Ediel Ribeiro: Meu garçom favorito

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala de "garçons parisienses", cuja grosseria já é um charme conhecido mundialmente

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Arlindo Cruz tem um disco chamado “Sambista Perfeito”. Outro dia, ouvindo o sambista, num bar da Central do Brasil, fiquei imaginando como seria o ‘Garçom Perfeito’.

Nas minhas andanças pelos botecos da vida – no Rio ou fora do Rio – já esbarrei com muitos garçons; bons ou maus, são personagem onipresente no cotidiano de todos os frequentadores de botecos. O garçom é a referência de um bar. Alguns, são verdadeiras instituições, até mais famosos que os próprios bares.

No mundo todo, o clima do bar ou restaurante e sua identidade, se personifica no garçom. Caso dos famosos garçons parisienses, cuja grosseria já é um charme conhecido mundialmente.

Aqui, ‘nossos franceses’ estão no ‘Bar Lagoa’, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O bar é famoso por possuir os garçons ‘mais antipáticos’ da cidade.

A fama é tanta que os artistas Miguel Paiva, Aroeira e Gabriel Souza foram convocados para fazer um painel de 6m para imortalizar, em caricaturas, os sisudos garçons, numa das mais merecidas homenagens aos profissionais.

O mais famoso era João Dias Godoy, que não se importava em receber os clientes com a cara amarrada. Apelidado de Figueiredo pela semelhança com o ex-presidente, ele chegou a expulsar do bar, em plena ditadura militar, um coronel do Exército que tentava entrar com o cachorro. Ao ouvir do militar: “o senhor sabe com quem está falando?”, respondeu: “Sei não, mas sei que seu cachorro não tem patente”.

Figueiredo dava respostas duras, repreendia as pessoas e furava fila para beneficiar os amigos, o que lhe rendeu a fama de mal-humorado. Nem Martinho da Vila escapou do mau-humor do garçom. O cantor foi repreendido, certa vez, por batucar na mesa.

Outros famosos são o Chico que depois que deixou o ‘Bracarense’ montou seu próprio bar e Sebastião Alves, conhecido como Tiãozinho do restaurante ‘Degrau’, no Leblon. Tiãozinho diariamente saia do bar para entregar a refeição no apartamento do cantor João Gilberto. Depois de quatro décadas nesta rotina, eles se tornaram amigos, com uma paixão em comum, o Vasco da Gama.

Os garçons também fazem parte da tradição de alguns estabelecimentos de São Paulo. A fama desses botecos se dá exatamente por seus icônicos garçons. São famosos o falante Miguel, do bar ‘Ponto Chic’; o elegante Luiz, do ‘La Farina’; o exótico Zé das Medalhas – garçom do bar ‘Tom Zé’, conhecido entre os boêmios como “Bar da Lôca” e Osmar, o garçom poeta do ‘Rei das Batidas’.

Jaguar – com quem já tive o prazer de tomar uns porres – em seu livro ‘Confesso Que Bebi’, uma espécie de roteiro afetivo dos bares que o cartunista frequentou, conta algumas histórias de famosos garçons cariocas:

Paulinho, conhecido garçom do Lamas, além de estar sempre meio de porre – houve uma época, acreditem, em que os garçons bebiam quase tanto quanto os clientes -, era míope como Mister Magoo. Certa vez foi servir uma fritada, pensou que já tinha posto o prato, branco que nem a toalha, e despejou a gororoba direto na toalha.

Outra que aconteceu no Lamas: Maia, garçom memorável, pisou numa casca de banana – na parte da frente do Lamas, na época, vendiam-se frutas – e caiu estatelado, de pernas para o alto, mas sem derramar um só copo da bandeja. O bar aplaudiu de pé a performance.

Outra do Maia: sua gravata-borboleta que era de pressão, afrouxou e caiu dentro de uma travessa de canja, sem que ele notasse. O cliente, de molecagem, escondeu a gravata e só entregou às 4 da manhã, quando o aflito Maia, desesperançado, já tinha perdido as esperanças de achar a gravata.

Garçons como esses, são uma espécie em extinção.

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Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

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