Chico Alencar – 13 de maio: A lição da abolição

O colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre as lições da Abolição da Escravatura

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Multidão se reúne em frente ao palácio do governo, no Rio, em 1888 / Fonte: Agência Senado

Foi há exatos 135 anos que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Na ocasião, a Monarquia promoveu grandes festas na Corte (Rio de Janeiro) durante três dias. Viagens de trens e teatros foram abertos ao público. Mas nem a Abolição salvou o regime, que estava em crise e caiu um ano e meio depois.

Sobre o fato histórico – que nos ensina a compreender melhor o presente – é preciso lembrar que:

1) as lutas abolicionistas vinham desde meados do século XIX, com a criação de associações para libertar os escravizados e, sobretudo, com a resistência negra, como a dos jangadeiros e a fuga para os quilombos: a luta fez a lei!
2) quando a escravidão foi extinta, a mão de obra servil já deixava de ter tanta importância, correspondendo a 5% da população brasileira; crescia o assalariamento, sobretudo no Oeste Paulista cafeeiro;
3) a Lei Áurea, que apenas declarava extinta a escravidão no Brasil, não tratou da inserção dos ex-escravizados na sociedade. Para onde iriam os cerca 700 mil “libertos”, onde trabalhariam?
4) os fazendeiros do Vale do Paraíba, escravocratas, voltaram-se contra o Império, por oportunismo: “Queremos a República, com indenização!”

As lições da Abolição foram sintetizadas em versos de sambas de enredo da Mangueira: “Livres do açoite da senzala, presos na miséria da favela” (1988); “Não veio do céu/ nem das mãos de Isabel/ a liberdade é um dragão no mar de Aracati” (2019) – referência ao líder jangadeiro cearense, Chico Nascimento, o “Dragão do Mar”.

Nesses tempos de tanta superficialidade, falsas narrativas e desinformação, vale “contar a História que a história não conta/ com versos que o livro apagou” e descobrir “um país que não está no retrato”: “na luta é que a gente se encontra”.
(versos de L. Carlos Máximo, Silvio Moreira, Danilo Firmino, Manu da Cuíca, Deivid Domenico, Márcio Salviano, Ronie Machado e Tomaz Miranda)

Até hoje o passado bate à nossa porta. Só neste 2023, já foram resgatados 1201 trabalhadores em situação análoga à da escravidão (dados do Ministério do Trabalho). Preconceito e racismo estrutural têm que ser combatidos!

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2 COMENTÁRIOS

  1. Salve Chico!

    Além dos casos de trabalho análogo à escravidão, há a superlotação de presídios – verdadeiros depósitos de carne humana – onde prevalece a população negra e pobre. Dado o teor dos comentários aqui neste portal, quando o assunto é criminalidade, tem muitos por aqui que sentem uma tara incontrolável de ver esses abatedouros cada vez mais abarrotados de gente preta.

    E o que dizer da população largada nas ruas, causando horror na ‘limpinha’ classe média, os tais “cidadãos de bem”? Os comentários ilustram bem o que essa gente pensa que deveria ser feito com quem não teve a sorte de nascer com pele clara e de crescer sem abandono e precariedade.

    Ao invés de nos mobilizarmos em prol da melhoraria e da ampliação do Estado e das políticas públicas de inclusão, cada dia que passa o projeto que ganha mais apoio é o de liquidação do patrimônio público, privatização do país e incentivo ao individualismo. E quem não tem mérito para se valer e prosperar por conta própria, que apodreça até a morte.

    Falta de empatia, truculência e sede de sangue são o oxigênio desta nossa sociedade desigual. Tudo temperado por um misticismo tosco (ou seria esse o ingrediente principal?), que atrofia a inteligência. Tenho sérias duvidas se há algo a se fazer que não seja só lamentar. Adianta tentar argumentar para provocar reflexão? Quem está dominado por preconceito e ódio consegue refletir?

    Um abração.

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