Os tempos estão sombrios. Estamos sentindo na pele os danos causados pela junção de pandemia, políticas públicas ineficientes ou insuficientes, armas em circulação, um tanto de gente a descumprir regras mínimas de respeito ao outro necessárias à boa convivência em sociedade. Não está fácil, não, ouço por onde ando. E quando buscamos algum alento nas manifestações culturais que nos acalentam, eis que nem aí temos trégua. Não bastasse a falta de incentivo, os artistas reclamam da parca segurança que ainda se volta contra eles.
Conto aqui um episódio que ilustra bem o que tem ocorrido em algumas regiões. Aconteceu em Cabo Frio, na comunidade Manoel Corrêa, durante a primeira edição da Batalha da Tropa do Mantém. O que era para ser apenas mais uma roda cultural em que jovens se reuniram para levar cultura para uma área periférica da cidade e disseminar o Movimento Hip-Hop. Tudo ia bem naquela noite de 5 de maio, até que a polícia decidiu interromper a atividade com tiros e truculência. Sem justificativa alguma, os policiais militares dispararam em direção aos jovens que estavam no local. Moradores amedrontados, crianças em polvorosa, equipamentos avariados. Prejuízo material a gente calcula, mas e o terror a que essas pessoas foram submetidas, quem repara? A Polícia Militar não parece preocupada em dar explicações para ações tão despropositadas.
Mas cabe insistirmos em perguntar, afinal, quem garante a segurança pública e o acesso à cultura das populações periféricas do nosso estado, em especial no interior?
Vale lembrar que as Rodas Culturais e as batalhas de rima, desde 2018, com a aprovação da Lei 7.837/2018, foram dispensadas de requerer autorização prévia seja da Polícia Militar, seja do Corpo de Bombeiros. Seriam manifestações livres, segundo a lei. No caso de Manoel Corrêa, os policiais alegaram que teriam recebido reclamações de moradores incomodados com o som do evento. As denúncias chegaram à meia-noite, o ataque ocorreu duas horas antes. Faz sentido? O Batalhão da PM responsável pela área não explicou até agora.
Infelizmente, pelo que ouvimos dos moradores da região, não se tratou de um fato isolado. A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj esteve lá e ouviu relatos de que a comunidade é alvo frequente de ações truculentas e abusos por parte da Polícia Militar. Pelos depoimentos que colhemos, ficou claro que o Estado é ansiosamente aguardado e será bem-vindo. Mas o que essa gente quer é escola, posto de saúde, emprego, espaço adequado e liberdade para se expressar artisticamente. Sem tiros, por favor.
E, para quem ainda não pensou sobre o assunto ou ainda carrega algum tipo de preconceito, esclareço: o Hip-Hop, nessas localidades, é uma oportunidade para a juventude se divertir, sim, mas, fundamentalmente, botar sua arte para fora, se ocupar, dar vazão às suas potencialidades criativas. Não é clichê dizer que o Hip-Hop salva vidas, porque salva.
Este é um artigo de Opinião e não reflete, necessariamente, a opinião do DIÁRIO DO RIO.
O Rio continua linda está ultrapassado, o Rio está ficando feio. Deveriam fazer uma música nova na realidade do Rio e não música que está fora da realidade. Favela, esse é o nome da feiura do Rio, enquanto isso existir o Rio sempre vai ser feio, tem como melhorar, se chama infraestrutura na favela, abrir a favela com ruas, praças, saneamento básico, escolas e esporte, aí sim o Rio vai ficar lindo.