Alvaro Tallarico: Entre Franciscos, o Santo e o Papa emocionam com ótimas atuações

Show de César Mello e Paulo Gorgulho ajuda a renovar a esperança na humanidade

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Crítica de Entre Franciscos. Na foto, os rostos de César Mello, negro e de barba, e Paulo Gorgulho, branco e grisalho.
César Mello e Paulo Gorgulho (foto: Guilherme Logullo)

Foi em pleno Sábado de Aleluia. Cheguei ao Teatro Municipal Domingos Oliveira juntamente com minha mãe para assistir “Entre Franciscos – O Santo e O Papa”, a convite da Prisma Colab. Pessoalmente, já tinha grande admiração pelo trabalho dos atores César Mello e Paulo Gorgulho, a qual aumentou após o espetáculo. O melhor da peça é exatamente a interpretação de ambos. Eles conseguem emocionar em diversos momentos do texto de Gabriel Chalita.

César assume uma doçura corajosa do homem da rua que vê Deus na natureza e mantém a esperança humilde franciscana, a fé na caridade. Por outro lado, Paulo anda arqueado, cansado, frustrado, como um Papa Francisco que gostaria de fazer mais pela humanidade e pede um respiro sonhador para seguir sua missão em seus últimos anos de vida. O momento em que se desespera e sobe o tom falando sobre as maldades do mundo é um dos mais tocantes, mas toda a escalada até o bonito final é engrandecedora.

Tio ruim

A princípio, minha mãe e eu chegamos 20 minutos mais cedo. Ao lado da entrada do Teatro Domingos de Oliveira estavam o Tio Ruy Beer House, e o Artesan Grelhados & Pizza. Para comer não havia tempo, e geralmente não bebo álcool, mas decidi comprar um chopp weiss para minha mãe provar. Assim, ela relaxaria ainda mais bebendo uma cerveja de trigo mais adocicada, leve, enquanto eu tomava a garrafinha d’água que trouxe de casa. Cheguei para um rapaz atrás do balcão do Tio Ruy, dei boa noite, e perguntei: “Posso pedir para você?”. O homem, com sua barba, sem nenhum sorriso ou simpatia, respondeu: “Pode, mas pode pedir para ela também” e apontou para a atendente. Ou seja, poderia ter me atendido, mas não fez questão. Em seguida, fui tranquilamente para a outra parte do balcão e solicitei para a atendente, essa sim, mais sorridente e simpática, um copo de 300ml da cerveja escolhida.

A moça encheu o vasilhame de vidro. Paguei na maquininha e percebi que o copo estava quebrado em dois lugares diferentes exatamente no bocal. Mostrei e falei que estava quebrado: “Isso aqui é um perigo. Pode cortar alguém.” A atendente pediu desculpas, pegou o copo, virou a cerveja em outro. O rapaz de barba não se mexeu para nada, só olhava com sua face sem alegria. Minha mãe gostou da cerveja, contudo, todo o atendimento do começo ao fim foi péssimo e não pretendo nem pedir água da casa no Tio Ruy se um dia passar por lá novamente.

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O retorno do Papa

Voltando ao teatro, passei por outras aventuras. Faltando cinco minutos para começar, fui ao banheiro para poder ver a peça tranquilamente, uma boa estratégia. Assim que saí do toalete um rapaz do teatro veio falar comigo: “Precisamos que vocês entrem”. “Sim, fui ao banheiro, meu amigo”, respondi. Fiquei com a impressão que estava tudo atrasado por minha causa, mas ainda demorou bastante a começar. Algum tempo depois, dois homens vieram, um deles com uns três maços de cigarro na mão, e sentaram ao meu lado e da minha mãe. Antes perguntaram se estava livre. Disse que sim. Em pouco tempo, sentiria o arrependimento pela minha resposta.

O espetáculo “Entre Franciscos” começou com o Papa Francisco entrando, sentando no cenário da lavanderia e falando sobre seu cansaço. Do meu lado direito os rapazes conversavam. Procurei ficar quieto e aguardar que fossem mais respeitosos. Algum tempo depois, o Santo entrou no palco, César Mello, serelepe, um arauto das boas promessas. Os dois homens ao meu lado continuavam tecendo comentários e atrapalhando minha experiência. Um deles levantou e sentou do outro lado, comentando com minha mãe que precisava ir ao banheiro. Nervosamente conseguiu sair por trás de uma cortina e foi.

Retornou, passou na nossa frente, sentou ao lado do amigo, e voltou a falar. Cheguei o corpo para frente tentando deixar explícito que queria ouvir e prestar atenção nas falas dos atores, mas o homem não se ligava. Sentindo meu sangue esquentando, virei, olhei para seus olhos e fiz sinal com a mão abrindo e fechando, aquele que quer dizer “está falando para caramba, hein, tagarela?”. Ele pediu desculpas e, finalmente, com a graça de Deus, se calou.

Ufa, agora sim poderia aproveitar o show daqueles atores e prestar atenção em como César flanava pelo palco como um pássaro, cantando, sorrindo com os olhos. Pouco tempo depois, o rapaz falador que foi ao banheiro, levantou e saiu. Alguns segundos após, o outro foi atrás. Saíram na primeira metade do espetáculo. Vade retro, Satana! Claramente não era uma obra para eles. A peça é sobre respeito ao próximo, sobre acreditar, sobre fé.

Senti, até por algumas reações da minha mãe, que o espetáculo poderia ser um pouco mais enxuto, ainda mais por algumas repetições que o texto apresenta. Já havia indicado “Entre Franciscos” como dica cultural, afinal, seria difícil uma obra com atores do naipe de Paulo Gorgulho e César Mello não valer a pena, e, especialmente por suas atuações, vale, e reforço a sugestão. O encontro entre eles, o encontro entre o Santo e o Papa fornece vários instantes de reflexão e emoção. Passa uma belíssima mensagem e é do tipo para levar os familiares e fortalecer a fé e os laços amorosos. O texto abre espaço para as mães, para a importância das escolhas e o valor da caridade, mas sem soar religioso ou piegas.

Por fim, depois da boa apresentação, com cenas finais extremamente sensíveis e emotivas, sentei com minha genitora no Artesan Grelhados & Pizza. Pedi uma Vegetarian Artesan e estava boa. Contamos com o ótimo atendimento do Diogo, o qual trouxe uma pimenta artesanal usada internamente pelo pessoal da cozinha. Picante e saborosa.

Ouvi o farfalhar das folhas e vi o morcego que voava. Imaginei São Francisco e seu grande carinho pelos animais. Está aí um dos maiores motivos que me fazem ser vegetariano. Esse santo é uma inspiração maravilhosa. Desde criança minha amada mãe reza sua oração:

Senhor, fazei de mim um instrumento da Vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

SERVIÇO: 

ENTRE FRANCISCOS, O SANTO E O PAPA

Temporada: De 15 de março a 7 de abril de 2024

Horários: sexta e sábado, às 20h; e domingo, às 19h.

Local: Teatro Domingos Oliveira

Endereço: Planetário – Rua Vice-Governador Rúbens Berardo, 100 – Gávea

Duração: 70 minutos.

Bilheteria oficial: Imply.com

Telefone: (21) 3114-1286

Valores: R$60 (inteira) e R$30 (meia-entrada).

117 lugares. Livre.

Vendas on-line: https://riocultura.eleventickets.com/#!/evento/b387a5281522ecf99f3cf2ae482409e120ecf8a7 

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