Ediel Ribeiro: Homenagem ao Mestre

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o cantor e compositor que encantou Madureira e o Brasil: Roberto Ribeiro

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Há exatos 25 anos – no dia 8 de janeiro de 1996 – o samba perdia Roberto Ribeiro. Fiz, provavelmente, a última entrevista com o cantor e compositor que encantou Madureira e o Brasil.

Era dia do aniversário dele, 7 de julho de 1995. Convidado pela amiga Eulália Figueiredo, fui ao encontro dele na Special – uma boate que funcionava no prédio da antiga Black Horse, que pegou fogo, no início dos anos 80, em Ipanema, no Rio de Janeiro -, onde aconteceria a comemoração do seu aniversário. 

Cheguei mais cedo e gravei para o “Jornal do Rádio” – um tablóide onde eu trabalhava – uma pequena entrevista com o cantor.  A carreira do cantor e compositor dos nossos mais belos sambas, estava em decadência. Roberto já tinha perdido a visão de um olho em razão de uma contaminação por fungo, agravada pelo diabetes. 

Mas ainda era o grande Roberto Ribeiro.

O sucesso, o dinheiro e a fama, em nada mudaram o homem simples, o amigo generoso, o sambista alegre que encantava os que o cercavam. Roberto falou da infância em Campos, da trajetória no samba, do Império Serrano e dos seus inúmeros sucessos.

Alguns meses depois, Roberto Ribeiro, morreu em virtude  de atropelamento, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde morava.

Roberto Ribeiro que quando nasceu, em Campos dos Goytacazes, era Demerval Miranda Maciel, tinha o apelido de “Pneu”. Menino humilde, o então entregador de leite, forjava brigas com os amigos para, na confusão, entrar escondido no Cine Coliseu, onde assistia às  aventuras do  Zorro e do sargento Garcia.

Segundo o amigo Rubem Confete, ainda menino, Roberto ganhava todos os concursos de samba em Campos. Mas o artista também se dedicava ao esporte. Em especial, ao futebol.

Chegou a jogar futebol profissional na cidade de Campos. Era goleiro. Depois de passagens por equipes amadoras (Cruzeiro e Rio Branco), jogou no Goytacaz Futebol Clube. Na tentativa de se firmar como jogador de futebol, Roberto – a despeito dos conselhos de seu técnico Hélvio Santafé  que o aconselhou a deixar o futebol e tentar a carreira como cantor -, veio para o Rio de Janeiro, onde chegou a treinar no Fluminense.

No Rio, o futebol perdeu um jogador comum e o samba ganhou um cantor e compositor genial. A partir de 1972, sua carreira como cantor ganhou impulso com a gravação de três compactos em parceria com a cantora Elza Soares, pela  Odeon. Satisfeita com o sucesso dos compactos, o selo lançou o LP “Elza Soares e Roberto Ribeiro – Sangue, Suor e Raça”.

Apaixonado pelo Império Serrano, Roberto ganhou destaque e troféus como intérprete da agremiação carioca. O cantor tem mais de 20 discos gravados, com sucessos populares como as canções “Acreditar”, “Estrela de Madureira”, “Todo Menino É um Rei”, “Vazio”, “Malandros Maneiros”, “Fala Brasil” e “Amor de Verdade”.

Ninguém mais do que ele mereceu ser chamado de puxador. Embora o termo seja considerado por muitos pejorativo – o grande Jamelão detestava ser chamado assim –, Roberto Ribeiro, que inaugurou a prática de cantar o samba pisando o asfalto da Avenida – e não do alto do carro de som, como era costume -, puxava a escola atrás de sua voz forte e potente, levando o Império Serrano, onde ocupou o posto de 1970 a 1981 à grandes desfiles.

 Transformado em ídolo popular não apenas pela voz doce e potente, mas também pela presença simpática e elegante, nunca abriu mão de sua condição de sambista. Seus discos estavam no topo das listas de mais vendidos, seus shows por todo o país atraíam multidões. 

Roberto, que morou durante muitos anos em Vila Isabel, perto do Petisco da Vila; pela vendagem expressiva de seus discos, chegou a ganhar da gravadora Odeon uma casa na Barra da Tijuca – no condomínio onde hoje mora o jogador Zico. 

Amou o Império Serrano até seu último dia de vida. Amor que sempre foi e será correspondido na mesma proporção. Roberto Ribeiro viverá eternamente na saudade e na história do Império Serrano.

Após a sua morte, sua vida foi contada em livro escrito por sua esposa, Liette de Souza Maciel, com o título “Dez anos de Saudade” 

Em 2014, seu filho, Alex Ribeiro, montou o espetáculo “Roberto Ribeiro – Homenagem ao Mestre”, apresentado no Teatro Rival, no Centro do Rio de Janeiro, no qual vários amigos do cantor tiveram participações especiais.

Hoje, 25 anos depois, voltamos a lembrar de Roberto Ribeiro, que, com certeza, como uma estrela, continua brilhando no céu.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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