Na segunda começou mais uma novela ambientada no Rio de Janeiro, quer dizer, na República do Leblon de Manoel Carlos, “Viver a Vida”, apesar de desta vez a protagonista Helena morar no Jardim Botânico (grande mudança Maneco).
E muita gente deve se perguntar o porquê de Manoel Carlos sempre escolher o Leblon (de escolher como galã o José Mayer está sendo explicado no Twitter e pode ser vsita aqui). Voltando ao Leblon, estava lendo o blog Literatura & Rio de Janeiro, e o blogueiro trouxe uma coluna de Manoel Carlos de janeiro deste ano em que ele explicar de “Por que o Leblon?”.
É claro que o Leblon de Manoel Carlos todos, até o mais simples da classe média, moram em apartamentos de 500 M2. Mas vá lá, vale saber o porquê de ser o Leblon como no texto abaixo. Aconselho a visitarem o post do Literatura com as fotos que o blogueiro fez do Leblon.
Por que o Leblon?
É o que algumas pessoas do bairro me perguntam, sempre que eu escrevo uma novela. Por que não Ipanema, Copacabana, Barra ou então Tijuca, Jacarepaguá, Vila Isabel, Gávea, Jardim Botânico… Enfim, por que não qualquer outro bairro do Rio? Por que o Leblon?
Alguns moradores fazem essa pergunta com simpatia e afeto. Mostram-se sorridentes, acarinhados e até envaidecidos com a minha escolha permanente. De outros, a indagação surge como um protesto, sempre acompanhada por um rosário de razões afeitas à cidadania, a começar pela queixa contra os caminhões da TV Globo, que deixam as ruas intransitáveis, tumultuando a vida dos moradores. E há também os que reclamam do alto preço dos imóveis – para comprar ou alugar –, por culpa minha, dizem eles, que valorizo o bairro na novela, fazendo parecer que aqui é o paraíso, onde não há violência, nem sujeira, nem descaso das autoridades públicas. Porém, no frigir dos ovos, estabelece-se uma divisão fifty-fifty: os que gostam e os que não gostam. Para os idosos, crianças, babás e seus bebês, a sensação é de festa permanente, de feriado ininterrupto. Ao lado disso tudo há, obviamente, violência, sujeira e descaso das autoridades públicas, como em todo o Rio e em quase todo o Brasil.
Mas a felicidade maior é mesmo dos paparazzi, que têm farto material disponível, com astros e estrelas desfilando, diariamente, nos restaurantes, bancas de jornais, farmácias, livrarias e cafeterias. Nos fins de semana – muitas vezes gravamos no sábado – há praticamente um tour de turistas domésticos, que circulam com câmeras fotográficas, perseguindo, numa boa, as celebridades globais.
Mas, afinal, por que o Leblon? Será por causa dessa movimentação toda, desse circo a céu aberto que a televisão cria, mesmo já sendo o bairro, independentemente de novelas, o preferido dos famosos? Não, nada disso. A resposta é fácil, simples, cristalina: porque moro aqui. Transito pelas ruas do Leblon, a pé, todos os dias, conhecendo seus moradores, um a um, pelo menos de vista. Aqui também formei grande parte da minha família, já que tenho dois filhos e três netos leblonenses genuínos. Sendo assim, quando penso na história central de uma novela, é natural que eu a imagine desenrolando-se aqui, nestas ruas e praças, nestes bares e restaurantes. Na sua vida agitada sete noites por semana.
O Leblon é uma pequena faixa de terra cercada de beleza por todos os lados. Situa-se entre o mar e a Lagoa Rodrigo de Freitas, e sua extensão total cobre menos de vinte ruas transversais: da Avenida Borges de Medeiros à Avenida Visconde de Albuquerque. O bairro abriga endereços famosos, moradores célebres e o Flamengo da Marilene Dabus e de todos nós.
Quando saio do Rio, a curiosidade é especulativa, cheia de perguntas feitas com os olhos brilhando. Também imaginam que o bairro seja uma espécie de Manhattan, ilha da fantasia onde as celebridades circulam de camiseta, bermudas e Havaianas. Muita gente faz essa ideia do Leblon. Conheci uma moça em São Paulo que me fez prometer que, vindo ela ao Rio, eu lhe mostrasse a Clínica São Vicente.
– Mas por quê? – perguntei eu.
– Porque é para lá que todos os artistas vão, quando ficam doentes ou quando simplesmente precisam fazer um exame, consultar um médico. Leio isso sempre nos jornais e revistas.
Não tive coragem de revelar que a Clínica São Vicente é na Gávea. Não quis lhe provocar essa decepção.
Criam-se lendas, inventam-se histórias, fantasia-se. Para mim é apenas o lugar onde eu moro e que amo de coração. Simples, quase bucólico. Parodiando Fernando Pessoa e seu Tejo, posso afirmar que:
"O Leblon não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele".
Foto: Clouds dance under a full moon por Xavier Donat