A fome, sabemos, é crônica em nosso país. É um problema que pode – e deve – ser atacado com políticas públicas consequentes, voltadas para a população mais vulnerável. Não é o caso do (des)governo federal autoritário que aí está, com sua política econômica ultraliberal, que favorece os mais ricos e o grande capital.
Com a pandemia, o que já era ruim piorou muito. Hoje, temos 19 milhões de brasileiros passando fome e 116 milhões, aproximadamente, em insegurança alimentar. Vivemos um momento econômico difícil, de inflação como há muito não se via. As TVs mostram cenas lamentáveis e chocantes de pessoas disputando restos de ossos e de pelanca.
Quem caminha pela nossa cidade percebe que a miséria e a fome crescem a olhos vistos. Por isso, é inconcebível que 5 restaurantes populares estejam fechados. Eles deviam estar abertos, permitindo que a população tenha acesso a refeições.
Foi com o propósito de chamar a atenção para a urgência da reabertura dos restaurantes populares e cobrar uma atitude do Governo do Estado, que a Frente Parlamentar Contra a Fome da Câmara Municipal Rio, da qual faço parte e que é presidida pelo colega de bancada do PSOL, Dr. Marcos Paulo, organizou na última quarta-feira (10) um ato em frente ao que sobrou do antigo Restaurante Popular Herbert de Souza, o Betinho, na Central do Brasil. A iniciativa teve o apoio da Ação da Cidadania e do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras).
O restaurante estaria completando 21 anos. Enquanto em funcionamento – fechou em 2016, devido à crise fiscal do governo do Estado -, ajudava a matar a fome de cerca de 3 mil pessoas por dia. Hoje, o prédio está em ruínas. Situação semelhante vivem os outros quatro restaurantes sob gestão do governo do Estado (Madureira, Méier, Cidade de Deus e Irajá).
Diante da pressão, o Governo do Estado prometeu reinaugurar o restaurante da Central ainda em dezembro. A expectativa é que as outras quatro unidades fechadas, fundamentais no combate à fome e à insegurança alimentar, sejam reabertas no ano que vem.
O governo também prometeu construir 5 novos restaurantes populares: Rocinha, Maré, Alemão, Jacarezinho e Santa Cruz. Já a Prefeitura anunciou que vai inaugurar 28 cozinhas comunitárias, até 2022 (ano eleitoral produz milagres!). Atualmente, apenas 3 unidades funcionam: Bonsucesso, Campo Grande e Bangu.
Tem muita gente com fome precisando de ajuda. Não podemos ficar de braços cruzados. Foi comovente ver a alegria e a satisfação no rosto sofrido de quem pegava uma das 500 refeições que foram distribuídas durante o ato.
Que a frase do saudoso Betinho, que dá título a esse artigo, seja lembrada pelos governantes e os faça agir para a urgência de quem tem fome!
Chico Alencar é professor, escritor e vereador (PSOL).