A Sexagésima Segunda Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, através do juiz Edson Dias de Souza havia determinado para o dia 10 de dezembro – ontem – o leilão do histórico Palacete São Cornélio, construção histórica belíssima que fica localizada na Rua do Catete, número 6, de propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. No mesmo dia, seria também leiloado o prédio da Rua Santo Amaro, 16, que servia como uma espécie de saída lateral do antigo Asilo, quando ali funcionava a Universidade Souza Marques, que deixou o imóvel arruinado em 2005.
O grande palacete da Glória iria a leilão por R$ 26.000.000,00 e o prédio da Santo Amaro por R$ 2.380.000,00, através da leiloeira Bianca Pais. Caso não fosse vendido no dia 10, poderia ter ido novamente a leilão no dia 17, pela metade do preço. Porém, em nova vitória do time jurídico da Santa Casa, liderado pelo advogado Maurício Osthoff, o leilão foi cancelado, tendo a entidade comprovado a incompetência da 62a. vara para promover a venda do bem, que já é objeto de outros processos judiciais. A instituição passa por uma grande reestruturação, que desde o ano de 2024 já contabiliza outros resultados positivos, como a recuperação de mais de 300 milhões de reais em ativos, a auditoria do patrimônio imobiliário, a anulação de mais de 200 milhões de reais em cobranças fraudulentas e uma ativa reorganização das contas da entidade de 442 anos.
O imóvel de quase 6.000m2, todavia, se encontra à venda via Sergio Castro Imóveis, corretora que foi encarregada pela Santa Casa de oferecê-lo no mercado. Segundo a empresa, há interessados, mas as exigências dos órgãos de patrimônio e a limitação da altura possível para se edificar um edifício no terreno que fica aos fundos do palacete são os maiores entraves. “Quem comprar, terá que restaurar o bem tombado. A Santa Casa não possui recursos para isso e por esta razão venderá o imóvel. Mas para que seja possível alguém assumir um restauro orçado em mais de 15 milhões, e para que a Misericórdia possa ter condições de pagar ao menos parte de suas dívidas trabalhistas, é preciso que as autoridades tenham a sensibilidade de considerar um gabarito mais alto para o terreno baldio que fica aos fundos”, explica Cláudio André de Castro, responsável pelos imóveis da quadricentenária entidade. “O compromisso máximo da entidade é com os seus trabalhadores e as obras sociais que ela patrocina“, afirma, frisando que “o Provedor Francisco Horta e seu time estão comprometidos com estes objetivos“.
Histórico
O imóvel pertencia originalmente ao comendador João Martins Cornélio, que doou-o à Santa Casa em 1894; a entidade depois usou-o como asilo por décadas, conforme aliás era o desejo original do doador. Depois, o imóvel acabou sendo locado para fins educacionais. A Santa Casa alega que o prédio, uma verdadeira obra de arte tombada pelo Iphan federal – com pinturas com cenas da Guerra do Paraguai e outras cenas ligadas à história do país – estava sob responsabilidade da Souza Marques, que devolveu o imóvel em péssimo estado de conservação, após ocupá-lo por décadas. Com a crise que a entidade passou a sofrer após a desastrosa gestão do ex-provedor Dahas Zarur – que saiu preso da entidade – a irmandade alega que não teve recursos para manter o imóvel, já recebido em mau estado da ex-inquilina.
Moradores da Glória lamentam a situação atual da construção e têm feito de tudo para preservar o patrimônio histórico, mas até agora sem sucesso. O roubo de duas estátuas de ferro fundido da escadaria principal do palacete evidencia a falta de segurança e proteção do local, apesar de todas as tentativas da Santa Casa de obter recursos para melhorar a situação. As estátuas roubadas foram recuperadas e se encontram num depósito da instituição.
Há alguns anos, diretores do Conselho Comunitário da Glória (COM-GLÓRIA) visitaram o palacete e testemunharam em primeira mão o estado de abandono e ruína em que se encontra. “É evidente que o patrimônio tombado nunca recebeu uma inspeção adequada do Iphan para preservar seu acervo artístico”, afirmou um dos diretores, na época.
O Palacete São Cornélio é um símbolo do Rio Antigo, uma testemunha silenciosa da história e da glória desta cidade. Enquanto o palacete ainda enfrenta um futuro incerto, os moradores e amantes da história do Rio de Janeiro continuam sua luta para preservar esse importante marco arquitetônico e cultural, como tantos outros palácios e palacetes espalhados pelo Rio de Janeiro.