No dia da última chuva que devastou a cidade do Rio de Janeiro, eu fiquei preso no trânsito, no ônibus. Por umas duas horas, nada andava na Linha Amarela, sentido Zona Oeste. Estranhei a falta de indignação (mínima que fosse) com a situação. As pessoas estavam anestesiadas em seus celulares nas mãos. Dose.

Venho reparando há tempos que as pessoas não reclamam mais de uma série de coisas que antes eram motivos de pequenas revoltas populares. As filas, por exemplo. Muita gente não se incomoda mais com elas. Ficam ali, em pé, de boa, desde que a internet do celular esteja funcionando bem.

Usar, em excesso, celular em uma mesa de bar ou restaurante é uma prática que ainda é criticada. Por isso, as pessoas evitam (no geral) passar muito tempo com os celulares nas mãos que deveriam estar segurando copos ou talheres. No entanto, qualquer saidinha para o banheiro, o smartphone sai do bolso.

Sinais vermelhos deixaram de ser um incômodo para nós, cariocas – acho que é um novo comportamento mundial, mas a crônica aqui é focada nesse Rio de Janeiro. “Cariocas não gostam de sinal fechado”, canta Adriana Calcanhoto. Não gostavam, né? Agora tem celular para mexer enquanto o carro está parado.

Não somos quem mandamos no celular. São eles quem mandam na gente. Um amigo meu disse que o dele desperta avisando tudo o que ele tem para fazer, inclusive alertando para deixar o aparelho de lado por alguns instantes.

Nesta semana, noticiamos que o Rio de Janeiro é a capital brasileira mais registrada do Instagram. Aqui tem fila até para tirar foto. Mas sem problema, pois temos celulares para passar o tempo enquanto isso.

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