Não é novidade que o futebol é um reflexo da sociedade e, dessa forma, hostil para negros e negras, mulheres, LGBTQIA+. O episódio racista que ocorreu na Espanha com o jogador brasileiro Vinícius Jr. escancara o quanto um país que colonizou nações as quais até hoje sofrem com as consequências dessa exploração, continua incitando o ódio ao corpo negro. Ver um menino, negro, que saiu da América do Sul, mais precisamente de São Gonçalo, no topo do futebol mundial, incomoda.
Sabemos que o histórico de opressões nos gramados e arquibancadas dos estádios não se encerra com o episódio ocorrido no último dia 21 deste mês, durante o jogo do campeonato espanhol (La Liga) em que o Real Madrid enfrentou o Valencia, e Vinicius Jr. foi, mais uma vez, vítima de violência racista. Como as punições e ações efetivas não vêm, os ataques seguem ocorrendo. Ainda que o país tenha uma lei específica contra a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância no esporte desde 2007.
Qual o lugar do negro no futebol? É uma pergunta que precisamos nos fazer cotidianamente. Se por um lado temos grandes craques e revelamos ídolos que fazem história ao redor do mundo; por outro, sofremos com a violência, não só nos estádios, mas também das instituições. Não é a primeira vez que o Vini Jr sofre racismo pelos estádios que passa. Quais medidas foram tomadas?
É necessário que nós, aqui do Brasil, olhemos para esse caso e nos organizemos para que não se repita em nosso país. Afinal, não foi aqui, por exemplo, que tivemos Barbosa, o goleiro que pagou uma longa pena por ter sido considerado o responsável pela derrota épica do Brasil para o Uruguai em julho de 1950? Nós perdemos a Copa. Relembrando o dramaturgo Nelson Rodrigues, o brasileiro esqueceu da febre amarela, da vacina obrigatória, mas “não esquece, nem a tiro, o chamado frango de Barbosa”, estigmatizado até a morte, aos 79 anos, no ano 2000.
De acordo com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em 2021 registrou-se 64 situações de racismo no Brasil. Já em 2022, foram comprovados 90 casos. Precisamos estar atentos e fortes para defender a democratização do estádio e do futebol. Rechaçar o preconceito, denunciar as violências e se colocar à disposição da luta antirracista é um dever de todos. Para que histórias como a de Barbosa não se repitam. Para que meninos como Vinicius Jr. tenham o direito de desfilar seu futebol em campo e não sejam submetidos ao que de pior a sociedade pode oferecer.
*Dani Monteiro é deputada estadual (Psol) e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e
Cidadania da Alerj
*Monica Cunha é vereadora e presidente da Comissão Especial de Combate ao Racismo da Câmara Municipal do Rio