A pandemia tem nos confrontado e imposto desafios gigantes, seja na saúde, na educação, no trabalho assalariado ou na inconstância para garantir renda suficiente para uma vivência digna. A juventude, faixa etária em que ainda me incluo, talvez nunca em tempo algum tenha sido tão desafiada. Há muito a fazer e muito pelo que lutar. Com a retomada do espaço público à vista, a hora é a mais apropriada para impormos nossa participação ativamente política na sociedade. Sem que seja necessário aglomerar nossos corpos.
Somos 47,2 milhões, significativos 23% da população brasileira. Segundo a Pesquisa “Juventude e Coronavírus”, levantada pelo Conselho Nacional de Juventude 2021, quase sete a cada dez jovens em nosso país são total ou parcialmente dependentes financeiramente da família; seis em cada dez jovens tiveram alteração em sua carga de trabalho desde o início da pandemia, seja por aumento, redução ou parada temporária das atividades, ou ainda por demissão e fechamento do posto de trabalho. Três em cada dez jovens relatam ter buscado complementação para sua renda, e ainda que eles ou alguém de suas famílias está cadastrado para receber a renda básica emergencial. Não bastasse a escassez de recursos financeiros, a ansiedade, o tédio e a impaciência foram apontados como os sentimentos mais presentes durante o período de isolamento social, quando ficamos sem sequer um rolezinho para chamar de nosso.
Problemas, como podemos observar, não faltam. Os principais desafios dos jovens para estudar em casa estão na falta de tempo ou no aparato tecnológico (in)disponível, mas também no equilíbrio emocional, na dificuldade de organização para o estudo à distância e a falta de um ambiente tranquilo em casa. A pandemia nos isolou, desolados que já estávamos em um Brasil que não nos enxerga e tampouco nos trata como força produtiva necessária. Muitos pensam em não voltar à escola, uma multidão quer desistir.
O cenário é perverso como o capitalismo que aniquila nossos sonhos e nos impõe uma ciranda sem graça em que consumir é a ordem. Mas somos resistentes, aviso a quem não contava com nossa astúcia e sensatez. Segundo a mesma pesquisa acima, quase dois em cada três jovens brasileiros declaram frequentar ou já ter participado de organizações, coletivos e movimentos. Espertos, sabemos que precisamos estar juntos, que nossa força está no quanto conseguimos nos unir e ocupar os espaços de decisão.
O Parlamento Juvenil é uma dessas oportunidades. Trata-se de uma iniciativa da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro para aproximar os jovens da Casa, mas, fundamentalmente, para mostrar à turma de primeiro e segundo anos do ensino médio das escolas públicas, como funciona a política em nosso estado, que papeis cabem a quem está dentro, e também a força de quem está do lado de fora. É só uma questão de posição, o Parlamento é para e tem de servir a todos.
O ano de 2021 atropelou o já tradicional curso do Parlamento Juvenil da Alerj. Fomos forçados a construir um curso remoto de mentoria. Ainda assim, tivemos mais de 200 inscrições, vindas de 42 municípios. Funcionou. Começamos agora os trabalhos que seguirão até a Semana Parlamentar marcada para abril de 2022. O esforço é para que cada vez mais jovens ocupem lugares de representação. Bora ocupar nosso lugar?
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.