Dois rios da Mata Atlântica fluminense apresentam qualidade da água imprópria para consumo humano

Os dados são de levantamento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica

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Rio Paraíba do Sul (Foto: Divulgação/CETESB)

A Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro se encontra ameaçada. Para além do desmatamento, a poluição das bacias hidrográficas desse ecossistema apresenta-se como um dos principais desafios na luta pela sua conservação. Dados mais recentes da Fundação SOS Mata Atlântica ilustram esse cenário desafiador.

A Organização Não-Governamental (ONG), SOS Mata Atlântica, divulgou seu relatório anual referente ao Índice de Qualidade da Água (IQA) das bacias hidrográficas deste bioma no Brasil. A análise deste IQA é feita mensalmente, e apresenta os dados de janeiro a dezembro de 2023. A atividade foi realizada pelos voluntários do Programa Observando Rios, que produz este tipo de monitoramento desde 2015. A fundação contou com 2.700 voluntários para a realização dessas coletas. Foram realizadas 1.101 análises em 174 pontos de coleta, cobrindo 129 rios e corpos d’água, em 80 municípios de 16 estados da Mata Atlântica.

Os parâmetros do IQA foram escolhidos por especialistas e técnicos ambientais, considerando os critérios mais relevantes para avaliação das águas doces destinadas ao abastecimento público e aos usos múltiplos, como para indústria e agricultura. O somatório total desses indicadores resulta na classificação da qualidade a água, em uma escala que varia entre ótima, boa, regular, ruim e péssima.

A realização dessa coleta foi feita pelos voluntários, sob a lógica do monitoramento participativo. Nesse sentido, a metodologia de coleta conduzida pelo Observando os Rios agregam aos indicadores físicos, químicos e biológicos, parâmetros que permitem com que a sociedade civil realize esse levantamento, de acordo com a legislação vigente. São utilizados 16 critérios do IQA, a exemplo de temperatura da água, espuma, odor, pH, a presença de coliformes, entre outros.

No levantamento realizado em 2023, o estado do Rio de Janeiro teve 14 pontos de monitoramento, em 11 rios. Destes, dois rios (2) registraram IQA ruim, enquanto os outros nove (9) obtiveram IQA regular. O elemento mais agravante está no fato de que nenhum dos pontos de monitoramento apresentou qualidade da água descrita como boa ou ótima, estando abaixo, portanto, da média nacional.

Entre todos os pontos de monitoramento das bacias hidrográficas da Mata Atlântica no Brasil, apenas 14 (8%) apresentaram IQA bom, enquanto 77% foram classificados como regulares (134). Deste universo amostral, 15% registraram IQA ruim/péssimo (26), e nenhum foi considerado ótimo.

Na região fluminense, um dos pontos de monitoramento avaliado negativamente está localizado na capital do estado. Trata-se do Rio Quitungo, na zona norte da cidade. Ele atravessa os bairros de Vila Cosmos, Penha, Braz e Cordovil, e sua foz está localizada em Irajá. Outro ponto de coleta que apresentou IQA ruim foi um trecho do Rio Paraíba do Sul, atravessando o município de Itaocara, no noroeste fluminense.

O estado do Rio é o que possui o segundo maior número de rios monitorados (11) e a unidade federativa com a segunda maior quantidade de pontos de monitoramento (14). No entanto, está consideravelmente atrás dos números de São Paulo; são 53 rios que abrangem 33 municípios, com 83 pontos de coleta.

Apesar de incluir muitos rios na sua análise amostral, a região fluminense é uma das unidades federativas com menor número de municípios abrangidos pelos rios monitorados. São apenas três cidades (3) cercadas por 11 rios – o mesmo número de municípios observados em Santa Catarina e no Piauí, por exemplo, e abaixo de estados como Alagoas (6) e Rio Grande do Sul (5).

O IQA no estado do Rio de Janeiro não apresentou mudanças significativas entre os resultados de 2022 e 2023. No entanto, entre os três novos pontos de monitoramento, um apresentou resultado ruim, enquanto os outros dois foram classificados como regulares. O novo ponto de coleta avaliado negativamente foi o do Rio Quitungo.

A Fundação SOS Mata Atlântica foi criada em 1986, visando medidas de preservação e recuperação deste bioma, que abrange uma área equivalente a 1.315.460 km² ao longo de 17 estados do Brasil. Em 2023, O Programa Observando Rios completou 30 anos de atuação.

“A SOS Mata Atlântica está de parabéns, porque na verdade o monitoramento da qualidade, potabilidade da água, é uma atribuição do poder público, e não da sociedade civil; na ausência do poder público, a SOS Mata Atlântica tá atuando. Logicamente isso não desobriga o poder público da sua responsabilidade legal… Só que aí tem um problema do número de amostragem, que é muito pequeno pro tamanho dos corpos hídricos da Mata Atlântica (…) Isso também termina por ser fruto dos problemas da política de privatização do saneamento básico no Brasil, que cria um imbróglio jurídico/institucional sobre quem é a competência de conduzir a política de saneamento básico no Brasil” destaca Sérgio Ricardo, ecologista e Co-fundador do Movimento Baía Viva.

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