Num dia que não era qualquer, passei por Jacarépaguá. Mal sabia que conheceria uma coroa muito especial. Lá no alto vi uma igreja e fiquei pensando em como seria o visual. Meu lado explorador me levou e dei de cara com a Igreja de Nossa Senhora do Loreto. Não encontrei vista. Depois me explicaram que tinha uma outra mais no alto, a de Nossa Senhora da Penna, fechada naquele momento. Acabei parando ali mesmo na do Loreto e descobri que tinha mais de 350 anos. Naquela fatídica noite, de dentro da igreja saía uma réplica do corpo de Jesus Cristo e muitas pessoas para seguir em procissão. Olhei de longe e pude sentir uma aura de tristeza. Era sexta-feira da paixão. Fui procurar um banheiro e parei na lojinha, onde as pessoas estava comprando velas. Fui atendido por duas moças engraçadas com uma simpatia ímpar e levei um terço de presente.
Algum tempo depois, num dia que não era qualquer, novamente passei por lá. Era o último domingo de maio, mês mariano. A Igreja parecia fechada e aquela lojinha também, mas era hora da missa e percebi barulhos. Segui aquele burburinho que parecia me chamar e percebi uma arquibancada cheia de gente. Mais abaixo, os bancos e todo os ornamentos de uma igreja, grandes imagens e telões para acompanhar a missa. O padre entrou e falou do “Loretão”, apelido carinhoso para aquela quadra que virou local sagrado. Olhei ao redor e lembrei de quando jogava futebol com meus amigos.
A missa seguiu cantada, carismática, e, ao final, um casal com sua filha adentrou. A mãe segurava uma coroa brilhante. Caminharam devagar tendo ao fundo como trilha sonora a canção “Perfeito é quem te criou”. A emoção escorria pelo rosto da idosa ao meu lado e embaçava seus óculos. Um moço olhava com as mãos estendidas e ar de graça. A mulher foi até uma escultura de Nossa Senhora do Loreto com o menino Jesus no colo. Parou, paciente, mas com certo ar de ansiedade. Esperava algo. Então a música chegou na parte onde dizem “te coroamos, ó, Mãe”. Aí sim, vagarosamente, ela ergueu as mãos e colocou a bonita coroa na cabeça da escultura. Senti como se estivesse no Maracanã em noite de clássico. O Loretão pareceu aquele estádio de futebol depois de gol. Uma salva de palmas eclodiu. Era o som da fé.
Casa voadora
Mas quem seria Nossa Senhora do Loreto? Essa fé começou com a casa onde viveu a Sagrada Família em Nazaré, a qual era uma relíquia conservada pelos católicos na Terra Santa. Uma casinha pequena, toda feita de pedras, onde um anjo de Deus teria anunciado a Maria sobre o filho que ela teria. Ali também São José ensinou a Jesus o ofício de carpinteiro. Posteriormente, o local acabou virando um grande centro de peregrinações.
Contudo, essa Casa da Sagrada Família que ficava em Nazaré, Israel, está hoje na região de Loreto, na Itália. Aliás, foi um fenômeno que segue sem explicação científica, ninguém sabe bem como isso aconteceu. Inicialmente, a história conta que havia gente saqueando e destruindo as igrejas católicas e os lugares santos. Porém, no ano de 1291, a Casa da Sagrada Família desapareceu de sua locação original e surgiu na cidade de Tersatz, na Dalmácia, a milhares de quilômetros de Nazaré.
Três anos depois, em 10 de dezembro de 1294, a casa surgiu nos bosques de Loreto, na cidade de Recanati, Itália. Sendo que havia uma profecia de São Francisco de Assis, a qual dizia que Loreto seria um dos locais mais sagrados do mundo. Atualmente, há uma Basílica em volta da casa, e virou um dos maiores santuários da Europa. Há controvérsias se foi milagre ou se deram um algum jeito de levar a casa inteirinha para esss lugares. Uns dizem que foram anjos.
Após a coroação, subi a arquibancada e olhei para o céu noturno. A promessa era de uma chuva de meteoros somente no dia seguinte. Mas algo rasgou a noite rapidamente. Um cometa, talvez? Lembrei da estrela de Belém. Por via das dúvidas, disse amém.
