Chico Alencar: Para tudo se acabar na quarta-feira

O primeiro dia da Quaresma é a quarta-feira de Cinzas, que leva esse nome por causa do costume de se marcar a testa dos fiéis com as cinzas de uma fogueira, em sinal de penitência e de lembrança da nossa finitude

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Imagem meramente ilustrativa de movimentação carnavalesca em 2019 no Centro do Rio - Foto: Reprodução

Chamamos o último dia de carnaval de “Terça-feira Gorda”. O apelido vem do francês “Mardi Gras” que, por sua vez, deve ser herança de uma tradição antiga do Carnaval parisiense, denominado desfile do “Boi Gordo”.

Seja qual for a origem, a terça-feira é o dia do encerramento oficial dos quatro dias de folia. A partir daí, segundo a tradição católica, tem início o período da Quaresma (quarenta dias), quando os fiéis devem se dedicar às questões espirituais até o Domingo de Páscoa.

O primeiro dia da Quaresma, como sabemos, é a Quarta-feira de Cinzas, que leva esse nome por causa do costume de se marcar a testa dos fiéis com as cinzas de uma fogueira, em sinal de penitência e de lembrança da nossa finitude (“tu és pó e ao pó retornarás”).

Se esse período é caracterizado por contrição, o Carnaval é visto como o seu contrário: é o momento do excesso, da diversão, da transgressão, da mistura, da troca de papéis, da quebra da hierarquia, da celebração do prazer e da vida.

Ao longo dos anos, o Carnaval foi mudando. Chegou ao Brasil na forma de entrudo, trazido pelos portugueses. Uma brincadeira não muito civilizada, onde se jogava limões de cheiro (ou nem tão cheirosos assim), baldes de água e farinhas nos transeuntes e suas famílias.

No Carnaval de 1850, aos 74 anos, o arquiteto francês Grandjean de Montigny, autor do projeto da Casa França Brasil, foi uma das vítimas desta brincadeira de mau gosto. Depois de ser encharcado por baldes de água fria, o famoso arquiteto pegou pneumonia e faleceu.

Nos dias atuais, o entrudo acabou, sendo substituído por outras maneiras de comemorar a data. Há quem goste de se esbaldar na mistura democrática do Carnaval de rua. Há quem prefira assistir ou participar sambando em alguma ala dos belos desfiles das escolas de samba. Tem o ritmista que ama tocar seu instrumento, seja ele cuíca, tamborim, repique ou surdo. Tem folião que prefere os bailes de clube ou salão. A maioria gosta de se fantasiar (a criatividade corre solta nas ruas), mas encontramos também quem prefira ir vestido de “normal”.

Com máscara ou sem máscara, de cara limpa ou não, de biquini ou roupa, seja velho, jovem, criança, homem, mulher, ou LGBTQI+, rico ou pobre, não importa, tem Carnaval para todos os gostos. É isso que faz a magia da festa e a torna tão popular e amada.

A partir da quarta-feira, a realidade bate de novo na porta de cada um. Pode sobrar, no máximo, uns resquícios de purpurina no cabelo ou na barba. É como diz a famosa música de Tom e Vinícius, “A Felicidade”: “A felicidade do pobre parece/A grande ilusão do Carnaval/A gente trabalha o ano inteiro/Por um momento de sonho/Pra fazer a fantasia/De rei ou de pirata ou jardineira/E tudo se acabar na quarta-feira.”

No ano seguinte, a folia se repete e estaremos todos participando dela. É o que esperamos que aconteça ano que vem, quando iremos à forra dos dois Carnavais sem Carnaval, por conta da pandemia do coronavírus. Será uma linda festa!

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