Crítica Gastronômica – Chanchada: O botequim da alma carioca

Claudia Chaves fala sobre estabelecimento que fica em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro

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Vai-se descendo a General Polidoro, em Botafogo. Um mistura de pequenos comércios,  oficinas, prédios das  décadas de 50 e 60, ônibus passando, crianças saindo da escola. Recupera-se o fôlego do ser carioca, uma alegria de ver que a cidade é a cidade com sua alma, fora do  cartão postal. Um mundo não gourmetizado. Um contentamento!  Aí se veem as mesinhas de metal na calçada, cobertas com toalha de papel, guardanapos e aquele vidro de pimenta com rolha meio caseiro, meio feira. Chega-se ao Chanchada, o novo botequim, que se falássemos em inglês, diríamos The Real Thing.

O botequim, que aqui jamais será chamado de boteco,  é uma junção de   gente que entende do riscado:  dupla Edu Araújo e Jonas Aisengart, à frente do Quartinho Bar e do Pope, Vinicius Bordalo (sócio no Pope), Bruno Katz e Rodrigo Vasconcellos, que comandam o Nosso, em Ipanema. Edu  Araújo  vem de longe, literalmente, criado em Olaria, conhece o que  é a imbatível comida de raiz servida na Zona Norte. Jonas Aisengart é chefe do bar e artista plástico; talvez por isso os vasos de costela-de-adão na porta e comigo-ninguém-pode nas prateleiras funcionem como ótima intervenção. Bruno Katz cuida da comida com uma proposta clara: qualidade na baixa gastronomia e na baixa coquetelaria, com ingredientes de primeira com tudo aquilo a que temos direito: frituras, ensopados, conservas.

Dos salgados fomos de fio a pavio. Provamos todos. Bolinho de bochecha (R$8)  pura carne tenra , temperadinha ;pastel de  camarão com catupiry  de verdade (R$16), naquele tamanho maravilhoso da feira assim como o pastel de carne, repleto de recheio (R$11);bolinho de espinafre (R$8) para os veganos terem seu lugar; torresmo de barriga (porção R$25) com a casca crocante e a gordura macia.

 Como levei Rosa,  minha  neta de 6 anos,  trainee de crítica, ela começou com pastel de queijo com milho. Massa crocante, mistura de sabores, fritura certinha (R$11). Depois pediu o bolinho de bacalhau (R$8), praticamente um croquete, pois a batata apenas dá liga. Rosa gostou tanto que  comeu 4 e mais  viriam, se deixássemos.

Seguimos provando porque  em botequim  o percurso é a gente que inventa, entre uma  conversa e outra, cantando  junto com o maravilhoso setlist de   músicas  do melhor do repertório nacional.  De batida em batida , escolhemos gengibre(R$12), banofe(R$14) e coco queimado (R$16),  na porção certa do copo americano, para acompanhar o Camarão da Praia(R$42), aquele dos melhores lugares de veraneio, fritinhos inteiros com alho, espremido limão, e o qual comemos  com as mãos, a cabeça, o rabo e as pequenas barbatanas. Sabor de sol e sal. Quiabo(R$18), porção generosa,   sem baba, temperado com misso que dá para chuchar  o pão no molho. O coração do pato(R$32)  é um passo além do de galinha. Mais saboroso, menos fibroso,  no ponto e com o molho . Aquele que deixa o prato limpinho pelo pão que pega até a última gota.

Mais conversa e , agora , com o melhor Rabo de Gala da vida ( R$24 com cachaça, vermute e cynar) pedimos a punhetinha de bacalhau – peixe de verdade, desfiado no azeite,  cebolas cruas, azeitonas pretas macias– sal no ponto certo, a mistura úmida  que junto com o pão vira refeição completa. Para finalizar essa etapa do percurso, veio a língua. Cortadinha em pequenos cubos, misturada com o jiló cozidinho,sem qualquer amargor,  é uma mistura que nós faz ter certeza que   ser carnívoro tem lá suas vantagens. E para finalizar, o sanduíche Osvaldo Aranha, o mais famoso dos tipos de filé inventados no Rio. O carioca pão de leite, o filé com alho e o queijo derretido vira prato principal e finaliza lindamente o  percurso. Como fomos no horário de  final da tarde, não provamos o PF da hora do almoço. Muda toda semana e são 3 opções;  proteína vermelha,  proteína branca e  vegano.

O atendimento é muito bom. Equipe bem treinada, simpática, daquelas que a gente vira amigo de infância, com serviço rápido . Chanchada é o tipo do local para se ir a qualquer momento. Para festejar o emprego novo; para chorar se o crush te deu  o bolo;para se reunir os amigos, discutir  futebol, falar de política, gesticular, conversar em voz alta. Recuperar tudo o que ficou abafado nos dois anos horribilis.  Agora, para ser absolutamente perfeito só faltou meu pai estar lá , de colete de lãzinha, jogando sueca.

 Comida *****

Atendimento ****

Ambiente *****

Relação   custo benefício *****

Serviço

Rua General Polidoro, 164, loja B, Botafogo (60 lugares). 12h/1h (dom. até 22h; fecha seg.). 

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Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.

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