Uma criança de dez anos morreu a caminho da escola durante uma operação da Polícia Militar no município de Maricá, na última quarta-feira (12). A violência rotineira nas favelas e periferias da capital se alastra pela região metropolitana e o interior do estado. Com a morte do pequeno Dijalma de Azevedo Clemente, o número de crianças de 0 a 14 anos que perderam a vida após serem baleadas em território fluminense subiu para 15, o que dá uma média de duas mortes por mês, em pleno 2023, segundo o Instituto Fogo Cruzado, do Instituto de Segurança Pública e da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. E não foi por falta de aviso de quem atua em defesa dos direitos humanos e clama por uma política de segurança pública eficaz e menos mortal.
Onde não se planta, não há possibilidade de colheita, o governador Cláudio Castro já deve saber, mas falta fazer, ou seja, falta trocar a política de combate á violência com violência ainda maior. As vítimas já são mais que suficientes para provar que algo vai mal, ou seja, quem não tem absolutamente nada a ver com o tamanho da conta ou do problema, paga com a vida.
Em todo o ano passado, oito crianças foram atingidas em confrontos, operações policiais e afins. Em quatro meses de 2023, já conseguimos um número 75% maior de vítimas nessa faixa etária na Região Metropolitana do Rio. Cadê a rede de proteção que deveria ser assegurada às nossas crianças e adolescentes, governador? A quem as famílias em situação de vulnerabilidade e enlutadas devem recorrer para receber o devido amparo?
É evidente que temos um desafio urgente a enfrentar e o alerta está dado há tempos. Em 2021, por exemplo, ano em que Cláudio Castro foi alçado a titular no comando do executivo estadual, o relatório “Vidas adolescentes interrompidas: um estudo sobre mortes violentas no Rio de Janeiro”, produzido pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER) e o Observatório de Favelas, em parceria com o Unicef, mostrou o tamanho da encrenca em que estamos metidos.
Segundo o documento, de janeiro de 2013 a março de 2019, houve 2.484 homicídios de adolescentes no estado do Rio de Janeiro. São os números da chamada letalidade violenta intencional contra adolescentes, que reúne os homicídios, as mortes por intervenção de agentes do Estado, os latrocínios e as lesões corporais seguidas de morte, diz o relatório. Pretos eram 79% das vítimas.
O que se poderia esperar de quem foi vice daquele que, antes de ser afastado por um processo de impeachment, alardeava que os policiais tinham autorização para o “abate”? Enquanto a população corre dos confrontos, os criminosos seguem muito bem armados e com acesso fácil a munição. Os policiais, será que não veem que uma criança uniformizada que caminha para a escola ao lado da mãe não deve ser o seu alvo?
A ordem, infelizmente, segue sendo “mirar na cabecinha”.
*Dani Monteiro é deputada estadual (Psol-RJ e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj
Qual a solução que a deputada apresenta? A turma anti-horário só reclama mas não apresenta nada de util para resolver.