Papo de Talarico: O Desterro da Lapa

No berço noturno, o símbolo de uma ordem, e as batalhas

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Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro em foto de Alvaro Tallarico
Detalhes impressionantes

Nas minhas andanças pela Lapa, dei de cara com uma igreja com uma torre não finalizada. Na calçada do outro lado dessa igreja, às vezes fica um vendedor de livros. Por ali já vi vendendo “A Alma de Cristo” de Tomás de Kempner, “Confissões” de Santo Agostinho, livros de Schopenhauer, Feng Shui, cristais, e muito mais. De repente passa um trôpego rapaz com uma garrafa de cachaça na mão, cantando uma marchinha de carnaval. O sino da igreja toca e ele soluça de susto, para um minuto, faz o sinal da cruz, dá mais um gole, e segue trocando as pernas.

Esse templo religioso fica perto da Escadaria Selarón, famosa mundialmente, e da belíssima Sala Cecília Meireles. É uma construção histórica deveras interessante, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro. Ela começa a surgir de certa forma quando os primeiros frades carmelitas aportam por terras brasileiras, no distante ano de 1580. Em seguida, três anos depois, acabam por fundar seu primeiro convento, de onde partiam missionários para todo o país, espalhando a fé em Nossa Senhora do Carmo e estabelecendo fundações carmelitas.

Essa igreja histórica viu diversas mudanças no Rio de Janeiro. A princípio, por ali ficava a Lagoa do Boqueirão, que foi aterrada e virou o Passeio Público, primeiro jardim dedicado aos cariocas para o lazer. Atualmente, a Lapa é o principal ponto turístico noturno do Estado do Rio de Janeiro, e a colorida Escadaria Selarón, o terceiro ponto mais visitado.

Gatos

Lá no alto da nave única tem um frontão triangular onde está o emblema da Ordem do Carmo, e ainda tem mais a frente o escudo do Carmelo, um monte com três estrelas de ouro e a coroa da Rainha do Céu acima. Logo abaixo tem uma imagem de Nossa Senhora do Carmo, onde vi um gato uma vez, o qual, durante uma missa, foi escalando até se esconder atrás da santa. O padre nem se abalou, afinal, sem dúvidas, Deus ama os felinos.

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Alguns dias depois, na Joaquim Silva, enquanto um grupo colocava funk bem alto na esquina com a Travessa do Mosqueira, um outro saía do outro lado da rua, da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, como num bloco, mas sem carnaval, somente louvores. Foram de encontro ao funk. Foi como uma batalha, mas, na verdade, não. Nessa Lapa doida, tudo convive. Não houve nenhuma briga ou discussão. O funk se misturou com a oração.

Por fim, na junção da Joaquim Silva com os Arcos da Lapa, tem ainda um pequeno santuário para Zé Pelintra, uma entidade originária da crença sincrética denominada Catimbó, que veio lá da Região Nordeste do Brasil. Por aqui, na Umbanda, faz parte da assim chamada linha da malandragem, do povo de rua. Ali mesmo vi passando um grupo de franciscanos. Entre eles, outro gato. Parecia o mesmo que vi na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Pelo jeito, São Francisco de Assis, santo padroeiro dos animais e da ecologia, também estava presente.

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