Nova Friburgo, cidade serrana do estado do Rio, enfrenta constantemente a ameaça dos escorregamentos de solo. Em um triste episódio do dia de janeiro de 2011, a Região Serrana do estado, especialmente Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis, foram assoladas por fortes chuvas que desencadearam uma série de deslizamentos, resultando em uma tragédia que tirou a vida de cerca de mil pessoas. Este evento trágico foi documentado em uma reportagem especial pelo DIÁRIO DO RIO, em abril de 2022.
De acordo com Manoel Vieira *, arquiteto e urbanista com especialização em Patrimônio Cultural, o Governo do Estado já havia identificado, no final de 2010, áreas de alto risco, que englobam não apenas Nova Friburgo, mas também Petrópolis e Teresópolis, por meio do Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro. Entre 2010 e 2013, o Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro continuou aprofundando os estudos, publicando um mapeamento das áreas de risco iminente a escorregamentos. Esse mapeamento alarmante apontou que quase dez mil casas e mais de trinta e oito mil pessoas estavam expostas ao perigo de deslizamentos de encostas em 85 dos 92 municípios fluminenses, com Nova Friburgo figurando como um dos casos mais críticos.
Manoel ressalta que é comum o uso do termo “desastre climático” para descrever o que ocorreu em 2011. No entanto, ele enfatiza que tais acontecimentos não são exclusivamente resultado de fenômenos climáticos excepcionais, mas sim estão diretamente ligados à negligência e à permissividade dos órgãos públicos em relação ao uso e ocupação de áreas de alto risco geológico.
Recentemente, durante uma investigação na área, Manoel Vieira testemunhou em primeira mão um exemplo preocupante da falta de regulamentação e fiscalização. Ao viajar de Macaé de Cima pela Rua Hans Garlipp, em Mury, aproximadamente a 8,5 quilômetros da RJ-116, ele se deparou com um caminhão carregado com toras de eucalipto. Essas árvores haviam sido cortadas em um trecho considerável da mata, localizado no ponto mais vulnerável da montanha. Manoel afirma que não fizeram corte seletivo e tampouco em período adequado e em quantidade minimamente razoável, cortando a mata nativa, dentro da APA Estadual de Macaé de Cima e na zona de amortecimento do Parque dos Três Picos.
Ainda segundo o arquiteto, na estrada, há uma placa que indica que o INEA autorizou a atividade.
Por conta da umidade alta e a proximidade com as baixadas litorâneas, aliado ao relevo acidentado e a vegetação, a Região Serrana do Rio, especialmente cidades com Petrópolis, podem ter a maior incidência para desastres naturais do Brasil, como já foi apontado por inúmeros especialistas .
* Manoel Vieira é arquiteto e urbanista, conselheiro do CAU-RJ, especializado na área de Patrimônio Cultural, foi superintendente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Rio de Janeiro e diretor geral do INEPAC, órgão estadual do Patrimônio Cultural.
Alguém pode informar ao ‘ispecilista’ que o corte autorizado do eucalipto (uma espécie exótica) se dá dentro das normas ambientais e que o eucalipto rebrota para novo corte?!