Desordem no Centro: rua Buenos Aires é ‘mini’ camelódromo a céu aberto

Até um rodízio de pastéis com caldo de cana é oferecido, em plena rua, por uma imensa van estacionada na porta de uma loja comercial, cuja fachada é inteira recoberta pelos anúncios e guarda-sóis dos camelôs que ocupam a calçada em frente, sem deixar espaço sequer pros clientes acessarem o estabelecimento

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É tão absurda a quantidade de camelôs na esquina da Rua Gonçalves Ledo com a Buenos Aires, que a loja que existe na mesma esquina fica totalmente coberta pelos diversos vendedores que agem na ilegalidade.

Mesmo com o relativo sucesso do projeto Reviver Centro, que planeja revitalizar a região central, o bairro segue lutando contra a desordem pública generalizada. Em recente pesquisa do Instituto Rio 21, feita em todas as regiões do Rio de Janeiro, descobrimos que, dos cariocas,  nada menos que 61,8% – uma esmagadora maioria – acham o número atual de camelôs nas ruas altamente prejudicial ao Rio. Os resultados, nós publicamos aqui. Assim como os roubos de bueiros e grades, mendicância em níveis insuportáveis, invasão de imóveis por gangues criminosas especializadas e má conservação, a camelotagem ilegal se tornou uma mazela na cidade.

Os comerciantes regulares com lojas de rua já sofrem com a queda no movimento devido aos ecos da pandemia, que agora parece começar a dar um pequeno refresco, com a baixíssima letalidade da variante Ômicron. Mas, mesmo assim, os efeitos de dois anos ininterruptos de pandemia são muito duros para o comércio que sobrou de portas abertas. E este comércio enfrenta um inimigo desleal, que não paga imposto, que não paga aluguel – embora muitos paguem por seus pontos a milicianos, é verdade, e que pode vender livremente mercadorias falsificadas e contrabandeadas, e servir alimentos sem a devida higiene e sem estarem sujeitos à dura fiscalização do PROCON e da Vigilância Sanitária.

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O Rio se aproxima de Bombaim e Nova Delhi, tamanha a desordem. Os prejuízos para o comércio são incalculáveis.

A situação em certos pontos da cidade evoluiu para o insustentável. Diariamente recebemos fotografias e informações de novos pontos de camelotagem pelo Centro, e a coisa está fugindo do controle totalmente na região da Buenos Aires, junto às ruas Gonçalves Ledo e Regente Feijó. Neste local, já existem bancas de camelôs com frentes maiores do que a das lojas do bairro. Imensas vans paradas nas ruas se transformaram em lanchonetes, e os produtos vendidos muitas vezes concorrem com os dos lojistas.

Na esquina da rua Gonçalves Ledo com a Buenos Aires, a situação é dramática. Sequer é possível acessar às lojas, sem esbarrar num dos vários camelôs, que vendem de tudo. Há, inclusive, no meio da rua, um rodízio de pastéis com caldo de cana, promovido a partir de uma imensa van branca da marca mercedes, avaliada em dezenas de milhares de reais. A seu lado, carrocinhas, mesas, cadeiras, carrinhos e bancas vendem, ilegalmente e sem recolher imposto, um sem número de outros produtos, nas barbas das autoridades. “Não temos subprefeito. O caos se instalou desde o Crivella, mas agora piora, e pra quem esperava paz com o Paes, só posso dizer que a coisa piorou“, disse Nilton Sarmento, comerciário que trabalha numa loja local, ao Diário do Rio.

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A rua foi tomada por vendedores de tudo que existe, cujas bancas chegam a impedir o acesso à via pública, sem falar que tapam toda a visibilidade dos comércios locais, que minguam a cada dia.

Os comerciantes esperam com ansiedade a reforma urbana da SAARA, proposta e anunciada pela Prefeitura, mas estão preocupados com a situação do comércio de rua irregular na região. “Não adianta melhorar urbanisticamente, se o espaço público continuar entregue à desordem e à ilegalidade”, afirmou Wilton Alves, administrador de imóveis na região. E complementa: “se embelezar pra encher de camelô, não vai adiantar nada. Melhor deixar como está. Nossas lojas estão quase todas vazias e ao entregar as chaves os lojistas deixam claro que os camelôs são uma das principais razões. Vendem muita coisa roubada e coisa falsa, mais barato que o comerciante que paga impostos e dá emprego. É comum se mudarem de um ponto para outro com menos camelôs, mas daqui a pouco não achoque vamos ter mais destes“, disse o profissional, preocupado com a situação da região, que já sofre com invasões de imóveis por gangues especializadas.

Os planos da Prefeitura incluem a criação de uma nova “área brinco”, espécies de microrregiões onde a conservação e a manutenção, além da segurança, seguem um padrão superior, como proposto pelo Gabinete de Crise do Centro da Cidade, formado no início da gestão Paes. O novo quadrante de ouro será nas imediações da rua São José, no micro centro financeiro. Segundo informações da secretaria de conservação, também estão nos planos restaurações de monumentos que homenageiam personagens importantes da independência do Brasil, que completa 200 anos – o esperado bicentenário este ano. Mas, até lá, os empresários, comerciantes e frequentadores do centro se perguntam se a prefeitura terá coragem de fazer valer novamente a ordem pública e o bom uso do espaço público. Quem viver, verá.

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15 COMENTÁRIOS

  1. Sério que vocês vão implicar com trabalhadores nesta altura que estamos de desemprego!? Dê trabalho pra eles aqui no diário pois ai eles não vão precisar se expor em um calor de 50° pra ter seu ganha pão. Tanta coisa mais importante pra fala sobre a ex cidade maravilhosa, e vcs arrumando tempo pra elitismo a esta altura do campeonato! Nos poupe viu!?

    • Madê, existe uma grande diferença entre trabalhadores / aproveitadores. Vc acha justo o cara usar a desculpa do desemprego para vender produtos roubados, vencidos, falsificados fechando a passagem de pedestres nas calçadas da cidade (muitas vezes avançando pelo asfalto) e ainda largar as “bancas” acorrentadas a postes no final do dia podendo causar acidentes aos transeuntes e servir de arma para os indigentes notívagos (sem generalizar)? Acha justo o cara que investe muitas vezes a economia de uma vida para realizar o sonho de ter seu próprio negócio para sustentar sua familia (e de seus funcionários) e ter que fechar/falir por que um ambulante ilegal está vendendo a “mesma coisa” pela metade do preço (óbvio que sem ter que pagar nem 1/10 do que o comerciante paga de custos) na porta de sua loja, muitas vezes ainda ameaçando o comerciante caso este reclame?

      Vamos pôr a mão na consciência!!! Uma coisa é o autônomo LEGAL, registrado na prefeitura, com produtos críveis e correto. OK!!! Outra coisa beeeem diferente é esse apinhado de gente que se aglomera nas calçadas de forma ilícita, atrapalhando o ir e vir dos cidadãos.

      Necessidades, TODOS temos. Desemprego é uma realidade, mas, se formos aceitar TUDO em nome das dificuldades dos “menos favorecidos”, lembremos então que TRAFICANTESDE DROGAS (e aqui eu me refiro aos ralés), também são necessitados, menos favorecidos e desempregados que comercializam produtos e meios ilícitos para se sustentar… Vamos refletir!?

  2. A grande verdade é que o Crivella fechou os olhos para a desordem urbana deixando instaurar o caos que acontece não só no Centro, mas em bairros como Tijuca, Méier e outros de grande circulação de pessoas, onde se vê um apinhado de gente vendendo de tudo sem qualquer controle de qualidade/procedência, muitos invadindo e bloqueando a passagem nas calçadas e concorrendo de forma direta e desleal com comerciantes locais. Agora que “a bomba estourou”, é mais difícil conter o estrago.

  3. Isto é resultado da pandemia. O que tem que ser feito é uma política para assentamento destes trabalhadores informal. Coisa que a prefeitura não apresenta faz decadas

  4. Se esquecem que ali sao seres humenaos tentando sobreviver …em vez de apenas criticar por q nao dao ideias para que estas pessoas possam ter seu sustento com mais dignidade

    • Desculpe, mas os flanelinhas irregulares que estorquem os motoristas nos estacionamentos públicos também “trabalham para sobreviver”. Os “moradores de rua” que roubam fios de cobre, assim como os donos de ferros velhos que compram esses produtos também “trabalham para sobreviver” e assim como em muitas outras situações em que usa-se deste argumento para justificar a ilegalidade, a irregularidade e muitas vezes o CRIME. Um erro (ou uma necessidade) não justifica o outro. Não sou contra os camelôs e quaisquer profissional, autônomo/liberal, mas sou contra a ilegalidade, o abuso e a desordem que provocam na cidade.

      Sobre “dar idéias” para que estas pessoas possam se sustentar, me desculpe, mas isso não compete a mim, nem mesmo a você. “Cada um sabe onde o calo aperta”, logo, cada um que busque as soluções para seus problemas de forma ordeira e legal.

      Opinião pessoal: nós brasileiros somos um povo “mimado”, acostumados a “ter tudo na mão” através de políticas assistencialistas que, há décadas, só servem para estimular a subserviência e a “preguiça de pensar”. Enquanto crermos que o governo e os mais “bem sucedidos” têm que dar tudo para os menos favorecidos, continuaremos sendo um povo de “pescadores que esperam o peixe pular na rede” ao invés de ir ao mar pescar.

  5. Concordo demais com o comentário sobre o “fica em casa”. Abordo também a centralização do comercio em número cada vez menor de ruas. Lojista e camelô disputam os trechos onde circulam pessoas. Com m transporte “enpenado” devido as mãos de transito, hoje, somente o SAARA mantém uma zona comercial no Centro e as ruas do Castelo, Praça XV e Cinelândia vão sendo entregues a Deus. A tendência, como descrito hoje, será mesmo o esvaziamento total das lojas, como vi esta semana na Sete de Setembro, com quatro lojas fechadas em janeiro somente na calçada par, em frente a estação Colombo do VLT.

  6. O Quintino já se perguntou a razão do aumento do número de camelôs na cidade inteira? É a mesma razão do aumento de mendigos. A ideia idiota de fechar o comércio inteiro por quase dois anos. O “fica em casa, a economia agente vê depois”. Fico imaginando o dono de uma loja de molduras, sujeito que, se vê 3 clientes por dia, comemora. O que ele deve ter achado da justificativa de ” evitar aglomerações”. O resultado está aí.

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