Onde estão Bruno e Dom? Essa pergunta, carregada de urgência e dirigida aos agentes públicos de segurança e ao governo federal, está sendo ecoada Brasil afora e no mundo inteiro. Diz respeito ao paradeiro do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, desaparecidos desde domingo (5) no Vale do Javari, Oeste do Amazonas.
O presidente Bolsonaro, questionado pela imprensa, afirmou que “duas pessoas em um barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça.” Parece querer atribuir às vítimas a culpa pelo seu desaparecimento.
Ora, Bruno e Dom não estavam lá a passeio. Ambos são experientes profissionais e conheciam a região.
Bruno, 41 anos, é exímio conhecedor de dialetos indígenas e da geografia da região Amazônica. É funcionário licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) e esteve à frente da Coordenação Regional do Vale do Javari, até ser exonerado do cargo pelo governo Bolsonaro. Quando eu exercia mandato federal, Bruno foi a meu gabinete para reivindicar emendas orçamentárias para proteção dos povos isolados. Bruno é dedicado aos mais invisibilizados.
Dom Phillips, jornalista inglês, mora no Brasil há 15 anos. É casado com uma brasileira e tem duas filhas. Já havia estado várias vezes na Amazônia como correspondente internacional. Atualmente escreve um livro sobre a região: “Como Salvar a Amazônia”.
Assim como Bolsonaro quer atribuir o episódio a uma “aventura não recomendável”, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, tentou imputar o desaparecimento aos índios, e a uma possível desobediência da dupla, que não teria cumprido os protocolos definidos pela Fundação antes de entrar em terras indígenas. “É muito complicado quando duas pessoas apenas decidem entrar na terra indígena sem nenhuma comunicação aos órgãos de segurança e à Funai”, disse em entrevista.
Foi desmentido. Bruno e Dom não entraram em terras de índios, mostrou o Jornal Nacional, em reportagem nesta quinta-feira (9). Além disso, Bruno é respeitadíssimo pelas lideranças locais, que o consideram a maior autoridade do país em trabalho de campo com índios isolados.
Vale dizer que o presidente da Funai é um delegado bolsonarista da Polícia Federal, que assumiu a presidência do órgão em meados de 2019. Desde então, segundo especialistas no assunto, tem falhado no papel legal e institucional de proteger e promover os direitos dos povos indígenas.
Pelas reiteradas declarações e ações nefastas de seu governo, que estimulam o garimpo, a pesca ilegal e a exploração clandestina de madeira, está claro que Bolsonaro ajudou, e muito, a criar esse clima de banditismo na Amazônia.
Para se ter uma ideia, só no ano passado o desmatamento na região Amazônica aumentou 29%, o maior em 10 anos.
O desmonte da Funai e do Ibama, a omissão do atual comando da Polícia Federal e a leniência do Exército na área faz com que, por lá, pistoleiros profissionais, traficantes de drogas, ouro e madeira, grileiros de terra, se sintam à vontade para impor suas regras.
Apesar das mentiras, do estímulo à delinquência, do pouco caso com a Floresta e seus povos originais, é imprescindível que Bolsonaro e sua turma venham a público responder a pergunta que não quer calar no mundo inteiro: onde estão Bruno e Dom?
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.
Separe a cobrança de danos da Amazónia legal de qualquer cobrança política. Se é necessário cobrar do presidente eventos isolados por conta de sua linha de pensamento ou ações, por que então seu gabinete e seu partido não cobra o por que tem milhares de pessoas sitiadas nos morros por causa do comércio de drogas, muitas delas desaparecendo sem dar qualquer sinal de vida, atividade esta que muitos querem legalizada mas que, por causa dela, muitas regiões selvagens do Norte do pais são convertidas em plantação? Quer se indignar, faça isso com problemas mais perto de casa. Menos história e mais ação, força no braço.