Em quase 50 anos de existência, o movimento Hip-Hop cresceu, conquistou becos e vielas pelo mundo afora, disseminou a solidariedade e coletividade como valores, mostrou aos jovens quanta força pode haver quando se juntam música, dança, poesia e traços de grafite. As rodas culturais, maior expressão dessa cultura, se espalharam pelas praças públicas do Brasil, e do Rio de Janeiro, em particular. As periferias, mais fortemente, tornaram-se o seu palco natural. Se as condições já não eram favoráveis, a pandemia causada pelo coronavírus deu um banho de água fria nos artistas e adeptos dessa arte urbana. É hora de voltar a agitar esses territórios que desalentaram por falta de arte e de gente nas ruas.
E vamos ao que interessa, que é o primeiro edital do Estado do Rio voltado exclusivamente às Rodas Culturais de Hip-Hop, fruto de muita articulação e pressão do Movimento; um sinal de que aprendemos bem a lidar com resistências e impasses. A grande novidade contemplará, ao todo, 50 iniciativas com prêmios que somarão R$ 7 mil, segundo critérios estabelecidos pela FUNARJ, que dá um aceno importante aos nossos artistas. É pouco, o setor carece de mais recursos? Sim, de muito mais. Mas precisamos reconhecer vitórias, ainda que miúdas.
Antes da pandemia, havia cerca de 300 Rodas Culturais ativas em todo o estado fluminense. Era gente a rodo botando na rua cultura de forma gratuita e movimentando locais abandonados, ampliando espaços e dando voz à juventude. A cultura se entranhava e se mostrava como potente arma para mudanças necessárias em nossa sociedade, essa que queremos mais justa e mais igualitária. Acontece que todas essas rodas seguiram funcionando sem aporte algum do Estado, governo após governo. O edital muda essa perspectiva. Assim como a Lei que declarou, em 2018, a Cultura Hip-Hop como Patrimônio Imaterial do Estado e trouxe respaldo jurídico para realização das rodas.
A lição de agora não é nova, mas vale repetir: quando os esforços são somados, todos ganham. Por isso, podemos escolher enxergar um horizonte de mudanças através deste edital, e trabalhar para que ele seja apenas o primeiro de muitos. Afinal, o estado tem o dever de enxergar o Hip-Hop como potência para juventude. Quem ainda não sabe como funcionam esses eventos, bem que pode dar uma espiada, sem compromisso, no que rola de ritmos como o Rap, o Break dance, no que saem dos sets dos Dj`s. Arte como grito contra os abusos e violências nas periferias e por novas oportunidades para essa juventude que está aí, doida pra se mostrar.
Precisamos agora garantir que as Rodas Culturais levem a força e o talento dos nossos artistas para as ruas, seu lugar por excelência, de onde vem o seu sustento material e artístico. Precisamos pensar em como ampliar o programa “Hip-Hop Nas Escolas”. Precisamos fazer acordos para que todos possam se manifestar livremente e sem repressão. Há muito por fazer e avançar, políticas públicas urgentes a serem criadas e implantadas. Fundamentalmente, precisamos deixar a juventude circular. De novo, ganharemos todos com essa aposta.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.