O sol nascente refletido nas curvas, mármores, tijolos de vidro de um portentoso edifício modernista assinado: Como toda obra do célebre arquiteto Oscar Niemeyer, é assim que o prédio do antigo Banco Boavista, que embeleza a Praça Pio X, ao número 118, no Centro do Rio, deveria ser percebido todas as manhãs. Mas, não é o que tem ocorrido. A parte sinuosa da fachada externa da edificação passou a acumular diariamente imensas quantidades de fezes e urina de moradores de rua, mesmo com banheiros químicos quase sempre instalados ali perto. O prédio fica nas imediações da linda e histórica Igreja da Candelária, onde hoje só se pode caminhar com pregadores no nariz.
O prédio, datado em 1946, período pré-Pampulha, ainda possui um painel de mosaico de pastilhas de Paulo Werneck e é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) desde 1992, mas tanta grandeza não o poupou do descaso e da imundície que tomou conta da região desde que se tornou paraíso dos ditos “zumbis do mundo real”: os viciados em crack. “Terrível isso. È parte da nossa história que, aqui, virou banheiro público de mendigos“, reclama Valéria Andrade, de 67 anos.
A edificação fica próxima à Candelária, onde se concentra boa parte das pessoas que dormem nas ruas, e também desempenha a função de berço comercial e cultural da cidade. Inaugurado em 1948, após o cálculo do engenheiro Joaquim Cardozo, a estrutura ainda conta, na fachada oeste, com brise-soleil de madeira regulável e brises horizontais em concreto na fachada norte, semelhantes aos da sede do Ministério da Educação, também no Centro do Rio.
Apesar do repetido incidente, a Comlurb esclarece, em nota, que realiza a limpeza hidráulica com água de reuso três vezes ao dia em toda a área ao redor da Praça Pio X. Parece que terá que dobrar a meta.