio de Janeiro, v. 23, n. 62, p. 464-482, mai./ago, 2019.

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1 COMENTÁRIO

  1. Estado e religião não devem se misturar jamais. Hoje temos aí o Evangelistão-Milico-Empreendedor no Brasil que nos leva para uma distopia em ritmo acelerado.

    O Estado deve ser laico. Sempre.

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