Por André Delacerda
A saudade para muitos pode significar tristeza, mas certamente é uma das palavras mais bonitas herdadas da cultura portuguesa. Saudade é a falta de algo que para nós foi bom, faz falta, nos marcou. Algo que gostaríamos de recordar.
E qual é o carioca que não sente falta das coisas boas do passado? Certamente os cariocas devem ter muitas coisas das quais sentem saudade. Então fiquei aqui pensando tendo como fundo musical o refrão da música do D2 “Dor de Verdade”, cantada em parceria com Noca da Portela e Arlindo Cruz: “Saudade! Saudade!”. E algumas coisas passaram pela minha cabeça…
Do transporte tão charmoso e romântico que cruzava o Rio em crescimento, numa época em que a cidade ainda não tinha um transito tão movimentado, sem tanto ônibus, sem metrô. Numa época em que havia a estação Tabuleiro da Baiana. Mas essa saudade ainda consegue ser “matada” em bom sentido, pois ainda pode-se sentir o gostinho dos velhos bondes pelas ruas inclinadas de Santa Teresa.
Saudades da Capital Federal
Muito ainda sentem a falta de toda a efervescência política que fazia do Rio o cenário das decisões nacionais. Com a saída da capital para o Centro-Oeste dizem os saudosistas que a cidade perdeu um grande quadro técnico, o glamour político, e começou seu processo de esvaziamento econômico-financeiro. Mas mesmo não sendo mais a capital federal, quando se pensa em Brasil em qualquer parte do mundo, ainda se visualiza o Rio como a capital do país.
Palco de inesquecíveis apresentações e de um complexo de diversão notável. Foi daquele charmoso templo da diversão que despontaram muitas estrelas da música brasileira, são dessa época as famosas vedetes. O cassino teve presença garantida de estrelas nacionais e internacionais, políticos e personalidades cariocas. Não se pode pensar em Rio sem falar deste palco importante das artes e jogos de azar.
Saudades da Pequena Notável
Carmen Miranda a portuguesinha mais carioca do mundo, moradora da Lapa, numa época em que o Centro do Rio era o grande centro irradiador não só de negócios, mas também de lazer e moradia da cidade. Carmem encantou as rádios e os cariocas que a iam vê-la nas apresentações nos auditórios e clubes. O carioca tinha tanto apreço pela Pequena Notável que quando da sua morte, levou mais de meio milhão de pessoas ao cortejo do enterro.
Saudades dos Show de Calouro da Radio Nacional
Uma época de pura inocência e paixão, onde o carioca ia ver seus cantores e descobrir novas estrelas da música. Foi dos palcos da Radio Nacional e outras que grandes cantores e interpretes arrancaram suspiros, gritos e admiração de milhares de fãs. Era um tempo de profunda produção musical no país. Tempos áureos das rainhas do rádio, com suas encantadoras vozes.
Saudades dos Ranchos
O carioca ama carnaval, mas um dia, no lugar que hoje é ocupado pelas Escolas de Samba, o carioca já parou para ver o desfile dos Ranchos, com seus lindos carros alegóricos. Apesar de não as tradicionais baterias das escolas de hoje, os ranchos possuíam todo uma força de atração que fazia com que o carioca não perdesse os desfiles.
Saudades de voar nos Electras na Ponte Aérea
Ninguém nunca duvidou da segurança dos Electras que cruzavam os céus do Rio rumo a São Paulo e vice-versa. Muitos ainda sentem saudades de embarcar no Santos Dumont e voar nos gloriosos e inesquecíveis Electras, do tempo em que o Rio orgulhava-se de sua grande companhia aérea nacional, a Varig. Apesar de serem substituídos por modernos boeings, airbus e embraers. Os Electras da ponte aérea sempre serão considerados os eternos príncipes dos ares por muitos cariocas.
E do que mais você sente saudades???
Dos passeios nos finais de semana a Paquetá, dos bambas do samba que se foram, de Burle Marx e sua genialidade em jardins, saudades…saudades… agora é com vocês?
Rio de Janeiro – Bondinho de Santa Teresa por Silvio Pereira Costa