Chico Alencar: A cada morte, nossos gestos em favor da vida

Ser solidário é agir, dentro das possibilidades de cada um. E você, já fez a sua parte?

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
Foto: Reprodução/TV Globo

Mães gritando por suas filhas. Filhos procurando por seus pais. Agonia, dor e morte. A cada novo boletim informativo que a televisão mostra, nos deparamos com cenas que parecem filme de catástrofe, mas que, infelizmente, aconteceram na amável e histórica cidade de Petrópolis, atingida na terça-feira, dia 15, por um “tsunami” de chuva e lama que inundou, soterrou e destruiu.

Não é a primeira vez que Petrópolis sofre com chuvas e desabamentos. Em 1988, foram 134 vidas perdidas na “Cidade Imperial”. Em 2011, foram 918 em toda a Região Serrana fluminense (mais 99 que desapareceram) – sendo 71 em Petrópolis. Agora, já são 104 pessoas – de 2 a 80 anos! – mortas e ao menos três dezenas ainda não encontradas. Uma desgraça terrível.

Sim, foi a maior chuva em Petrópolis desde 1932, quando começou a medição. Isso, no entanto, não torna menor a responsabilidade dos governantes. Pelo contrário.  Já era para terem tirado lições com as tragédias que ceifam vidas.

No caso de Petrópolis, as ações do Poder Público têm sido negligentes e insuficientes.  Vejam só. Os programas habitacionais andam lentamente (após 2011, da previsão de construção de 7.235 casas, ainda faltam 3 mil). Obras de controle de inundações, drenagem e recuperação ambiental na calha de rios foram paralisadas em 2014, só sendo retomadas ano passado. Dos R$ 2,27 bilhões que o Ministério das Cidades – extinto por Bolsonaro – disponibilizou em 2011 para recuperar a Região Serrana, apenas 50% foram utilizados pelas prefeituras da região (falta de planejamento adequado, entraves burocráticos na Caixa Econômica etc).

Boa parte do Plano de Redução de Risco de Petrópolis, que recomendava, há uma década, o reassentamento de 7.177 famílias – muitas residentes nas 102 áreas de risco do 1º distrito, o mais atingido pelas chuvas de ontem – não saiu do papel.

Constatar que choveu em 6 horas o correspondente ao volume esperado para um mês (mais de 200 mm) não basta. A realidade é que vivemos num mundo de extremos climáticos – desertificação de um lado, inundações de outro. Colabora para isso o modo como ocupamos o planeta e erguemos nossas cidades tão desiguais: sem cuidado, planejamento e programa habitacional sério para os moradores de baixa renda.

Os extremos climáticos da atualidade exigem postura diferente, tanto das autoridades quanto da sociedade, em todo o planeta. É preciso mudar urgentemente nosso modo de ocupar o solo, de construir cidades e vias, de produzir e distribuir nossos alimentos. A sociedade da ganância, da especulação, do desmatamento e do veneno acaba gerando tragédias humanas. A mãe Terra, com seus ciclos vitais agredidos pela rapinagem humana, reage com vírus letais, estiagem prolongada, temporais…

Nesse momento, porém, o mais importante é cumprir o dever da solidariedade. Essa consciência, felizmente, parece não estar anestesiada em nós. Cada cena chocante e trágica que continuamos a ver não deve apenas nos comover. Deve nos mover também.

Ser solidário é sentir na pele a dor do outro – e ela é imensa em Petrópolis, nesse momento. Ainda que devastada como se tivesse sido bombardeada numa guerra, a “Cidade Imperial” se mobiliza, entre lama e lágrimas.

Entidades públicas e privadas, de muitos lugares e tamanhos, também estão fazendo a sua parte. Aqui no Rio, entre outras instituições, a Câmara Municipal, na Cinelândia (Palácio Pedro Ernesto), está recebendo doações, entre 9h e 18h. Como a Alerj, a OAB, a Fecomércio, unidades da PM e dos Bombeiros.

Ser solidário é agir, dentro das possibilidades de cada um. E você, já fez a sua parte?

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Chico Alencar: A cada morte, nossos gestos em favor da vida

1 COMENTÁRIO

  1. Gostaria que o político, ao invés de ficar falando apenas, fizesse como os cidadãos de bem que foram em Petrópolis nos locais atingidos e colocar a mão na massa ajudando na retirada de vítimas… mas é melhor ficar no ar condicionado, pq fazer algo, dá trabalho… o ministério extinto, só serviu para enviar dinheiro que foi desviado ou esqueceu?!? Cansa tanta demagogia e por isso Bolsonaro foi eleito… graças aos “intelectuais” que vivem em suas bolhas ungidas de grande sabedoria, às quais de 4 em 4 anos são afetadas por uma corrida insana, e continuam com os mesmos pronunciamentos dos poetas da ficção, porém, solução?!? Nunca veio, apenas palavras ao vento…

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui