Crítica Teatral: Angustia-me! O chamado à banalidade

Para Claudia Chaves, Angustia-me é a construção clara da vida marginais, dos mortos-vivos, dos isolados que , ao passar a ver, continuam na mesma cegueira.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
Angustia-me! - Leandro Baungratz e Raquel Rocha - Foto: Alyrio Traczenko

Existe um mundo que não  vê e que não é visto. Que não ouve e que não é ouvido. Locais, profissões, encontros, palavras, sentimentos . Pessoas. Soltas, perdidas, desconectadas entre si, mas emparedadas nas misérias do cotidiano, no enredo repetido e repetitivo de suas vidas,  no qual mesmo as  maiores dores se tornam banalidades e as banalidades viram dores. É desse material, desse aperto, desse labirinto no qual não se sai do lugar e sem qualquer possibilidade de saída,  que é feita Angustia-me.

Conceituada pelas autoras Julia Spadaccini e Marcia Brasil como comédia dramática, um aparente paradoxo, a definição é um excelente gancho para aquilo que se vai narrar. A abertura são pessoas apontando profissões que de tão esdrúxulas, achamos que podem ser fantasiosas como detectora de sexo de pássaros, cheirador de carros, provadora de caixõesMas isso não importa. A metáfora na abertura é para já sair matando no que virá adiante: é tudo improvável, é tudo deslocado, é tudo absurdo que nem poderia ser verdade.

O roteiro é formado por 3 histórias /cenas que funcionam como microseriados, pois se apresentam  intercaladas , e compõem a trama maior – o encontro de 2 personagens, juntos por mero acaso.  Alexandre Mello, o diretor, conduz a atuação  de Fábio Ventura, Leandro Baumgratz, Maria Adélia, Noemia Oliveira, Raquel Rocha e Rogério Garcia em um  tom de diálogo bem comum, sem qualquer dramaticidade ou comicidade acentuada, o que dá um equilíbrio entre situações tão diversas.

Ao utilizar as três regras do teatro clássico, unidade de tempo, lugar e verossimilhança, Angustia-me é o bom exercício de se mesclar o realismo das locações e dos figurinos com o improvável da situações : uma balconista de uma loja de fast-food e no fumódromo de um shopping; a necromaquiadora  que conversa com a mulher que está maquiando, vítima de uma acidente; e  a cena em um set de produção de um filme gay, com o  estreante ator  e o  veterano, apaixonado por poesia.

 E os três temas também se misturam em camadas, o isolamento simbolizado no fumódromo, a marginalidade do filme pornô, a presença do cotidiano sem qualquer graça, se encontram no momento em que a maquiadora cuida da jovem operária que morre de forma totalmente improvável e absurda:  cai da janela do refeitório enquanto passava o batom. Angustia-me é  a construção clara da vida  marginais, dos mortos-vivos, dos isolados que , ao passar a ver, continuam na mesma cegueira.

Serviço:
Até 30/06, com retirada gratuitas.
de ingressos pelo Sympla (https://www.sympla.com.br/angustia-me).

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Crítica Teatral: Angustia-me! O chamado à banalidade
Nota
Texto
Direção
Atuação
Cenário, Figurinos, Locações
Jornalista, publicitária, professora universitária de Comunicação, Doutora em Literatura, Bacharel em Direito, gestora cultural e de marcas. Mãe do João e do Chico, avó da Rosa e do Nuno. Com os olhos e os ouvidos sempre ligados no mundo e um nariz arrebitado que não abaixa por nada.
critica-teatral-angustia-me-o-chamado-a-banalidadePara Claudia Chaves, Angustia-me é a construção clara da vida marginais, dos mortos-vivos, dos isolados que , ao passar a ver, continuam na mesma cegueira.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui