Entrevista: Visitando o Rio, Chefe da Casa Imperial fala da cidade, seu patrimônio cultural e do carioca

Chefe da Casa Imperial, Dom Bertrand visitou o Rio de Janeiro e deu uma rara entrevista ao Diário do Rio, onde falou de memórias da cidade a que chegou com 4 anos de idade, após a revogação do banimento da família do imperador Dom Pedro II, de quem é trineto

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A degradação é generalizada, não é só patrimônio. A população, os costumes e os respeitos mudaram completamente. Em 1947, podia-se andar na rua tranquilo. Hoje em dia, é uma degradação moral e cultural também. No regime atual, a boa conservação da cidade não dá voto”, foi assim que Dom Bertrand de Orleans e Bragança, atual chefe da Casa Imperial do Brasil, refletiu a situação do patrimônio e da cultura do Rio em si, em uma recente visita à cidade. Em entrevista exclusiva para o DIÁRIO DO RIO, o octagenário Príncipe – que se o Brasil fosse uma Monarquia, reinaria como seu Imperador – lembra dos tempos da infância na cidade, compara ao cotidiano atual, elogia as paisagens do Rio com um entusiasmo capaz de mudar totalmente o seu tom de voz e ainda sonha que o país siga os passos da Alemanha e restaure seus monumentos e prédios antigos como eles eram originalmente. O Príncipe reside em São Paulo.

Antes que venham os comentários sobre o Brasil não ser monarquia e por isso não teria Casa Imperial, isso é uma tremenda bobagem. Itália, Portugal, Rússia, Havaí e até a França (onde cabeças rolaram) são repúblicas com Casas Reais muito ativas. Estas Casas nada mais são do que associações de monarquistas que promovem a idéia do retorno da monarquia, lideradas pelos descendentes dos antigos reis e rainhas. A França tem pelo menos três ao mesmo tempo (Bourbon, Orleans e Bonaparte). A brasileira é presidida por Dom Bertrand desde o falecimento de seu irmão Dom Luiz, ano passado. Um homem que fala baixo, intelectualizado e sério, mas de idéias (bem) firmes e tradicionais, como aliás é de se esperar.

Com a adoção do lema: “O moderno fica velho, as coisas tradicionais ficam antigas e belas”, Dom Bertrand acredita que teria que elevar-se o nível cultural do povo brasileiro para que a história, especialmente a imperial, receba seu devido valor. “As pessoas não lêem mais nada, jovens passam horas vendo vídeos. Não é simples o interesse em história. Por exemplo, Maria I é conhecida aqui no Brasil como Maria, a Louca, bruxa. Foi assim que ela foi colocada pela TV Globo, pelos livros de História. Em Portugal, é conhecida como Maria Piedosa, muito boa rainha e a Rainha do Coração de Jesus. E Lula aboliu a Medalha da Princesa Isabel (respira fundo e bate os punhos cerrados na mesa) porque ela é branca. O Museu Nacional, em São Cristóvão, iria ficar horrível [se for restaurado integralmente apenas por fora como o projeto que publicamos aqui]. Quando tentaram colocar teto de vidro na Catedral de Notre Dame, os franceses se revoltaram. Tem que se restaurar exatamente como era”, ressalta.

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O príncipe – bisneto da Princesa Isabel – visitou o Arco do Teles, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores e deu uma voltinha pelas ruas do Rosário, Ouvidor e dos Mercadores. Conheceu a iluminação histórica recém restaurada na rua do Mercado, e os novos estabelecimentos da área, fazendo um tour completo pela região que mais relembra o período em que sua família dirigiu os destinos do país e chegando a falar um pouco de revitalização do centro.

1- Como acha que o patrimônio histórico e cultural é cuidado nos dias de hoje? Tem piorado o descaso?
DB: Infelizmente, não se dá o devido valor a toda riqueza do nosso passado e do Rio do tempo de Dom João VI, antes mesmo da Independência. Algumas provas são [o estado atual das] inúmeras e maravilhosas igrejas que há no Centro do Rio. Infelizmente, não se deu o valor devido. O Rio tem crescido de uma forma completamente diferente e as pessoas de melhor nível foram migrando para outros bairros e o Centro velho do Rio, onde tem as igrejas magníficas, está abandonado. O Centro velho do Rio, antigamente, era elegante. Quantas vezes eu fui ao Centro histórico do Rio fazer compras, pelo curto período que fiquei no Rio, com minha mãe, comprando roupas e outras coisas. Hoje, quase não existe mais…. Há exceções como a Igreja da Lapa dos Mercadores, está ficando magnífica, mas foi a iniciativa privada [que restaurou]. E a Sé Velha [na rua Primeiro de Março].


2- Como avalia o caso do incêndio do Museu Nacional? Era preferível ter entregado à iniciativa privada ou não? Onde começou o erro? E com a Capela de São Pedro, na UFRJ, que também pegou fogo?

DB: Na melhor das hipóteses, menos má das hipóteses, [ocorreu] um descuido na manutenção da parte elétrica, havia que evitar ter objetos inflamáveis no segundo andar. Na pior das hipóteses, e que uns levantaram, poderia até mesmo ter sido um incêndio criminoso. Restauração deveria ser como era antigamente, exatamente uma cópia. Isso é a Escola Europeia de Restauração: restaurar exatamente como era. Mas, aqui? Não, aqui tem plano de fazer uma coisa moderna, com vigas retorcidas, cimento e com tijolos aparecendo. Isso acho completamente errado. Seria muito mais econômico passar para iniciativa privada, O Governo economizaria.

3- Como avalia a importância histórica da região da Praça XV, ou Largo do Paço, para a nação brasileira?

DB: O Largo do Paço era o Centro do Rio de Janeiro e do Brasil. Porque era o Centro para o nosso Governo, que funcionava onde hoje é o Paço Imperial, e que depois passou ser Correios [e agora é um centro cultural especializado em arte contemporânea]. Tem uma parte que foi restaurada, mas não tem o esplendor que tinha antigamente. É uma pena. Os prédios todos se desconfiguraram completamente. De um lado tem o Paço, um prédio tradicional, bonito e interessante, atrai muita gente. Todo Governo funcionava no Paço da Cidade; como o Estado era enxuto naquele. Depois quase ao lado está a Catedral, a Sé Velha, o Convento, a Igreja de São José….E depois um conjunto de prédios que destoa completamente do que era antigamente a praça do Paço da Cidade. Era Governo, e também onde desembargou D. João VI; o chafariz [do Mestre Valentim], que já havia, se mantém, mas não tem mais água… portanto, esse Centro deveria ser mais valorizado, como ocorre nas cidades das capitais europeias, onde procuram manter tudo como era, e é muito valorizado. Com toda certeza, o turismo iria aumentar! Com toda certeza. Como o pessoal vai visitar, por exemplo, os monumentos históricos da Bahia, as igrejas, catedrais, os conventos etc…. Ninguém vai à Bahia, precisamente a Salvador, para visitar os prédios modernos. Eles vão lá para visitar o Brasil como era antigamente, com todo esplendor, sim!

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4- Qual tipo de medida os governos poderiam tomar para que haja maior aproximação e interesse na história imperial?

DB: Quem não sabe de onde vem, não sabe para onde vai. Infelizmente, deixaram complemente de lado o nosso passado glorioso. Nem em país comunista fizeram isso. Na Rússia, os governos restauraram à perfeição os palácios; na China, são mantidos lindos. A parte mais tradicional do Rio de Janeiro está abandonada e está em um nível muito baixo, algo que poderia ser o maior ponto de atração do Rio de Janeiro.

5- Por que o turismo histórico e religioso não vingam tanto no Rio? Quais igrejas ou monumentos que têm potencial para atrair esse tipo de público?

DB: Exatamente por isso! Não se deu valor. A elite mudou-se, foi primeiro para Urca, Botafogo, depois agora para Copacabana, Ipanema e depois a Barra. Vão meio que migrando e os bairros “passam”, e uns ficam velhos. Não é fácil, mas a solução seria mesmo revalorizar o Centro Velho com seus monumentos e igrejas, palácios…. Locais em que as ruas são muitos bonitas, os prédios são antigos. E fazer até o que estão fazendo, por exemplo, na Alemanha, em Frankfurt, onde estão demolindo prédios construídos depois da Segunda Guerra Mundial, prédios vulgares, sem alma nenhuma, e estão reconstruindo exatamente como eram antes ou como houve em Dresden – na Alemanha também – cidade com maior bombardeio da história do mundo, na Segunda Guerra Mundial e que ficou arrasada; reconstruíram tal como era.

A Sé Velha e o Largo do Paço estão muito bem conservados, a Igreja [Carmo da Antiga Sé] foi restaurada. A Candelária é uma igreja bonita, muito simbólica no Centro do Rio. Agora, a Lapa dos Mercadores está sendo muito bem conservada: estão procurando a iniciativa privada para reconstruir uma série de casas ou valorizar lindas casas antigas, reconstruir, etc e isso é o que tem ser feito. Mas, o grande problema é o seguinte: uma vez que deixaram decair o Centro, não é tão fácil transformar do dia para noite. Iniciativa privada como foi a Igreja da Lapa dos Mercadores, por exemplo, é uma boa idéia: a igreja está magnificamente restaurada. Uma coisa muito elogiável também é a iniciativa que estão tomando com relação à Igreja São João Batista, da Rua Voluntários da Pátria. Está bem mantida, mas não como o que conheci há 50 anos. Quando estava terminando o secundário – os últimos anos fiz no Santo Inácio aqui no Rio – e ia comungar lá com muita frequência. E era uma igreja muito bonita. Agora foi restaurada, mas falta pintura, faltam as capelas laterais, não tem mais a total recuperação das coisas antigas, bem restauradas. Uma campanha para restaurar como era, é sempre iniciativa excelente. Tem que restaurar como era porque as coisas modernas ficam logo velhas, as coisas tradicionais, ficam antigas. É uma diferença muito grande.

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Foto: Daniel Martins – Diário do Rio


6- Em um comparativo com a Europa, nossas igrejas estão em que nível? Por que? Nosso povo é mais religioso do que os meios de comunicação fazem parecer?

DB: Não tem dúvida, o Brasileiro é muito mais religioso do que o europeu hoje em dia. A decadência religiosa na Europa está assustadora. Tenho um amigo que recebeu uma encomenda de um portador [entregador] na França e o rapaz viu que a porta estava aberta e, no fundo, tinha um crucifixo. Inacreditável: ele perguntou “o que é isso?” Isso no Brasil, não existe. Não é possível uma coisa assim, porque o povo é religioso. Mas, houve da parte de certas autoridades um certo descuido em valorizar as coisas religiosas, valorizar a liturgia, valorizar as igrejas e o resultado é o que estamos vendo.


7- Qual seu sentimento pelo Rio?

DB: Eu passei poucos anos na cidade; quando meu pai voltou do exílio da Europa [a família imperial foi banida do país em 1889] e chegou ao Rio de Janeiro eu tinha quatro anos e, com nove anos, meu pai mudou-se com a família para uma fazenda no Norte do Paraná, quando ali ainda era fronteira agrícola; não tinha eletricidade. Mas, sempre conservei boas lembranças da infância, como relatei; vir fazer compras no Centro com minha mãe era uma alegria. Todas as famílias iam fazer compras no Centro. E tenho muita recordação disso. Depois, terminei o curso secundário no Colégio Santo Inácio do Rio. E me lembro bem a tranquilidade que era viver no Rio, os bondes, as pessoas que viajavam para fazer percurso de pé no estribo do bonde, o motorneiro, o cobrador. Havia algo da cidade que eu achava encantadora, e eu gosto muito do Rio. Nós almoçamos, na última vez, com um amigo no restaurante Albamar, que é um restaurante extraordinário, também pela vista que se tem da Baía de Guanabara. O Rio foi o primeiro lugar do Brasil que conheci; nós voltamos em 45, quando teve a rendição e capitulação da Alemanha. Quando viemos da Europa para o Brasil, eu era muito menino; tinha medo de que um submarino japonês, no Atlântico lançasse torpedo contra nós; quando se fala em torpedo, inimigo aos quatro anos? Não há. Parece pesadelo. Mas, cheguei ao Brasil logo quando tinha terminado guerra, com sentimento especial por estar chegando ao meu país, pela primeira vez. Rápido me apaixonei pelas paisagens do Brasil, ia ao Pão de Açúcar, não esqueço as caminhadas com meu pai que ficou alguns anos morando na Urca. Nós saíamos depois do Jardim da Infância com minha mãe passeávamos a pé até aquela praça na Urca e íamos para a Praia Vermelha. Uma de recordação da infância: teve um certo momento em que um navio italiano, Translântico de grande luxo, sofreu um acidente, um descuido do imediato que estava no comando do navio, e chocou-se com um recife, uma pedra embaixo do navio. E o navio quebrou-se, assim, em dois, e rebocaram uma parte: parte afundou e parte foi rebocada. E ficou lá posta em uma praia de Niterói, em frente à Praia da Urca. Então, nós observamos aquele naufrágio, uma parte navio, outra ficou rebocada. Uma de mil recordações de infância do Rio.

8- Faltam parcerias para que os portugueses tenham mais interesse em conhecer o que criaram no continente quando visitam a cidade?

DB: Os portugueses têm uma ligação com o Brasil porque nunca houve um verdadeiro rompimento com Portugal. Existem muitas coisas no Brasil, como este Centro Velho, coisas do tempo do Brasil Colônia e do tempo do Brasil Império. Há uma diferença fundamental de como foi feita nossa independência, porque, enquanto em nossos vizinhos panamericanos as independências foram feitas de forma sangrenta, a nossa não. Houve uma naturalidade, ela foi feita por um filho a conselho paterno. Dom João VI ao seu filho Dom Pedro I, desde o governo de Portugal, nomeou-o regente do Brasil. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde, o Brasil seria independente, e já estava com isso na cabeça quando foi embora. E disse ao filho, conselho de pai: se for pra fazer independência, ponhas tu esta Coroa, antes que um aventureiro o faça. Foi tranquilo, e a falta de uma ruptura violenta, isso faz com que os portugueses tenham interesse no Brasil, até porque de fato o Brasil era a joia da coroa.

O Brasil, a partir de 1640, passou a ser o estado do Brasil e o herdeiro do trono de Portugal passou a ter o título, assim com príncipe de Gales que é o herdeiro da Coroa Britânica. Então, o príncipe herdeiro da Coroa de Portugal tinha o título Príncipe do Brasil.


9- Para o senhor, o que é sinônimo de Rio? Qual a característica do carioca que o senhor mais gosta?

DB: Sinômino do Rio é a linda paisagem. Não conheço cidade do mundo com paisagem tão bonita quanto o Rio; no fundo, a Serra dos Órgãos, o Pão de Açúcar de um lado, o Corcovado; as próprias vistas do Rio são maravilhas, e a vista de Niterói é uma vista encantadora. E este encanto ficou pra sempre na minha alma. Tenho maior apreço pelas maravilhas do Brasil, as maravilhas dadas por Deus ao Brasil.
Já o carioca é um povo bonachão, é bondoso, amável, tem os seus valores um pouco diferentes dos do paulista, mas também trabalha, se esforça etc. Carioca conversa, caminha junto, aqui todos se dão bem.

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Dom Bertrand com a repórter Amanda Raiter / Fotos: DIARIO / Daniel Martins



10- Qual a importância da peregrinação da imagem de nossa senhora de Fátima, e porque o senhor escolheu o Rio de Janeiro e o Corcovado para a importante cerimônia consagração do nosso país ao Coração de Jesus?

DB: São duas partes diferentes, já tinha planejado esta cerimônia de consagração com o dom Luiz, e já temos isso em vista há muito tempo. Aliás por recordar-me de uma conferência feita por um professor, em que lamentava que o rei Luís XIV não ouvira Santa Margarida Maria que lhe passara a mensagem do Sagrado Coração pedindo que o monarca lhe consagrasse a França. Se tivesse feito a consagração, não teria havido as consequências, os castigos da Revolução Francesa.

No caso do Brasil, essa consagração já tinha sido feita pela rainha de Portugal, Dona Maria Primeira, no século XVIII ainda. E a minha intenção foi renovar isso porque foi feita a consagração de Portugal e todo mundo usa, mas não foi uma consagração específica do Brasil, pois o país não era independente à época. Vendo as ameaças pairavam sobre o Brasil, Dom Luiz e eu tínhamos em vista esta cerimônia. Nós temos esta obrigação, que nós da família, fizéssemos a Consagração. Dom Luiz faleceu. Eu passei ser o chefe da Casa Imperial e uma das minhas primeiras preocupações foi esta. “Vamos fazer essa consagração com a ajuda de bons amigos”. Nós planejamos tudo. Tivemos o apoio da Imperial Irmandade dos Homens Pretos do Rio de Janeiro, do Brasil Paralelo, do Instituto Cristo Rei, Centro Dom Bosco, do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e do padre Omar do Santuário do Cristo Redentor. E evidentemente, cabe aqui um agradecimento carinhoso ao padre; ele fez todas as coisas – estava preso na consagração – e à equipe dele, que ajudou muito em todos os preparativos, sou muito grato ao Padre Omar e toda equipe do Santuário, e à Arquidiocese do Rio de Janeiro…

11- Tem um restaurante favorito na cidade?

DB: O Rio de Janeiro era uma cidade muito tranquila e muito bonita, era Capital Federal e tinha gastronomia especial, com grande apreço. Eu me recordo e tinha vários restaurantes prediletos como o Rio Minho, o Albamar e tinha também um restaurante em um prédio ao lado do aeroporto Santos Dumont e que era perto do prédio da Aeronáutica, de onde saíam as Barcas que levavam os passageiros dos aviões que iam até o Galeão. De lá via a ponte, então eu me recordo; coquetéis de camarões excelentes, que eu nunca esqueci. E tem outros também muito bons, mas tem um do passado, o do Hotel Glória, né? O Restaurante do Glória, o restaurante do Glória, era muito bom! Foi uma pena não ter sido restaurado.

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12- O que pensa quando picham ou depredam um patrimônio histórico? Acredita que o endurecimento de leis e punições poderiam melhorar este quadro?

DB: É um crime, é um crime! Com toda certeza é preciso mais segurança e cuidar pra que não haja mais depredações. Por exemplo, agora, recentemente houve pichações, mais uma vez, no monumento da Princesa Isabel em Copacabana. Há pouco tempo atrás, não existia tanto este problema.

13- Hoje, um estrangeiro ao vir a cidade, dá pra acreditar que ela já foi capital do Império e também capital do Reino Unido?

DB: Quem anda pelo Centro Velho tem a Sensação que o Rio de Janeiro foi capital de Portugal, depois do Império, e foi a Capital Federal até a mudança para Brasília, mas aqui tinha alma, alma que Brasília ainda não tem. Há um poeta que diz: Brasília não tem esquina, as pessoas não têm onde conversar. Aqui, tinha e tem, no Rio, há pontos pitorescos e pontos interessantes.



14- Há historiadores que acham que o Paço Imperial, onde a Lei Áurea foi assinada, é subutilizado. Que tipo de uso poderia ser mais compatível ao valor histórico?

DB: Eu acho que o nosso Paço devia ser restaurado como Patrimônio Histórico que foi. A assinatura da Lei Áurea foi no prédio do Paço da Cidade; Dom João VI, Dom Pedro I, Dom Pedro II moravam no Paço de São Cristóvão, mas o prédio do governo, a parte efetiva do governo, era o Paço Imperial. Era o Paço da Cidade. Pedro II vinha todos os dias da semana, do São Cristóvão até o Paço Imperial. Que se procure revitalizar aqui no Rio, em todo o possível, o Brasil como foi feito, atrairá muito turismo.

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Formada em Comunicação Social desde 2004, com bacharelado em jornalismo, tem extensão de Jornalismo e Políticas Públicas pela UFRJ. É apaixonada por política e economia, coleciona experiências que vão desde jornais populares às editorias de mercado. Além de gastar sola de sapato também com muita carioquice.
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18 COMENTÁRIOS

  1. A monarquia é o restolho da História, uma forma de governo ultrapassada, elitista, anti-povo, para além de seu passado escravista que maculou a história do Brasil. Já foi inventada a República, onde o povo é soberano e não uma família que se apropria das riquezas do país. Lamentável o Diário do Rio pautar e legitimar, em tempos de reacionarismo fascista, o retrocesso da falácia monárquica desconsiderando toda a exploração e o genocídio dos povos originários que esta família promoveu. Viva a República!

  2. “Casa Real Brasileira” é esforço do mau-caratismo descoroado. Fazer analogias às casas reais europeias, e à imperial japonesa, só pode ser fruto podre do historialismo de colonizados e do jornalismo elitista servil aos interesses da elite do atraso brasileiro. O Brasil é um país multiétnico-cultural, de origem, nos seus ancestrais e milenares povos originários, indígenas de diversas etnias e tribos, amalgamado às etnias africanas, que para cá foram diasporizadas às marras pela escravização imposta pelos invasores e dominadores “colonos” europeus, de matriz portuguesa, que até hoje se acham os “brancos” donos destas terras. As casas dos Bragança, Bourbon, Orleans e Habsburgos, cara jornalista, Amanda Raiter, não nos representam, aliás, desde 15 de novembro de 1889. Esse senhor Bertrand de Orleans e Bragança, ‘fala mansa’, deveria é se envergonhar da herança maldita colonial-monárquica e seu legado de desigualdades e iniquidades sociais. As únicas casas reais, que os brasileiros aceitam, se divertem e respeitam, é a de Momo, ‘O Rei do Carnaval’, em coexistência pacífica, e não menos aceita e enaltecida, com a do Pelé, Edson Arantes do Nascimento, ‘O Rei do Futebol’. Viva a República Federativa do Brasil!

      • A República foi proclamada por um golpe da elite da atraso. Isso não significa que hoje, século XXI, apoiemos a volta da monarquia, golpes e a elite do atraso, seja essa elite latifundiária ou conservadora urbana. Não me venha querer me dizer o que sei, ou não sei; leio, conheço a história do Brasil e me interesso por história geral. Estudei e ainda estudo muito, meu caro, Quintino. Nada justifica a manutenção, quanto mais a restauração de monarquias, no mundo contemporâneo. Não há, nem antropologicamente, nem cientificamente, quanto mais sociologicamente, o que justifique que seres humanos se achem superiores intrinsecamente, por DNA, por escolha divina, a outros seres humanos, e quem assim pensa é mau-caráter, tem desvio de caráter ou algum problema de ordem cognitiva, como o negacionismo às ciências e à evolução e desenvolvimento das sociedades humanas. Países e nações que seguem mantendo monarquias têm interesses conservadores, intrínsecos e extrínsecos, que vão dá construção de suas sociedades até os atuais interesses comerciais e turísticos, que economicamente pouco significam, a não ser a arrogância de um passado colonialista e imperialista, cultivado nos seus respectivos nacionalismos, o que não tem qualquer relação com o Brasil e a constituição do povo brasileiro, um país jovem, multiétnico-cultural, que não tem pertencimentos, vinculados e vinculantes, às casas monárquicas europeias, a não ser no que tange a nossa história colonial de escravagismo e brutal dominação, exploração e roubo das riquezas nacionais, que enriqueceram parte da Europa. Não vou me estender, porque isso aqui não é uma classe de estudos da história do Brasil. Se a Grã-Bretanha apresenta sinais visíveis (e invisíveis) de desgastes e oposições à manutenção de sua monarquia, os franceses e os portugueses extinguiram a deles, o Japão não tem mais o seu imperador com divino, por que os brasileiros haveriam de querer restaurar uma monarquia, cuja ‘casa real” é de origem europeia? Isto aqui não é a Espanha! E pergunta, se algum hispânico, da América Latina, quer uma monarquia nos seus estados nacionais? Só sabujice, e muita idiotice, responde a questão, e obtusos interesses reacionários, dos que defendem monarquia no Brasil. Ademais, meu caro, defender restauração monárquica é crime contra a Constituição da República Federativa do Brasil. Quanto à República, seguiremos aperfeiçoando, lutando contra golpes, consolidando a Democracia, desenvolvendo a cidadania, contendo privilégios, dissolvendo a absurda concentração de poder e renda e defendendo o nosso Estado de direito e bem-estar social. A República é uma construção coletiva, ‘res-publica’, do povo, não de clãs, e está sempre em construção, com avanços e retrocessos, contudo, melhor do que quaisquer arranjos monárquicos e/ou tentativas aristocráticas de novamente reduzir cidadãos e cidadãs à réles súditos de pretensas majestades.

      • Ah! Caríssimo Quintino Gomes Freire, e nunca nos esquecendo de sermos anti-racistas, lutarmos contra todos os tipos de preconceitos e por mais qualidade de vida para todos nós! Saudações Republicanas Democrático-Populares e Socialistas! Aquele abraço! Paz e Bem!

  3. Apesar de sempre o Diário do Rio ter servido para fins de defender o restabelecimento da Monarquia no Brasil, deveria deixar de lado matérias do tipo que apresenta a família que um dia foi, como se fosse (ainda) ou tivesse (ainda) algum direito.
    Não existe Casa Imperial no Brasil eis que não há Monarquia no Brasil.
    Defender o contrário é anticonstitucional.

  4. Parabéns pelo profissionalismo ao fazer esta entrevista. Respeito a história é fundamental. Quando nos esquecemos ou nos envergonhamos da nossa história temos idiotas como este que comentou acima (“Caio”).

  5. Lamentável que um visitante dê uma entrevista falando mal da cidade. Também acho que precisa de conservação e segurança, mas daí falar em Regime, para associar todos os males à República e insinuar que a Monarquia é solução, é patético. Como viviam as populações carentes, de baixa renda no período monárquico, em palacetes bem situados? Para onde foram os escravos libertos? Como formaram-se os morros do Rio de Janeiro? Ora, ora… Oportunismo.

    • Justamente por você desconhecer a nossa história, em especial a do rio é que comenta tais bobagens.
      Se tivesse o mínimo de conhecimento saberias raramente havia um assassinato na cidade a época imperial, que boa parte dos negros aqui residentes a partir da década de 70 eram alforriados e trabalhavam, e que apesar de haver um pedinte ou outro, estes tinham cobertura da santa igreja mas boa parte da população tinha um teto para abrigarse. Nem tudo era perfeito mas havia uma ordem.
      Após república foi caos atrás de caos e estamos enxugando gelo desde então.

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