Dani Monteiro: O G20 da gente

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O Rio de Janeiro, nossa Cidade Maravilhosa, hoje é o magistral palco da Cúpula do G20. Em poucas horas, os líderes das maiores economias do mundo se reúnem sob os holofotes internacionais, em um dos eventos globais de maior importância para a sociedade, trazendo a oportunidade de promover mudanças significativas para a humanidade diante de nós. No entanto, o meu sentimento – e acredito que o seu também, amigo leitor – é de que essas reuniões proporcionam declarações um tanto vazias e propostas que muitas vezes não são cumpridas. E aí nos perguntamos: a quem servem as cúpulas globais?

Aqui no Rio de Janeiro, onde contrastes sociais são gritantes e evidentes durante até mesmo uma curta caminhada na Zona Sul, o G20 deve lembrar que o compromisso é, antes de tudo, com a dignidade humana.

Cientistas sociais, ambientalistas, economistas e tantos outros estudiosos têm alertado sobre os impactos de um capitalismo desenfreado que amplia desigualdades e injustiças sociais, onde as elites buscam maximizar seus lucros enquanto as populações mais vulneráveis sofrem as consequências. No Rio de Janeiro, onde as disparidades sociais são evidentes, precisamos priorizar direitos humanos fundamentais, reconhecendo que as mudanças climáticas, agravadas por um modelo econômico insustentável, afetam desproporcionalmente periferias e favelas, que enfrentam maior vulnerabilidade a desastres ambientais em comparação com áreas mais ricas da cidade.

O evento no Rio de Janeiro não deve ser apenas um desfile de líderes intocáveis, passeando com batedores pelas ruas a caminho de hoteis luxuosos e encontros a portas fechadas. Que esta cúpula sirva para trazer à tona os problemas estruturais que foram amplificados nas últimas décadas: desemprego crescente, precarização do trabalho e falta de acesso a serviços básicos. Como afirma o economista Thomas Piketty, o aumento da desigualdade é uma escolha política — e pode ser revertida por meio de decisões políticas que coloquem as pessoas, e não os lucros, no centro das atenções e discussões.

A presidência brasileira do G20 representa uma oportunidade única para colocar temas cruciais na agenda global, como o combate à fome, à pobreza e às desigualdades. Com essa liderança, o Brasil pode impulsionar discussões sobre medidas concretas contra as mudanças climáticas, buscando soluções que beneficiem especialmente os mais vulneráveis. Além disso, é uma chance de fortalecer o debate sobre a reforma das Nações Unidas, promovendo uma governança internacional mais inclusiva e justa, capaz de enfrentar os desafios globais com equidade e solidariedade. O mundo espera que o Brasil, na figura do presidente Lula, assuma essa liderança com coragem, priorizando políticas que promovam a justiça social e ambiental.

Também é essencial entendermos a crise dos refugiados e migrantes em todo o mundo. Em especial, no Rio, os desafios são significativos porque também o tema tange o trabalho digno, moradia e segurança para a inclusão real destes na sociedade brasileira. Na última sexta-feira, eu participei de uma mesa de discussão no G20 Social sobre esse importante e urgente assunto. Inclusive, o G20 Social deu oportunidade para que a sociedade civil organizada pudesse discutir questões necessárias para toda a população.

Lembro do terrível caso do Moïse Kabagambe, refugiado congolês brutalmente assassinado em 2022 enquanto trabalhava em um quiosque na Barra da Tijuca, e que acabou expondo a xenofobia e a discriminação enfrentadas por imigrantes. Em reconhecimento à sua memória e luta, entregamos à família de Moïse a Medalha Tiradentes post mortem, a mais alta honraria do estado. A homenagem reforça a necessidade de ações concretas para proteger os direitos dos refugiados e promover uma cultura de acolhimento e respeito, garantindo sua inserção plena e digna na sociedade fluminense. O exemplo do Rio é só um recorte do que precisamos discutir de maneira global.

A conclusão é simples: a cúpula precisa se comprometer com um futuro sustentável e justo para todos. É urgente a necessidade de implementar políticas públicas mundiais que assegurem direitos essenciais como moradia, saneamento e mobilidade urbana, fundamentais para garantir dignidade a quem vive nas periferias das grandes cidades. Que os líderes do G20 deixem este encontro com mais do que declarações e promessas vazias. O mundo está com os olhos voltados para o Rio de Janeiro, e cabe a nós exigir mudanças reais que coloquem o bem-estar coletivo acima dos interesses de mercado. Não há mais tempo a perder. O futuro é agora.

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