Por André Delacerda
Obs.: Essa é uma história de ficção e qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência. Sendo os personagens e locais, fruto de criação ficcional.
Quase todo brasileiro já teve a oportunidade de ler algum livro ou assistir via Tv, novelas com as histórias escritas pelo imortal escritor Jorge Amado, que tão bem soube caracterizar o coronelismo, brigas pelo poder em determinadas regiões do Brasil, e os métodos empregados por estes homens que por muitos anos dominaram vastas regiões do Brasil.
O querido Amado, retratou essas histórias que eram uma realidade desde os idos da Proclamação da República até a década de 60 do século passado. Em algumas outras regiões do Brasil, essas práticas ainda sobrevivem, em menor escala. Porém parece que a mesma se reacendeu com força há alguns dias.
Bem, hoje trago aos leitores do Diário do Rio uma história que certamente muito deles vão se identificar, é a história de coronéis, jagunços, capangas e seus métodos. Essa é a história do jovem Coronel Sesé e seu filho bastardo Udão.
Sesé, por muitos anos foi o chefe de uma espécie de Câmara da região de Riozão, uma bela cidade localizada em uma dessas inúmeras praias desse imenso território tupiniquim. Logo que chegou a essa instância, dizem as más línguas, ou boas línguas, Sesé tratou de fazer conchavos, de montar alguns esquemas. Esses eram os bochichos fortes que circulava pelos corredores do nobre prédio, que reunia “homens sábios” que legislavam muito das vezes em causa própria.
Coronel Sesé era muito esperto e sabia que para chegar ao poder deveria agradar o povo, estes tão carentes, não só de coisas materiais, mas também de afeto. E o maquiavélico Sesé pôs-se a executar seu plano de escalada de poder, se aliou a um dos grupos dominantes da região. Estes já tinham controle do “gado”, como assim era chamada a população dominada das cercanias. Em outra frente começou a dar afeto aos que menos tinham. Era um abraço pra cá, outro pra lá, um beijo na testa de uma senhora, um gole de café numa casa humilde. Até chorar em velório Coronel Sesé encenava, para mostrar que era igual ao povo do povoado. Sem falar nas peripécias de tocar instrumentos na festa do carnaval. Inclusive cai no ritmo dos tambores como se fosse um íntimo representante desta festa, só para tentar agradar a quem o via.
Triste população de Riozão que não sabia o que lhe esperava.
Pararam frente a frente e perceberam muitas semelhanças entre si. Coronel Sesé se perguntava. Será que este seria aquele filho bastardo que tivera na juventude em um dos encontros secretos com alguma dama da noite? Quem sabe. O certo é que ficaram muito amigos, tal pai e filho. E logo Coronel Sesé deu um título a Udão, para que este pudesse ascender mais rapidamente ao status de Coronel um dia.
O sonho de Coronel Sesé era tomar o poder da sede da intendência de Riozão, já que dominava suas cercanias, através da força e do medo empregada pelos jagunços e capangas.
Coronel Sesé usava até de conchavos com suas guardas, para que nas horas livres atuassem com os jagunços que aterrorizavam as regiões mais pobres. Todos sabiam que aquela força vinha das tramóias do Coronel.
Coronel Sesé usa do terror e de muita mentira para enganar a população local. Além disso, concede a uma boa parte das almas que viviam em Riozão a grata bondade de não precisarem trabalhar no dia seguinte ao pleito. O nobre Coronel tinha muita pena da sua gente, pois ela era explorada demais, então que uma vez na vida pudessem aproveitar uns instantes de sol junto as águas salgadas. Já que no dia seguinte eles voltariam a sofre com os jagunços que prontamente lhe escravizariam.
E foi o que aconteceu, Udão no dia do pleito se sagrou Coronel. Ganhou mas não ganhou, pórem, os métodos que ele usara em conjunto com seu pai bastardo Coronel Sesé e com a ajuda de jagunços fortemente armados que se aliaram a quem deveria resguardar as leis em Riozão, o fizeram Coronel. Até religiosos se aliaram a Udão, pois queriam na verdade mordiscar das migalhas que Coronel Sesé poderia lhes dar. E juntos homens supostamente de bem, homens maus, e gente amordaçada e sob o domínio do medo, dão a Udão o título de Coronel de Riozão.
Passado-se alguns meses, Udão já no poder todo poderoso, na verdade, uma espécie de secretário do Coronel Sesé, já que era uma marionete e não tinha vida própria, não cumpria nada que prometera. Antes de virá coroné – como o povo chamava o homem – disse aos que lhe levaram a ganhar o pleito que iria transformar Riozão em um oásis, que não ia faltar doutor e nem carroça para transportar a população.
Na chefia de Udão, não se tinha remédio, as pessoas andavam em valas com lamas, as carroças que levavam a população pioraram, e nem educação, que Udão falava tanto que ia ser nos trinques, ele fez nada.
Mas Udão, filho bastardo de Sesé cada vez se envaidecia, só pensava na próxima investida de poder. Nada parecia lhe atingir, já que Coronel Sesé comprava todos os noticiários da cidade.
Para piorar a situação, os jagunços que trabalhavam para Coronel Sesé aumentaram o terror e a cobrança de pedágio em quase todas as partes da intendência.
E o povo, pobre povo que gostava de se enganar, olhava para o alto tentando encontrar esperanças na estátua de um cristo em um alto de um monte, que antes de braços abertos, naquele instante estava de joelhos, amordaçado, abraçado com algumas pessoas que submissas olhavam firmemente o chão, tendo sob suas cabeças, a mira da máquina orquestrada pelo poder.
A moral da história: Cada um é cúmplice dos seus próprios infortúnios.