A colonização portuguesa no Brasil, além de escravização e grande concentração da propriedade, nos legou uma tradição bacana: cada cidade que se formava tinha um santo padroeiro.
Todos são festejados na data de sua morte – considerada a passagem para a vida eterna.
Conhecer sua história, para além da mística de suas bençãos, ajuda a compreender cada cidade brasileira e o que lhe dá nervo e coração: o povo que a habita.
São Sebastião, que nasceu no século III da nossa era, viveu na região que hoje chamamos de Itália, em Milão. Ingressou na Legião Romana e fez parte da guarda pessoal (pretoriana) do Imperador.
Sebastião, fascinado pelo cristianismo nascente, não aceitava a perseguição e tortura aos fiéis das comunidades, que tinham que, para sobreviver, praticar seus cultos nas catacumbas.
Essa solidariedade com os perseguidos e o repúdio à violência covarde do Império levaram o Imperador Diocleciano a punir nosso Tião como “traidor” – a ser executado com flechadas.
Jogado num rio, como morto, sobreviveu e, recuperado, voltou a denunciar as perseguições. Foi novamente condenado à pena letal, dessa vez a pauladas – literalmente linchado.
Seu corpo destruído foi jogado nos esgotos de Roma e seus restos mortais, recolhidos por uma mulher piedosa (Santa Luciana) foram depositados numa catacumba.
São Sebastião, que celebramos hoje, padroeiro de centenas de cidades brasileiras, em todos os nossos estados (Oxóssi na devoção da nossa rica africanidade), é símbolo de peito aberto. De resistência, coragem, senso de justiça e de repúdio a todo preconceito. E da perenidade desses valores.
Como eles são necessários na “muy leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”. Rio lindo, composto de montanha e mar, natureza especial no planeta. Bonito e jovial como seu santo protetor.
Rio, como Sebastião, flechado por desigualdade, brutalidade, miséria, poluição, perda da gentileza cotidiana. Rio ainda maravilhoso, apesar de tudo.
Rio berço do samba e de lindas canções. Como “Estação Derradeira”, do carioca Chico Buarque: “Rio de ladeiras/ civilização encruzilhada/ cada ribanceira é uma nação (…)/ São Sebastião crivado/ nublai minha visão/ na grande fogueira desvairada/ Quero ver a Mangueira/ derradeira estação/ quero ouvir sua batucada ai ai…”
São Sebastião, padroeiro, guardião, protegei-nos, a cada um e cada uma, à toda a multidão!
Usando a arma do inimigo: Comunista não tem lugar de fala para falar de São Sebastião.
Tai um texto que representa os cidadãos do Rio de Janeiro.