Existe um mundo do qual a maioria das pessoas não toma conhecimento. Uma gente que parece que nasceu de chocadeira. Uma gente cuja a vida é feita de apenas uma palavra: sobreviver. Uma gente sem afeto, sem ligação com o que se passa sobre o solo. Uma gente que vive entre si, sem possibilidade de ver o sol. Dessas temas é o que trata Órfãos, um clássico da dramaturgia americana.
Escrita em 1983, Orfãos é um teatro para os sentidos e emoções, não para a mente. A peça em si, de Lyle Kessler, é melhor considerada como um trampolim tenso para seus atores pois não há razão a alcançar o que se passa em cena. Um triângulo que se digladia por tudo. Pela surpresa, pelo ódio, pelas diferentes semelhanças que leva à platéia a se sentir o tempo todo como deslocada do que se vê, o que se transforma em emoção.
A direção de Fernando Philbert extrai o melhor dos atores em uma história em torno dos irmãos Phillip (Lucas Drummond) e Treat (Rafael Queiroz), que vivem em um lugar abandonado e só têm um ao outro. Treat, o mais velho, comete furtos para sustentá-los. Já Phillip não sai de casa há anos. Até que eles conhecem Harold (Ernani Moraes), um homem mais velho que irá transformar suas vidas.
Além da frenética movimentação no palco, os 3 atores se alternam com vozes, gestos, encontros que vão subindo o tom até o clímax final. Um caleidoscópio que se monta em um cenário de Natália Lana , puro trash, mas moldura perfeita para o que se vê. A criação do fascínio se dá pela mistura de um humor cáustico, ferino, absurdo com um melodrama metafísico, no qual destinos, aparentemente, simplórios se engrandecem, com o seu encontro. Philbert e os 3 atores , com uma rara eficiência, criam em um ambiente assustador e hermeticamente fechado, onde cada evento estranho parece mais real do que real. Os homens que vivem neste mundo assustador, batem suas cabeças contra suas paredes, enquanto nós agradecemos, por incrível que pareça, termos tidos pai e mãe.
- Serviço
- Teatro Glaucio Gill
- Sábados e domingos às 20h