Ediel Ribeiro: O Capitólio de Jair Bolsonaro

Colunista do DIÁRIO DO RIO fala sobre o fim do governo do presidente e os protestos dos manifestantes

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
Presidente Jair Bolsonaro participa da cerimonia do Dia do Soldado (25/08) ao lado do Vice-presidente Hamilto Mourão, Sérgio Moro, no QG do Exércio. Brasilia, 23/08/2019. Ricardo SallesFoto: Sérgio Lima/PODER 360

Quando o Secretário de Comunicação chegou no Palácio do Alvorada com o discurso do presidente embaixo do braço, Jair Bolsonaro ainda estava trancado no banheiro, chorando.

Presidente, o senhor precisa sair daí. A eleição já acabou. O senhor está trancado no banheiro há dois dias. Os brasileiros estão esperando o seu pronunciamento à Nação. O senhor ainda é o presidente do país. As ruas estão um caos.

– O ex-presidiário já foi?

– Já. Pode sair. A eleição acabou. Seu amigos do Centrão estão todos aqui para apoiá-lo.

– Eu não vou fazer nenhum pronunciamento, taokey. Não vou

reconhecer uma eleição manipulada e fraudulenta, taokey. Eu só perdi porque os nordestinos, analfabetos, não conseguiam ler ‘Bolsonaro’ na urna, então, votaram ‘Lula’ que é um nome mais fácil de ler.

– Enquanto o senhor chora a derrota, seus apoiadores estão

bloqueando nossas principais rodovias, levando o caos e a desordem ao país. Os bloqueios já estão indo para o terceiro dia, com manifestantes prometendo manter as interdições por tempo indeterminado.

– As movimentações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser o da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônios e cerceamento do direito de ir e vir – disse o presidente.

– Presidente, já está havendo destruição de patrimônio, cerceamento do direito de ir e vir e prejuízo no abastecimento de alimentos e combustíveis. O senhor precisa ordenar explicitamente a desmobilização de bloqueios de rodovias, feitos por seus apoiadores que contestam, sem provas, o resultado das urnas e pedem um golpe.

– Isso daê já é outra cuestão, taokey.

– Já estou aqui com o seu discurso. Quer que eu leia para o senhor? É bem curto.

– Taokey.

– “Quero começar agradecendo primeiramente

aos 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Quero também parabenizar o candidato Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória alcançada, democraticamente, nas últimas eleições. Dizer também que os atuais movimentos populares frutos de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral, ou não, devem ser dispersados imediatamente. As rodovias devem ser desbloqueadas e o direito de ir e vir da população respeitado…”

– Pode parar – cortou o presidente. – Nada disso daê. Zero! No tocante ao agradecimento ao gado, digo, aos eleitores que votaram em mim, tudo bem. Posso até agradecer, mas reconhecer a vitória do ex-presidiário, não. Não reconheço nem vou passar a faixa para ele. Se o Mourão, aquele traidor, quiser passar é problema dele. Só Deus tira essa faixa do meu peito…

– Ele já tirou – sussurrou o secretário, irônico. – Em grupos nas redes

sociais, o seu silêncio foi interpretado como um apoio às mobilizações golpistas.

– Sempre joguei dentro das 4 linhas da Constituição. Nunca

falei em controlar a mídia e as redes sociais mas não posso impedir o povo de transitar lépido e fagueiro pelas rodovias do país.

– O povo está decepcionado com o senhor.

– Vão sentir saudades da gente aqui – gemeu o presidente.

– Já estamos sentindo – disse Ciro Nogueira, líder do Centrão.

*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor.

Advertisement
Receba notícias no WhatsApp
entrar grupo whatsapp Ediel Ribeiro: O Capitólio de Jair Bolsonaro
Avatar photo
Jornalista, cartunista, poeta e escritor carioca. É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG) e Diário do Rio (RJ) Autor do livro “Parem as Máquinas! - histórias de cartunistas e seus botecos”. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) dos romances "Sonhos são Azuis" e “Entre Sonhos e Girassóis”. É também autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty", publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ), desde 2003, e criador e editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!"

5 COMENTÁRIOS

  1. como tem zé ruela que acredita nesta história de direita/esquerda. as duas são duas faces da mesma moeda. a direita criticou tanto e fez as mesmas coisas que a esquerda. duas borra-botas: uma idolatra o comunismo; a outra, o capitalismo. e o idiotas nas estradas fazendo papel de palhaço e recebendo por debaixo dos panos…

    criticou-se tanto a aparelhamento do estado e a “direita” fez o que? a mesmíssima coisa. e ainda tentaram prejudicar o barbudo, impedindo eleitores de irem às urnas, no nordeste. vagabundo falando de vagabundo. ladrão falando de ladrão. safado reclamando de safado. tudo farinha do mesmo saco.

    PS: já tinha visto uma foto parecida e agora sei onde o fotógrafo se inspirou: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/_versions/figueiredocpa0398492_widelg.jpg

  2. A esquerda roubou descaradamente, o pitoco não subirá a rampa. A alegria da esquerda é feroz, pautada na idolatria do comunismo e do mal. Ainda tem muita palha a ser consumida pelo fogo do bem. E por falar do bem, não há maldade que se sustente com a força que ele não tem.

  3. Estou com uma curiosidade num futuro próximo: O que os críticos, colunistas, profissionais de imprensa, formadores de opinião e os modeladores de comportamento via cultura que são a fortaleza da eterna oposição a alguma coisa fará quando Jair Bolsonaro sair do poder. Infelizmente para todo o Brasil, é essa galera é que mantém a chama acesa da dita “jovem” direita, essa turma que saiu da caixa e vai agora pras ruas. Triste dizer, mas com trabalhos publicados iguais a estes só servem para perenizar o “mito”.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui