O hip hop é cultura e muito mais. E isso não é novidade, muito menos deveria surpreender ninguém. O impacto das batidas envolventes quando misturadas às rimas que expressam a rotina e a identidade de pessoas às margens da sociedade transcende a questão puramente musical. Há poucos dias, aprovamos em segunda discussão o Programa Estadual de Batalhas Educacionais de Rima (PL 1074-A/2023 Alerj). Mas você pode me perguntar: como o rap pode ajudar no ensino público?
As batalhas de rimas se destacam como ferramentas poderosas no processo educacional, especialmente em áreas periféricas do Rio de Janeiro. O rap pode estar inserido na aula de português até na de matemática: todo o processo envolve criatividade, rima, lírica, interpretação de contexto social, pensamento crítico e solução de problemas. O resultado desse ensino é um grande estímulo da conscientização social, força motriz para mudanças tão importantes para a juventude. E não só no Brasil. O ensino do hip hop não é novidade no país, nem na gringa. O rapper Lupe Fiasco, de Chicago, deu aula no renomadíssimo Massachusetts Institute of Technology (M.I.T.), em um programa que trazia professores e disciplinas fora do âmbito tecnológico, a fim de explorar a relação entre a linguagem do rap, computação e ativismo social.
O uso do hip hop traz uma comunicação mais autêntica e relevante para com os jovens, muitos deles pretos e pobres, que não se identificam com o sistema educacional tradicional. Trazer o dia-a-dia para sala de aula chama a atenção daquele que não se vê representado nos livros. Ao incorporar elementos do hip hop na educação, professores podem se conectar mais efetivamente com os alunos, criando um ambiente de aprendizado engajado. E, por que não, mais divertido?! Esse processo de expressão criativa, além de tudo, fortalece a autoconfiança dos jovens. Como o rapper mineiro Djonga diz, em “Junho de 94”, “Eu devolvi a autoestima pra minha gente / Isso que é ser hip hop”.
O Programa Estadual de Batalhas Educacionais de Rima tem como objetivo incentivar a realização e o patrocínio de batalhas educacionais nas escolas e espaços culturais, podendo ter ações de formação e capacitação, como por exemplo cursos de lírica. As batalhas não poderão ter quaisquer regras discriminatórias e as rimas não devem fazer apologia a drogas, ao crime e comentários pejorativos. Ou seja, o rap é ferramenta de estudo e lazer, e também age no desenvolvimento de habilidades e profissionalização da juventude fluminense.
O nosso projeto vai para sanção do governador Cláudio Castro. Será que vamos ter um novo Mano Brown, MV Bill, Negra Li, Don L, BK, Tasha & Tracie saindo diretamente das batalhas educacionais de rimas do Rio? Eu tenho certeza!