Dia de folga, dia de praia. Próximo a mim, dois homens debatem política na silenciosa manhã de sol. A velha e aguada discussão entre petrificados conceitos de direita e esquerda. A onda há de levar. Apesar de opiniões bem distantes, os dois caras, que se encontram na areia carioca, se respeitam. Nada de ataque naval. De nenhum lado. Mais à frente, uma moça, nova, faz a lição de casa, sentada em uma canga. Lição da praia. De fato, as democráticas praias cariocas têm muito a nos ensinar em tempos de tanta intolerância, incompreensão, falta de reflexão e diálogo.
Sim, eu sei que a intolerância e o preconceito já pisaram com força em nossas areias. Infelizmente, em alguns casos criminosos, ainda pisam. Tem o famoso vídeo de algumas pessoas dizendo que não querem pobres em “suas” praias. E há quem faça isso sem ser filmado e não somente com pessoas de classes econômicas menos abastardas. Queimação total. Contudo, no geral, nosso filtro solar democrático nos livra dessa fedida maresia.
Por mais que alguns queiram, para ir à praia, qualquer uma, não precisa de pulseira vip. Braços livres para caminhar na areia que é de todos. Quer exclusividade? Vai de piscina particular.
Uma prova natural da alma democrática das nossas praias é a geografia da cidade. Muitas favelas têm vistas únicas para o mar da salgada orla da Cidade Maravilhosa. A praia é para todos, para ver e sentir.
Nas práticas esportivas, no banho para lavar a alma, na virada de ano, todos os dias. A praia é para todos. Não importa identidade, gênero, orientação sexual, cor da pele. O mar do Rio de Janeiro é para todos os corpos. Recuse negações.
As praias cariocas, que já foram cenários para diversas manifestações políticas, independentemente do lado, são espaço de livre convivência e entendimento democrático. Nada de querer enterrar a opinião alheia – a menos que confundam opinião com declaração criminosa, aí o mar fica revolto. Estamos todos embaixo do mesmo sol.
As praias cariocas não renegam ninguém. Estão sempre com as portas abertas. Foi na orla que a cidade começou. E são as praias que nos dão uma grande lição de democracia para continuarmos, cada vez melhores, daqui para frente.
Precisamos aprender com as nossas praias, ou vamos ficar ancorados em uma história de retrocessos, a ver navios. A esperança vem do mar.